quarta-feira, 30 de abril de 2008

Quem disse que ia ser fácil?

A falta de comunicação com o lado de lá (para vocês, o lado daí), está me angustiando.



Sinto vontade de dividir tudo: cada esquina, cada pessoa na rua, cada novo amigo, cada conversa, cada olhar, cada dificuldade. E quanta dificuldade!



Estou feliz, me sinto completamente ambientada na cidade - e não mais aquele "monte de nada" -, sinto as coisas caminhando e fluindo, de forma extremamente lenta, mas na direção certa.



Sinto paz em seguir uma rotina que está começando a se desenhar e que, mesmo sendo rotina, não deixa de ser nova a cada dia. Continuo sem aquela sensação de euforia que eu sempre idealizei quando me via nesta situação, mas agora penso que esse equilíbrio é o que vale mais, que é o caminho do meio que vai me levar mais longe. Calma, paciência, e coração aberto pra encontrar a felicidade nas coisas simples. E assim têm sido.



A casa



Meu quarto, minha caixinha de sapato particular, meu mundinho azul. Tão pequeno, e tão aconchegante. Me sinto bem lá. E me sinto aquecida! Quanta diferença! Durmo bem, os sonhos malucos com todas as pessoas que eu convivo ou convivi há anos no Brasil pararam por completo, a insônia também. Thanks God. Se existe algo que me dá verdadeiro desespero nessa vida é querer e não conseguir dormir. Essa fase, parece, passou.



Os meninos são demais. São alegres. São queridos. São engraçados. São generosos. São gentis. São homens, claro. Gritam assitindo futebol, tentam me enganar dizendo que as meninas que eu vejo passando eventualmente no corredor são suas irmãs, não são tão caprichosos quanto a casa arrumadinha do começo demonstrou. Mas me respeitam. Me fazem rir. Têm paciência comigo. Cozinham bem. Me ajudam. Se preocupam comigo, um em especial. Ganhei ótimos companheiros de casa, e ganhei um grande amigo. Faisal, o árabe. Cara de árabe (sem tirar, nem pôr), algumas idéias radicais inerentes à sua cultura e religião, uma boa dose de machismo (ao criar a principal regra de que não é permitido nenhum homem na casa, com exceção dos moradores. Mulheres, porém, têm carta branca para ir e vir). Mas, acima de tudo, um coração enorme. Dá os melhores conselhos, não me deixa pegar trezentos trabalhos ao mesmo tempo pra eu não morrer de cansaço, aguenta o meu inglês tosco horas a fio todas as noites, me deixa assistir filmes no quarto dele e comer metade da bacia de chocolates que têm lá, faz um pratinho de hommus e pão sírio todas as noites pra eu comer no jantar, me empresta o varal (cada um tem o seu, menos eu) pra eu pendurar as minhas roupas molhadas quando ele mais precisa lavar as dele para ir viajar no final de semana, perde horas preciosas de sono pra responder às minhas perguntas sobre a cultura árabe, o casamento com mais de uma mulher, o não poder beber álcool e tudo mais.



Viver aqui, mesmo que não se faça nada de extraordinário, é aprender. É se surpreender. Parênteses: outro dia, numa mesa de pub com brasileiros, turcos, bolivianos, colombianos, cazaquistaneses (ou cazaquis... ai, não lembro!), coreanos, libaneses e afins, chegamos à conclusão de que jamais se deve fazer gestos, ainda que positivos, pra qualquer pessoa quando se está em outro país. O que pra um significava um jóia, era um belíssimo fuck you pra outros. Na Inglaterra, por exemplo, nunca peça 2 cervejas num bar mostrando os dois dedos porque o barman não está te ouvindo bem. Da mesma forma, ainda que a sua intenção seja dizer algo como "estou em paz" e mostrar os tais dois dedinhos, pronto. Você acaba de ofender profundamente o inglesão. Por causa de algo interessantíssimo referente à Guerra dos Britânicos contra os Franceses, esse gesto significa o mesmo que um sonoro fuck you (again), e realmente é capaz de ofender quem quer que seja. Pô, ainda bem que me avisaram, como eu ia saber? Fim do parênteses.



