quinta-feira, 21 de agosto de 2008

E sigo...

PRA COMECAR

Ja que nao rola vontade de falar da minha vida, porque a vida aqui nao muda muito depois dos primeiros meses de surpresas e descobertas, vou tentar voltar a falar um pouco da Inglaterra.

Soh nao sei se, no final da divagacao, eu vou ficar com mais vontade ainda de ir embora, ou se da pra fingir um animozinho com relacao a esse pais CHATO. Ta bom, pode ser que exista uma "crise dos 5 meses", pode ser que ja passe (e na verdade eu realmente acredito que passe), mas a verdade do momento eh que eu estou convencida de que nao gosto muito daqui.

Nao ha duvidas, a Inglaterra eh chata! Eh bonita pra visitar, tem paisagens incriveis, tem cidades dignas de serem conhecidas por todo mundo, carrega historias incriveis e pessoas com historias incriveis (me refiro aos velhinhos que passaram pela Grande Guerra e ainda estao aqui pra contar). Mas de resto, to be honest, eh um verdadeiro tedio.

O tempo eh realmente massacrante e falo isso em pleno verao, quando as pessoas estao incrivelmente alucinadas com uns raros dias de sol. Nao achei que o tempo fosse TAO capaz de deprimmir, ou de animar. A chuva e o cinza definitivamente geram sentimentos de tristeza, de aperto no peito, de saudade aguda a ponto de quase nos convencer a ir embora. Fico pensando no inverno, e confesso ter medo dele. Ou melhor, medo de mim passando por ele.

Alem disso, acho que o que mais incomoda sao os ingleses. Eu tento, tento, juro que tento. Mas em 5 meses nao consegui achar pessoas interessantes. Com rarissimas excecoes de amigos que eu faco questao de manter (um ou dois), os ingleses nao me atraem. Nao, nao to falando de homem (embora essa tambem seja uma verdade das mais absolutas). Estou falando de pessoas, de papos, de personalidades que me interessem. E quem conhece, sabe: pra me despertar empatia, basta ser humano. Pra eu querer conhecer, conversar, estar junto, gostar, as vezes bastam 5 minutos. Mas nao aqui. Eu ate tento, faco amigos na balada e saio depois, sobria, pra conhecer melhor e tentar acabar com o estigma, mas ate hoje nao deu certo. Nao ha no mundo povo mais sem graca. Nao to falando isso em tom de preconceito, de forma nenhuma, mas eh uma simples (e irritante) constatacao. Nao tenho paciencia pra ingles. Se bem que nao ando tendo paciencia pra turco, pra arabe, pra colombiano, coreano, chines e sequer pra brasileiro mala (que tem aos montes). Opa, sera que o problema eh comigo? Eu juro que eu queria colocar todo mundo durante um dia, soh um dia, tendo que assistir aula com a minha sala, andar na minha rua (praticamente um reduto ingles do oriente medio) e ir trabalhar la no asilo. Garanto que iriam me entender.

Mas ta bom, to soh desabafando, prometo que vou respirar fundo e passar pela crise e me focar no objetivo. Na verdade nao to pensando em desistir, longe disso. Soh queria mudar de pais (com acento agudo, deixemos claro, porque meu pai e minha mae eu nao mudaria por nada!). Nao sou obrigada a gostar daqui. Sou?

PS: acabamos de constatar o que ja sabiamos: eu realmente soh consigo parar pra escrever quando to na fossa. Ma nao eh nada grave, gente, prometo.


...OVERVIEW...

Tirando isso, ta tudo bem. Desculpa ser repetitiva, mas preciso falar que meus amigos sao a coisa mais deliciosa da minha vida. Nao sei o que seriam desses dias sem eles, especialmente a "familia" Van-Rafa-Mah.

Passei por um luto antecipado porque o Ra nao ta suportando toda essa chatice e vai voltar pro Brasa muito antes do esperado. Passei dias e dias sofrendo, com o coracao apertado soh de pensar na nossa vida sem ele aqui. Foi horrivel mas foi bom, porque fiquei tao triste que decidi encarar de uma vez essa dura realidade de viver fora: as pessoas vao e vem, todo o tempo.

