domingo, 26 de julho de 2009

Navegar eh preciso

Nao. Me recuso a fazer um outro blog porque decidi voltar a escrever. Vamos retomar daqui mesmo.

Sinto vontade de falar sobre tudo, todo o tempo. O problema eh quando sento em frente ao computador. Sou terrivelmente dispersa, e minha inspiracao desaparece em meio ao vicio das redes sociais, e-mails (pra ler, ja que nao tenho escrito nada) e ate novela brasileira pelo youtube. Nao me atirem pedras, todo mundo tem seus podres, vai!

Nunca sei por onde comecar. Quero atualizar os que estao longe, contar da minha vida, dos babados, dos planos. Ao mesmo tempo, quero descrever as verdadeiras personagens que sao os clientes do bar em que eu trabalho. Ou meu chefe libanes e bipolar. Ou, de novo, do colorido quase artificial das flores do verao ingles. Ou da invasao espanhola (e adolescente) que se nota pelas ruas de Bournemouth.

Ok, vamos falar de tudo, why not?

Observacao: as vezes escrevo expressoes em ingles porque me da vontade. As vezes, porque esqueco como escrever certas palavras em portugues. Tenho uns "blackouts" e, agora que escuto (e tento hablar) espanhol mais de metade das 24 horas do meu dia, sinto que a situacao ta ficando delicada.... ja desco do onibus dizendo "gracias" ao motorista. Outro dia descobri que uma das pessoas com quem eu tenho que falar ao telefone, do trabalho, eh brasileira. Ahi me senti meio ridicula de mandar e-mails en ingles, e fui escrever em portugues. Desastre! Nao sabia muito bem como ser formal, como escrever um e-mail profissional, e tal. Acho que ela, por morar ha muitos anos aqui, tambem nao soou muito confortavel e, ao final, acabamos voltando à comunicacao em ingles. Depois disso, percebi mais do que nunca que eu tenho que alimentar meu blog, pelo menos. Eh claro que eu nao vou esquecer a minha lingua, e eh claro que se eu passar a cometer erros eh por pura falta de atencao, mas nao me restam duvidas de que praticar eh a melhor saida pra manter tudo nos conformes. :p

Comecando pelo resuminho meio boring: to feliz, mas meio neurotiquinha como sempre. Pra quem perdeu o correr do barco, estou aqui ha 1 ano e 4 meses. Pra mim, parece muito mais. Fiquei soh um mes vivendo e trabalhando de au-pair numa casa no meio do nada (da qual, acreditem, tenho otimas lembrancas e acredito que as levarei comigo pra sempre). Ahi fui convencida e resgatada pela Vanessa, minha amiga de infancia, a vir pra Bournemouth, onde ela vive ha uns bons anos. Estou aqui desde entao. Again, to feliz.

Quero mudar coisas, quero fazer coisas, sigo com alguns dos mesmos dilemas de um ano atras, e com muitos outros novos. Mas, ainda assim, tudo vai muito bem, obrigada. Morei com gente de um monte de lugar diferente, fiz amigos do mundo inteiro, me despedi da maioria deles, achei que ia aprender a lidar com as idas e vindas da vida, but I´m not sure about that yet.

Ja pensei que ia morrer de saudade, sosbrevivi. Fiquei meses sem sair de balada, depois entrei na fase mais festeira e alcoolica da minha vida. Passei meses sem me apaixonar, achei que tinha descoberto a receita da tranquilidade, e acabei falling in love por alguem completamente diferente de mim.

Ja enchi a boca pra falar que nao moraria com brasileiros, e divido apartamento com as minhas amigas de infancia. Comemos arroz, feijao preto e farofa yoki as vezes, e me encanta. Paguei academia por meses, fui umas 4 ou 5 vezes, desisti, e acabei ganhando uma bike de presente. Rosa choque e roxa. Tomei um tombo lindo logo na primeira semana, mas acho que ninguem viu.

Larguei meus velhinhos do asilo, mas lembro o nome de cada um. Quero escrever cartas pra alguns deles, mas claro que isso eh soh mais um dos itens da longa lista de coisas que eu desejo fazer e nao faco por pura preguica (e depois fico me culpando pro resto da vida por nao ter feito).

Penso na minha terapeuta sempre tambem, quero escrever tudo pra ela, das minhas historias reais e das minhas imaginarias, ahi fico achando que isso poderia dar um livro, mas - de novo - nao o faco. Ouco a trilha sonora de Amelie Poulain ate hoje, e sinto vontade de chorar, de viver, de ter asas e sair voando, de sair pelo mundo distribuindo amor, ou as vezes de chorar quietinha sentada na beira de um rio.