Voltando aos meninos, com exceção do árabe, o contato com os demais é sempre na hora do dinner (cada dia é um morador o responsável por comprar e fazer a comida, e depois lavar a louça). Pouco tempo, mas o suficiente pra notar que um é o tímido (se não está calado, está morrendo de rir), o outro é o easy-going (quando não está no quarto ouvindo reggaes africanos, está na cozinha pegando alguma coisa pra comer, com os olhos pequenininhos e um sorrisão estampado no rosto) e o outro é o engraçadão, namoradeiro e conversador. Adoro todos. Mas quando eles se empolgam muito nas conversas (geralmente piadas masculinas que se repetem em todos os homens de todas as nacionalidades, e sempre sem a menor graça para o gênero oposto), perco totalmente a capacidade de compreender tamanha mistura de sotaques (fortíssimos) e gírias. Mesmo assim, fico ali olhando, rindo sem saber muito bem porquê, achando tudo aquilo muito, muito gostoso.



A casa, enfim, é alegre. E isso faz toda a diferença.





O(s) Trabalho(s)



De job fixo mesmo, por enquanto só o Cassino. Aos que perderam o rumo da história, atenção: ser cleaner de um cassino não te dá a menor possibilidade de entender o que quer que seja sobre jogatina, e muito menos ver a cor daquela dinheirama toda. Ser cleaner na Inglaterra é ser praticamente nada, e eu não estou sendo dramática (não tanto, vai).



No começo achei tranqüilo, são só 3 horas por dia, das oito às 11 da manhã, e divido o trabalho com mais duas meninas, brasileiras as well. Um belo dia, no entanto, elas resolveram que cada uma ficaria com uma área fixa para limpar, ou seja, todos os dias, repetidamente, cada uma só faria a sua parte, e pronto. Parece bom, porque você vai se acostumar com as coisas, pegar prática, começar a otimizar o tempo, e tal. Mas é claro que a BIXETE aqui ficou com a pior parte, né. A mais demorada, a que tem que deixar todas as máquinas de jogo brilhando, a que tem que sair lá na frente, independente do frio que esteja, e recolher os cigarros do chão e do cinzeiro (que sempre trava, você faz força pra desemperrar e, de repente, o negócio sai voando e você toma uma delicioso e perfumado banho de cinzas). Isso sem falar nos banheiros principais do cassino, ou seja, os mais utilizados. Ai, que saudade de ficar sentada 8 horas na frente do computador na minha amada (e não menos perfumada) Berrini...



Logo no primeiro dia, toda contente e munida do meu super-hoover (aspirador de pó), o gerente já me chamou e disse: "querida, você não precisa limpar TANTO assim, só onde dá pra ver". Sim, o ditado "pra inglês ver" é o mais adequado que existe. Ingleses não sabem fazer limpeza. Mais: não fazem muita questão. Inglês come mal, toma pouco banho MESMO, e não liga de viver em lugares não muito limpos (pra não pegar pesado). Não gosto dessa coisa de generalizar, mas a cada dia que passa vejo que esta é uma verdade irrefutável. Ah, sim: TODO inglês TÊM que fazer um comentário sobre o clima. Todos os dias, incansavelmente. Seja alguém puxando papo pela primeira vez, seja a pessoa que você vê todos os dias, necessariamente, em algum momento da conversa, ela vai lançar um "acho que vai chover de novo", "tempo bom, hein?" ou, ainda, "aproveite o sunny day hoje porque já vi que vai chover o final de semana todo". Meu sorriso já está ficando amarelo, porque nem tenho mais o que responder pra esse tipo de coisa. Mas rio por dentro, de certa forma, por não encontrar exceções à regra.



Voltando: eu estava começando a me sentir uma fraca e fresca por estar achando horrível o trabalho, por ter vontade de vomitar todas as vezes que eu limpo um vaso sanitário, por querer chorar ao ser ignorada até pelas recepcionistas (porque elas acham que são muuuuuuuuuuuuuito melhores que você), por ficar com dor no corpo de tanto carregar balde e hoover pra cima e pra baixo, por ficar com a mão completamente destruída de alergia até do talco das luvas que você usa pra trabalhar. Entrei no conflito de não saber até que ponto eu devo agüentar, ou se devo mesmo acreditar mais no meu potencial e procurar um trabalho melhor.