Despedidas viram parte da rotina, e nao ha nada mais adequado pra se praticar "a arte do desapego". A gente vai morar em outro pais e pensa que vai ficar independente, aprender mais do que nunca a se virar sozinho e tudo mais. Soh que quanto mais perrengue, mas voce se apega a quem esta proximo. E quanto mais voce se apega, mais dificil eh a despedida. Pra pessoas assim como eu (90% emocao e 10% razao), entao, eh algo a ser trabalhado mesmo. Otherwise, vou viver dia a apos dia amargando ausencias antes mesmo delas acontecerem.

Depois de todo esse processo resolvi, enfim, aceitar e parar de sofrer. Aproveitar cada diazinho ao lado de cada pessoa especial que passar pela minha vida, e pronto. Quando a saudade bater, a gente sente e depois passa. Alias, se tem algo que somos obrigados a suportar, engolir com farinha mesmo, eh a saudade. Mas tem dia que ela quase vence. Tem dia que se rolasse um dinheirinho sobrando na conta, ele viraria uma passagem LONDRES-SAO PAULO e la eu estaria sem um aviso sequer. Mas nao sobra o tal dinheirinho, e acho que tudo deve ser meio pre-programado pra que as coisas acontecam no seu devido tempo.

E assim seguimos, todos nos, cada um com seus momentozinhos ruins e outros nem tanto, aguentando o tedio e as eventuais diversoes dessa terra chatinha, mas que ainda vai fazer falta um dia.


RAPIDINHAS SOBRE ESSA TERRA ESTRANHA

Ja falei que essa historia de pontualidade inglesa nao eh 100% verdade? Os onibus sao irritantemente desorganizados, nunca passam no horario e soh nao ficam muito cheios porque se tem 3 pessoas de peh o motorista ja ignora a galera que ta parada no bus stop e nao deixa mais ninguem entrar ate que os outros descam. Falando em motoristas, eh legal que aqui eles tem a maior moral. Se tem mulecada dentro do busao fazendo muita zona, nao eh raro os caras pararem o onibus ate alguem pedir desculpas ou descer. E, de maneira geral, mesmo adolescentezinho chato metido a malandro acaba respeitando os caras.


Falar que aqui nao tem transito tambem nao eh das maiores verdades. Estamos numa cidade relativamente pequena e ha tres ocasioes que o transito chega a te atrasar para compromissos ou te tirar realmente a paciencia: SOL (o mundo inteiro resolve ir pra praia ou mesmo sair na rua e vira um caos total); CHUVA (nao entendo porque, ja que nao temos enchentes, mas bastou chover pra se formarem filas inacreditaveis nas ruas); e HORA DO RUSH (sim, especialmente perto das seis da tarde, pode encostar a cabeca no vidro da janela e dar uma dormidinha, porque vai demorar pra chegar onde quer que voce esteja indo).


Os ingleses tem meio que um pessimismo acoplado na personalidade deles e que se manifesta quase involuntariamente. Exemplo? Voce encontra alguem e fala "Hello, Fulano! How are you???" (com o maior sorrisao brasileiro na cara). A resposta? Em pelo menos 80% dos casos, deve ser "not too bad, thank you..." (com uma cara de "eh, bom nao ta...").

Nao, gente, fala a verdade: falar que "nao ta taaaao mal" ao inves de "tudo bem" eh muito depressivo, na boa. Falar de vez em quando va la, mas pra eles essa resposta eh a normal, a de quando ta tudo bem mesmo, nada de especial. Sinceramente, acho de uma negatividade isso... porque, por acaso o estado normal das pessoas eh estar mal, eh isso que eles usam como base?

Ta, eu sei que eh soh uma expressao, mas eu acho que usa-la toda hora implica numa carga "nao tao boa"... (olha eu tentando ser zen depois de escrever linhas e linhas de lamurias).


Ha diversas maneiras de falar "sobremesa". Pode ser dessert, pode ser sweet, pode ser pudim e outras coisas mais. JA pedi pra me explicarem a diferenca (especialmente porque pudim, pra mim, era pudim mesmo, e nao eh), mas me falaram que nao tem uma diferenca propriamente, voce pode usar qualquer uma das palavras que pode servir pra designar uma torta, um bolo, um creme, ou qualquer outro doce que voce sirva depois do almoco ou jantar.


Eles estao tao acostumados a tomar cha (com leite, geralmente) o dia inteiro, que nao eh apenas pela tradicao e muito menos as cinco da tarde. Sao xicaras e xicaras durante o dia, milhares, e o curioso eh que pra eles, serve para matar a sede. Sim, tipo um copo de agua. Aquela mega xicara de cha com leite fervendo, e eles tomam dizendo: "aaaahhh, que delicia, nao estava aguentando de sede!".