Sinto saudade da minha familia, e sinto medo de nao querer voltar a viver no Brasil. Amo meus pais mais e mais a cada dia que passa. Dou mais valor a eles e menos à mim e às minhas chatices de adolescente. Me arrependo de um monte de coisas. Ao mesmo tempo, nunca pensei tanto em mim. To aprendendo, a passo de tartaruga, a fazer minhas proprias escolhas e assumir as consequencias. Mas, ainda assim, ligo pra minha mae, meu pai, meu irmao e minha irma pra saber o que eles acham do meu namorado e dos meus planos de mudar de país.

Me deslumbro ate hoje com a beleza da praia de Bournemouth. Fiz bronzeamento artificial pela primeira vez na vida, fiquei toda feliz com a minha marquinha, li uma materia sobre o perigo de cancer de pele, e desisti pra sempre. Mas fui recompensada por Sao Pedro com duas semanas de sol e calor a la Brasil, e pude ate nadar no mar que no verao passado me congelava ate os ossos soh de colocar os pes na agua. Agora ja ta chovendo e ventando la fora, mas eu nem acho de todo mal. As vezes.



Danco Akon na balada, tenho pensamentos ridiculamente romanticos com Beyonce no radio, trabalho com Maria Rita no fone de ouvido por horas e canto alto quando estou sozinha no escritorio e tenho todos os cds do The Killers e Strokes no celular, os quais eu nao paro de escutar nem na hora do banho.

Tenho pelo menos tres amigas gravidas no Brasil e mais umas tres casando. Fico emocionada por elas, um pouco triste por nao poder compartilhar tudo de perto e, eventualmente, pensando que meus filhos serao os mais novos da turma quando eu colocar em pratica meu sonho dourado de reunir meus amigos sempre que possivel pela vida afora (e desse sonho eu nao vou desistir, podem escrever ahi pra voces verem!). Por favor, meninas, guardem os proximos filhotes pra mais tarde pra eles poderem brincar com os meus!

Ainda tenho problemas graves de auto-estima, mas me sinto mais confiante em alguns aspectos. Sigo trabalhando no restaurante turco, mas tambem em uma agencia de "students services", a gente traz estudantes da Libya e matricula eles nas escolas no UK, encontra host-families e tal. Sofri a maior crise de stress da minha curta historia na Inglaterra, porque meu chefe eh um louco e dotado de um talento altamente impressionante de fazer os outros ficarem nervosos, deprimidos, neuroticos e paranoicos - como ele. Pedi pra deixar o trabalho, mas ele acabou me convencendo de ficar meio periodo. Afinal, suporta-lo 4 horas por dia nao eh o mesmo que 8. Foi melhor assim, ate que to conseguindo lidar.

As vezes me pergunto o que eu to fazendo aqui, trabalhando, me divertindo, sendo feliz, tendo problemas comuns, reclamando que to gorda, tomando porre na balada, com saude, namorado e comida na mesa, enquanto o mundo ta ahi todo virado do avesso. Ahi quero fazer alguma coisa, mas nao sei quando, nem por onde comecar, me sinto um lixo, depois esqueco, depois volto a pensar, depois esqueco de novo.

Tambem planejo estudar de novo, mas nao sei se foco no ingles, ou se ja tento algo mais especifico, mas tipo o que, se eu nao sei - ate hoje - o que eu realmente quero? Ahi vou à universidade, pesquiso tudo, me animo, me sinto forte e decidida, ate que algo me distrai, ou chega a tpm, a ideia fantastica de viajar e aprender outra lingua, ou quem sabe um master na Espanha? Ahi toca procurar universidades de novo, e a praticar espanhol, e a envolver todo mundo nos meus sonhos que nao saem do papel. Ate o proximo plano aparecer, ou todos os outros desmoronarem por falta de cimento. Mas nao, nao desisti e nao vou aceitar esse comportamento de quem tem uma quedinha pelo fracasso. Eu nao tenho nenhuma, e com todos os altos e baixos, ainda tenho os sonhos, e ainda tenho a juventude, ainda tenho minhas pernas pra seguir caminhando, e meus olhos pra enxergar la na frente. Nao vou desistir nao. Pelo menos essa parte eh boa de ser taurina... minha teimosia as vezes me ajuda a seguir. E, no final de tudo, de uma coisa eu nao desisti, entre todos esses sonhos comecados e abandonados: o de sair do ninho e ver um pouquinho do mundo. A unica coisa eh que depois que tu realiza um desejo, se convence de que pode fazer isso de novo. E ca estou eu, sentindo fortemente que esse pouquinho de mundo que eu queria ver foi INCRIVEL, mas nao suficiente. E que, neste momento (Obrigada, Deus!), nada me impede de ver mais.

Lets wait for the next destination, then.