Os dias foram passando, eu fui escutando mais e mais elogios ao meu inglês (que é horrível, mas comparado ao das milhares de brasileiras que estão aqui há meses ou anos e AINDA não conseguem se comunicar, até que tá bom), me irritando cada vez mais com o trabalho e especialmente com a minha dificuldade de limpar as coisas correndo (nunca consigo terminar tudo na hora, mas é por perfeccionismo, não por lerdeza), e resolvi dar um passo pra sair da situação de desconforto.



Passei tardes pegando applicantion forms em lojas, restaurantes, lanchonetes. Não há nada mais chato no mundo do que preencher essas fichas, ainda mais aqui, que os caras perguntam até as notas que você tirou no colegial. Mas fui pegando todos, perguntando de porta em porta se tinha alguma vaga dispon;ivel, até que, na minha rua, entrei num restaurante italiano, já desesperada com a falta de dinheiro.



Parênteses again: Eu tinha me prevenido com um certo dinheirinho pra trazer, mas paguei 1 mês de aluguel, mais um depósito de duas semanas - que eles só devolvem quando você sair -, e mais 6 meses de escola. Me deu um estalo de que se eu não começasse a estudar imediatamente, iria perder o foco, entrar na paranóia delirante de trabalhar o tempo todo pra juuntar dinheiro, e aí dei uma pesquisada e me matriculei logo na escola da qual eu recebi as melhores referências. Doeu no bolso, mas foi um alívio pro meu coraçãozinho que andava há tanto tempo cheio de frustrações e medos. Foi um presente de aniversário que eu resolvi me dar, e fiquei muito feliz. O resultado, porém, foi um pouquinho dramático: não tinha mais dinheiro nem pra comprar os livros, nem pra fazer supermercado, pegar ônibus e tudo mais. Mas quem já viveu anos em república, trampando na balada pra pagar o aluguel e, não se abala com esse tipo de perrengue.

Fim do parênteses e do post, porque tive que interromper os devaneios ontem pra ir embora, e agora perdi o fio da meada. Tô sensível hoje (não confundam isso com tristeza) e com vontade de chorar, de andar lá fora, de olhar o meu novo mundo, não de escrever. Tô muito cansada também, e talvez a falta de sono seja a responsável por esse estado esquisito de aperto no peito que eu fiquei de repente...

Amanhã eu volto, e a mil pra contar o monte de coisas simples, mas maravilhosamente simples, que têm cruzado meu caminho, dia após dia.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Tudo Azul!

Tanta coisa pra dizer, e tao pouco tempo!

Acabou a mamata de internet em casa, o tempo todo. Agora o unico acesso que eu tenho eh na escola, e por pouquissimo tempo. Entao vou ter que fazer uma coisa que, pra mim, eh bem dificil: ser objetiva.


O final de semana (parte I)

O primeiro weekend de Bournemouth foi otimo! A Van tem uma amiga que vai casar, a Sarah, e a festa de despedida de solteira estava programada para o sabado. A mulherada, no entanto, comecou a se reunir na sexta.

Fizemos, na Van, uma festinha do pijama, soh para mulheres. O Andrew, marido dela, saiu com o noivo e os amigos. As meninas foram para o apartamento, todas de pijama, e ficamos comendo coisinhas, tomando vinho e conversando all night long.

1) Pringles com homus eh a melhor coisa que existe.

2) Qualquer chocolate aqui na Inglaterra, mesmo esses fabricados pelo proprio supermercado, sao divinos. Estou absolutamente viciada.

3) Nao ha nada mais foda do que voce nao entender o que as pessoas estao falando, do que elas estao rindo ou - pior - nao conseguir se expressar, ser voce mesma, simplesmente por nao dominar uma lingua. Ao mesmo tempo, nao ha nada mais desafiador.

4) Vinho barato na Inglaterra da a mesma dor de cabeca que vinho barato no Brasil. Mas a garrafa parece mais bonitinha, entao voce toma com gosto.

A noite foi super gostosa, me senti meio deslocada no comeco, fui dormir antes de todo mundo ir embora, mas foi o suficiente pra eleger "gringas queridas" que eu ja sei que serao amigas.