Alias, falando nisso acho que nunca vi um ingles tomando agua, a nao ser as minhas velhinhas, um unico gole pra engolir comprimidos. Ah, e a maiora esmagadora das pessoas aqui toma agua da torneira. No comeco eu tentei resistir, mas a essa altura claro que eu ja desencanei e, pelo menos ate agora, nao me deu nem uma dorzinha de barriga.


Sim, eles comem batata todos os dias. Todos os dias. Arroz eh rarissimo, mas batata eh algo assim... obrigatorio no cardapio.


Muita gente, mas muita mesmo, fuma cigarro de enrolar. Acho que eh porque eh mais barato, mas a questao eh que pra onde quer que voce olhe na rua tem sempre alguem bolando um cigarro. E eu, caipirona de primeira viagem, demorei uns diazinhos pra me ligar de que nao tinham mudado a lei e legalizado a maconha... mas ate isso acontecer nao pude evitar o pensamento: "gente, mas quaaaantaaaa gente fumando maconha! Olha aquela senhora, que malandrona, fazendo o baseado direitinho!".
Haha, como sou ridicula!

domingo, 10 de agosto de 2008

Resuminho Informativo

O bloqueio pra escrever continua, mas nao da mais pra ficar sem dar sinais de vida.

A vida esta busy, a cabeca mais ainda, mas de uma forma boa, planos e planos.

O trabalho no asilo continua, e cada vez melhor. Me tiraram da cozinha, a partir de agora nada mais de lavar e carregar pilhas e pilhas de pratos e panelas. Melhor assim. Os outros trabalhos la dentro sao menos pesados, e assim posso conseguir mais horas fazendo care, que eh o que eu estou definitivamente amando.

Ta sendo maravilhoso pra praticar o ingles, ta sendo maravilhoso por tudo. To quase fazendo um tipo de curso aqui que te da qualificacao pra poder trabalhar com idosos, mas nao um trabalho de care disfarcado como este que eu faco. Eles nos contratam como cleaner pra pagarem menos, mas na verdade deveriamos ser registradas como "cuidadoras" (nao consigo lembrar a expressao certa em ingles agora), entao se eu tiver a qualificacao, posso ganhar pelo menos o dobro e continuar fazendo algo que esta sendo gratificante. Mas, como sempre, sao planos, e de planos eu estou lotada, imersa num mar deles!

A vida deu uma virada, mudamos de casa de novo, e agora pelo menos serao mais dois meses nesta aqui. Mudamos eu, Rafa e Mah pra um unico quarto, nao eh tao confortavel, mas com certeza confortante. Nao canso de agradecer a Deus pelos meus amigos. Simplesmente me surpreendo a cada dia, seja com os que estao longe, os novos, ou os de sempre: eh muito, muito, muito amor.

A parte que esta "emperrada" eh a escola. Simplesmente a paciencia acabou, o cansaco do trabalho me derruba, nao consigo me manter acordada, mudei de turma e nao ha forma de rolar uma simpatiazinha que seja por ninguem (e olha que isso eh algo absolutamente raro). Paguei o curso ate outubro e estou me obrigando, mas tenho faltado horrores e me sentido muito culpada. Nao que eu tenha aprendido o ingles que eu queria, longe disso, mas as aulas tem me parecido cada dia mais chatas, e chatas, e chatas.

Em compensacao, resolvi tomar jeito e entrar na academia, levar a serio (alias, to levando muito mais do que a escola), e isso tem me feito um bem sem tamanho. Deus me ajude a nao permitir que a minha indisciplina me faca desistir mais uma vez.

Por ultimo, soh tenho a dizer que nao quero por as ideias na mesa agora, tem muita coisa rolando aqui nessa cabeca confusa, feliz, cheia de esperanca de que tudo muda sempre pra melhor!

E se ja esta tudo bem, soh posso me sentir feliz e com a certeza de que ficara ainda melhor. Vamos em frente. Crescer doi mesmo, e assim sera sempre.

Soh desejo a todos nos muita força e muito amor!

As saudades continuam apertando, mudam de figura e me trazem todos os rostos bem a frente dos meus olhos, cada dia de uma coisa, cada dia de alguem, cada dia de um dia...