O final de semana (parte II)

Uma "Hen Party" (Despedida de Solteira) aqui eh muito mais animada do que as nossas. Primeiro porque, pelo o que eu pude ver, eh algo tradicional, todas as meninas fazem quando vao casar, e as baladas ficam lotadas de garotas fantasiadas e mais animadinhas que o normal...

Sim, todo mundo se fantasia. Por outros motivos tambem, como festas de aniversario e tal, mas o fato eh que os bares sempre tem uma turminha (ou varias) de fantasia. No nosso caso, eramos um grupo de anjinhas, mas encontramos coelhinhas da playboy (gordas), bebes gigantes e outras bizarrices.

A noite comecou num restaurante italiano chiquezinho, super lindo, luz de velas, comida deliciosa, e a gente la de anjinha, a Sarah ganhando "chocolat penis" e fazendo poses indecentes para fotos... divertidissimo. De la fomos para uma balada chamada Walk About, eh tipo baladinha mesmo, pra dancar, e tal. Tomei uma pint da cerveja mais barata (e depois me arrependi profundamente, porque nao posso MESMO beber, e ja to careca de saber), dancei um pouquinho, mas fiquei mais observando do que outra coisa. Muita gente bonita, homens e mulheres. Mas os homens sao mais, porque as mulheres sao meio artificiais, nao sei... Nao todas, claro, mas o excesso de maquiagem, cabelos tingidos e corpos de revista dao uma impressao estranha.

Mesmo assim, o ambiente eh homogeneo: teenagers, mulheroes, senhoras-muito-locas, caras com cara de nerd, caras com cara de estrangeiro, caras com cara de soldado do exercito ingles, caras bonitoes, caras horrorosos, gente fantasiada, mulheres dancando como "garotas da vida" (se eh que me entendem), homens se esfregando atras delas... enfim.... de tudo! Me diverti horrores!

1) Mais de uma vez fui abordada por um grupo de guris e, ao responder que era brasileira, me vi no meio de uma roda de ingleses tentando falar alguma palavra em ESPANHOL. Pior do que isso, soh o menino que disse: "Brasil?? Buon Giorno, buon giorno!".

2) No meio da balada tem uma maquina bem parecida com essas de pegar ursinhos de pelucia com uma garra, que a gente ve em rodoviaria ou parque de diversoes. Mas nao eh para pegar nada. Eh para dar socos, e ver quem bate mais forte. E paga pra "jogar". E tem fila! Tem caras que ficam ali a noite inteira, e tem meninas que ficam dancando ao lado suspirando pelo bonitao que der o soco mais poderoso. Oh, God!

Resolvemos ir para outro bar e ficamos na porta da balada tentando chegar a alguma conclusao quando uma coelhinha se aproxima e pergunta se a gente quer uma carona no bus-party delas. Ate parece que nao, ne? Entramos correndo, aquele monte de anjinhas, no busao cheio de coelhinhas e um unico bebe-gordo-gigante. Gente, que bafo, tem ate luzes coloridas e musica alta, tipo uma pista de danca itinerante. Hahaha. E a selecao musical era "It's raining man" pra baixo. Tudo!

Rodamos pela city, cantamos e dancamos horrores, e descemos em frente a praia. La entramos num bar chamado Aruba que, para minha surpresa, estava tocando salsa e todo mundo dancando! Depois me dei conta de que tem tipo uns intrutores, cubanos, e eles ficam ali animando a galera pra descolar alunos. Eu quase "caio" no plano, de tao empolgada que eu fiquei pra aprender a dancar salsa. Eh demais, muita energia, que delicia!!!

E foi isso, pra continuar meu plano de ser objetiva. Poderia contar zilhoes de detalhes da noite, mas nao posso me dar ao luxo agora, porque a escola fechou e eu resolvi pagar uma lan pra terminar o post.

Apenas pra organizar meu tempo curto na internet, atencao para as cenas do proximo capitulo:

- A ESCOLA E MEUS NOVOS AMIGOS TURCOS, COREANOS E TUDO MAIS.

- A CASA, MEU QUARTINHO FOFO, MEUS QUERIDOS HOUSEMATES.

- O TRAMPO NO CASSINO.

- O ULTIMO POUND.

- O PRESENTE DE SAO JORGE.

E, pra terminar, quero que saibam:

ESTOU MUITO, MUITO, MUITO FELIZ!!!!!

sábado, 19 de abril de 2008

E num piscar de olhos...


Estou aqui!
Amando tudo: o ar, as paisagens, as expectativas.
Ainda nem fiz muita coisa na pratica, mas ja resolvi o mais importante pra comecar: sim, ja tenho onde morar, e comeco um trabalho na segunda. Claro que eu nao teria feito nem metade sem a ajuda - abencoada - da Van, que eh mais um anjo da guarda do que outra coisa. Mas, alem disso, sinto que as coisas estao dando certo. Estou feliz.

A casa

Vimos o anuncio num site, achamos o preco do quarto bom demais pra ser verdade, imaginamos mil coisas. Mas la fomos nos, afinal, encontrar um teto era a pioridade. Chegamos numa casa fofa (na verdade as casas, por fora, sao todas iguais) por fora, mas surpreendentemente boa por dentro. Cozinha super moderna, toda equipada (ate maquina de lavar louca, ufa!), paredes pintadas de amarelo clarinho, quartos arrumadesimos e tudo super limpo. Ficamos surpresas MESMO, sabendo que se trata de uma republica masculina. Sim, gente, la vou eu (como ha 5 anos atras, nos meus primeiros dias de Unesp, morar com um monte de homem). Os meninos sao sul-africanos e um eh arabe. O Mario, que nos recebeu, eh um querido, tem um quarto extremamente organizado e com uma bandeira enorme do Bob. Bom sinal, penso eu.

Ele nos mostrou o quintal, que ja tem churrasqueira e tudo, um espaco otimo pra fazer barbecue (de salsicha e hamburguer, claro), tudo super fofo. Ahi chegou a vez do tal quarto. Ele ja tinha avisado que era pequeno e, pelo preco, eu estava realmente apavorada de ser uma caixa de fosforo. De fato, eh uma caixa de fosforo, mas uma caixa bem lindinha, toda azul por dentro (a parede e o carpete...rs...), com uma vista pro jardim, aquecedor (uma das minhas exigencias, voces bem sabem), TV, tudo certo.

Fiquei com medo de sofrer de eventuais crises de claustrofobia, eh verdade, mas pelo preco, localizacao, e limpeza da casa (sou quase neurotica com isso, admito), achei uma boa pra comecar. Conversamos mais com o menino, que explicou algumas regras da casa (a principal o Rique vai amar: eh expressamente proibido levar homens na casa, MUITO MENOS para o quarto. O legal eh que eles podem levar mulheres, mas as meninas nao podem levar meninos. Machistas? "Imagina, eh por seguranca!"), enfim: gostamos. Fechei um mes de aluguel e me mudo no domingo. Vamos ver qual eh que eh!


Trampo

Antes mesmo de chegar aqui, resolvi fazer uns contatos com desconhecidos, pelo orkut, pra tentar achar dicas de trampo e de quarto pra alugar. Fiquei surpresa com a quantidade de gente disposta a dar um help. Recebi varias indicacoes de lugares que costumam ter vagas, sugestoes de quarto para alugar, enfim, todo tipo de ajuda mesmo.

Ocorre que o meu santo eh forte e a minha anjinha da guarda eh mega-eficiente e eu tinha dois jobs meio que confirmados ja para segunda-feira. Bournemouth eh uma cidade turistica, tem uma praia linda e, por isso, a maior oferta de trabalho eh em hoteis. Ja estou careca de saber que esse tipo de trampo eh o mais "pesado", especialmente por causa da carga horaria, das folgas em dias nao muito bons, essas coisas. Mas eh obvio que eu nao estou pensando em ficar escolhendo muito nesses primeiros dias. Quero mais eh comecar, conhecer gente, fazer contatos, ir garantindo meu aluguel e pronto... O resto vai se ajeitando, as coisas vao rolando que eu sei.

Segunda, entao, comeco de manha limpando um cassino com mais 3 meninas, das 8 as 11 da matina. Depois, a tarde, vou para o hotel ver se vai realmente dar certo e ahi a vaga eh na cozinha, provavelmente colocando a louca na maquina, tirando da maquina e guardando. O dia inteiro, repetidamente. Sacal, eh verdade, mas eu re-al-men-te nao estou me preocupando com isso por enquanto. Preciso ter uma garantia de grana pra comecar a procurar escola.

A city

Confesso que eu mal sahi de casa, eu e a Van pegamos uma virose esquisita e estamos derrubadas. Mas claro que ela foi me mostrar algumas coisas, fomos fazer umas comprinhas e eu comecei a tentar me localizar um pouco.

Soh posso dizer que estou encantada. A cidade tem um clima diferente, jovem, animado. Vivo, nao sei explicar. Tem muita gente jovem na rua (nao vi velhinhas e tantas meninas gravidas ou empurrando carrinhos de bebe), milhares de escolas de ingles (por isso ja vi que vou ter que pesquisar loucamente antes de escolher uma), zilhoes de brasileiros (nao gostei dessa parte, pra ser sincera), e uma praia linda. LINDA. Nao eh muito parecida com as nossas praias, mas eh bonito, nao sei explicar. Me deu uma felicidade estar num lugar assim!


Obs 1) A foto de hoje eh roubada de um brasileiro que mora aqui, mas soh pra dar uma ideia... essa semana eu tiro as minhas proprias e vou apresentando meu novo sweet home.

Obs 2) Hoje vamos sair, soh as mulheres, para a despedida de solteira de uma amiga da Van. Amanha ja poderei contar as primeiras impressoes do meu first saturday night de verdade na Ingalterra.

MISS YOU and LOVE YOU ALL!

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Pagina Virada

(O relato abaixo foi escrito ontem, dia 16 de abril, em Folkestone, enquanto eu esperava a Vanessa chegar pra me resgatar)

Consegui!
Foi dificil, mal consigo acreditar, mas eh verdade: depois de sofrer todo tipo de pressao (do Terry, do Thomas e de mim), depois de passar medo, nervoso, culpa, depois de as discussoes atingirem um grau inaceitavel, depois de quase desistir ou sair escondida na calada da noite, aqui estou eu, tomando um capuccino no Starbucks, rodeada de malas gigantes e um sentimento predominando sobre todos os outros: liberdade! Sinto que a viagem comeca agora.


O antes

A saida da casa foi traumatica, e nao apenas pela ignorancia do cara, mas pela minha terrivel dificuldade em impor limites e em dizer NAO.

Consegui, depois de quase ter uma sincope de tanto medo, dizer que eu estava me sentindo infeliz, que as coisas nao estavam sendo como eu imaginava, que eu estava muito sozinha e gostaria de ir embora.

Depois de ouvir que a culpa era minha, que eu eh que nao quis acompanha-lo a casa de um amigo (quando ele foi consertar o telhado or something, suuuuuuuuuuuper programa para uma guria de 23 anos recem-chegada em um novo pais), e mais um monte de insultos disfarcados (e outros descarados), ainda me ofereci para ficar ate que ele encontrasse outra au-pair, que poderia ensina-la todas as frescuras do filho dele, e tal. Ele nao apenas recusou a minha gentileza como disse, com todas as letras, que era para eu sumir dali o quanto antes, porque quanto mais tempo o Thomas passasse comigo, mais ele sofreria com a "separacao". Faz sentido. Liguei pra Vanessa na mesma hora perguntando se ela poderia me buscar ainda esta semana, e combinamos para a quarta ou quinta.

A partir de entao, o Terry me evitou ao maximo, nao trocamos mais uma palavra ate eu perguntar se era melhor eu ir embora hoje ou amanha. Foi quando o bonito respondeu: "nao eh para mim que voce tem que perguntar, eh ao Thomas". Eu tentei, obviamente, argumentar que ele tem 5 anos e que poderia responder que eu soh deveria ir embora ano que vem. Nao adiantou.

Depois de conversar a sos com o menino e ele me garantir que vai continuar sendo meu amigo, que entendeu, que ainda vai gostar de mim e tal, o pai faz uma "reuniao" na sala e me pressiona a perguntar, na frente dele, quando e-xa-ta-men-te o guri me "deixaria" ir embora. Ele respondeu "no proximo final de semana. Mas nao neste. Voce tem que ficar mais uma semana". Nao satisfeito, o pai ainda me fez dar a mao para a crianca, tipo pra selar o trato mesmo. Engoli seco e sahi da sala querendo matar aquele idiota por manipular o proprio filho, e espumando de raiva de mim por ter me submetido aquela situacao ridicula.

Passei a noite pensando nos proximos 10 dias naquela casa, no clima de total hostilidade com o pai, no meu aniversario ali sozinha, nos dois empregos que a Van tinha conseguido pra eu comecar na segunda-feira.


O durante

Acordei, esperei o Terry levar o Thomas na escola e disse que eu realmente sentia muito, mas a Vanessa nao esta a minha disposicao e nao poderia me buscar na proxima semana. Que eu re-al-men-te sentia muito, mas quem mandou eu ir embora o quanto antes foi ELE. Pronto. Vou usar um ditado que eu odeio, mas "cutuquei a onca com vara curta".

O cara virou uma fera, bateu na mesa, gritou, disse que nunca se sentiu tao usado, que eu pensei que a casa dele era hotel, que eu sou falsa, pilantra, que nao tenho palavra. Que eu fiz um pacto com o filho dele, e eu simplesmente estava quebrando a promessa. Tentei responder tudo, dizer que nao era nada daquilo, que eu tinha as melhores intencoes, mas se eu nao me senti feliz a culpa nao era minha, acontece, po. Nao posso ser obrigada a ficar pra sempre la, infeliz, soh pra nao deixa-los chateados. Que se eu estivesse querendo soh me aproveitar da "hospedagem" eu nao teria ido pra la, mas para a casa dos meus amigos em Londres, ou pra Van mesmo. Alias, qualquer um iria querer um hospede desses, que que deixa a sua casa brilhando e ainda aguenta a ma-educacao do seu filho! Disse que eu fiz o deal com o Tom por livre e espontanea PRESSAO, e que eu re-al-men-te sentia muito, mas eu nao poderia passar mais nem um dia com ele me odiando daquele jeito.

Bom, resumo da opera: ele gritou e disse pra eu sumir de la imediatamente, antes que o Thomas voltasse.Eu disse gritou. Mesmo, a ponto de eu sentir medo. Subi tremendo pro quarto, liguei pra Van, arrumei minhas malas, chamei um taxi e vim pra Folkestone, de onde estou escrevendo isso pra ocupar as 3 horas que faltam pra minha salvadora chegar.

DETALHE 1: O Terry nao me pagou a ultima semana de trabalho.

DETALHE 2: Na hora de ir embora, o taxi na porta, ainda fui ate o escritorio dele pra falar tchau e ouvir: "estou muito desapontado contigo porque nunca fiz metade do que eu fiz por voce pra qualquer outra au-pair. E voce fez um trato com uma crianca, e o deixou na mao. Mas tudo bem, te desejo tudo de bom. Nao ter palavra deve ser coisa de brasileiro mesmo".


O depois

Eh isso. Vida nova. Sub, sub, sub-empregos, quarto micusculo, correria. Mas com LIBERDADE.

Bem-vindos ao segundo capitulo dessa viagem!

terça-feira, 15 de abril de 2008

Esclarecimento

Respondendo à insistente pergunta (que eu sempre esqueço): não vim pra essa casa por agência ou programa de au-pair. Conheci a família através de um site (http://www.greataupair.com/) e tudo o que conversamos foi só entre eu e o mala, não houve um intermediário.

1) Ponto positivo: posso sair a hora que eu quiser, não assinei nenhum tipo de contrato.
2) Ponto negativo: se eu tivesse uma agência, já teria pedido pra mudar de família e ainda impediria que outras meninas passassem a mesma coisa com esse militar doido. Não é que seja tããão ruim, mas ele abusa dessa falta de "regras".

E, por último, não dependo do curso e nem de nada pra ficar aqui na Inglaterra. Tenho o passaporte italiano e, por isso, não preciso estar necessariamente estudando. Menos mal.

É isso. Respondido?

Estou quase livre do ditador e pronta para me submeter à jornada tripla de trabalho "digna" de sul-americanos em território capitalista desenvolvido.

1, 2, 3 e...

Na trave!

Não quero escrever agora, mas não posso deixar de agradecer a força de vocês. Fafá, sem comentários o seu "e-mail púlico"... obrigada. Gotinha, obrigada. Mozi, Rico, Lauritcha, Mari querida... ah, não dá pra falar de todo mundo. Mas obrigada, friends!


Os pensamentos positivos surtiram um efeito incrível e eu falei com o psicótico ontem. Ele mandou eu vazar daqui o mais rápido possível, fiquei umas três horas tremendo de nervoso, mas depois senti alívio. Acordei com a mensagem da Van dizendo que já conseguiu dois empregos pra mim e que eu começo na segunda. Sub-emprego, claro, mas eu to consciente. Aí quando vou informar o bonitão, simplesmente o cara me coloca na frente do gurizinho, que resolveu misteriosamente ser um doce comigo, e pergunta: "quando você quer que ela vá embora?". E o menininho responde: "neste final de semana não. Só no próximo".

E eu, essa anta disfarçada de gente, não consegui me manifestar (de tão chocada). Quem cala, consente. Ccom trampo, carona e tudo arrumado, vou ter que passar mais uma semana aqui, incluindo o meu aniversário, porque esse tosco me mandou discutir o meu TRABALHO com uma criança de 5 anos.

Tá, gente, mas pelo menos eu vou sair, pronto.

E só pra não perder a tal da riqueza de detalhes, imaginem uma pessoa te ignorando ao máximo, desviando de você a todo momento e trocando 3 palavras (no máximo) em mais de 24 horas. Tá assim. E eu aceitei ficar mais 7 dias. Só eu mesmo.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

"Coragem, coragem, se o que você quer é aquilo que pensa e faz... Coragem, coragem, eu sei que você pode mais..."

Tô aqui só respirando fundo pra conseguir chutar pro gol. Decidi ir embora. Me deu um aperto de tristeza, algo como um aviso de que eu não posso passar 1 ano aqui em dias exatamente iguais, convivendo unicamente com duas pessoas. Eu tinha a intenção de tentar mais, eu quis ser forte. Mas sem a expectativa da escola ficou tudo ainda mais difícil.

Abro meu livrinho de mensagens diárias (presente do papai em algum Natal que passou) toda manhã, e sempre me vem o recado de agüentar firme, de fazer tudo com amor, de deixar fluir... Mas não to vendo NADA fluir aqui. Só a minha angústia. Só dúvidas, só um desânimo estranho. De repente me dei conta de que a coisa mais legal do meu dia é comer - esse monte de coisa horrível, ainda por cima -, e esse insight me deprimiu por completo. Eu não posso ter saído do meu caminho (que eu estava trilhando feliz da vida) pra vir aqui esperar ansiosamente pela hora de jantar, porque o resto do meu tempo é um total e completo tédio.

Tô me sentindo um pouco como a Tara, a cachorrinha centenária, cuja vida é esperar pela hora de alguém abrir a porta para ela sair para o quintal, ou para colocarem comida na tigela que nunca lavam. Não dá.


Dilema Shakesperiano

O pior é a idéia de que o problema pode estar comigo. Isso têm me atormentado simplesmente o tempo todo. Não posso acreditar que eu esteja aqui por acaso, que eu tenha passado um mês nesta casa só para sentir nervoso, humilhação, tédio, solidão. Não é possível. Será que eu tenho que ficar mais? Será que eu tenho que aprender alguma coisa? Ensinar alguma coisa? Mas quando eu vou saber a hora certa? E o que eu faço com a culpa de deixar esses dois na mão? E o que eu faço com o pavor que eu sinto de falar pro cara que eu quero ir embora? Tô com mais medo agora do que antes de vir, e olha que eu achava que estava no auge de uma crise de síndrome do pânico. Oh, God!


Ainda bem que a Van está me dando a maior força, fazendo uma terapia a conta-gotas, todos os dias tentando me fazer entender que eu tenho que pensar primeiro em mim. Que se o cara não tivesse gostado do meu trabalho ele não iria pensar duas vezes antes de me mandar embora. Que aqui eu estou sozinha, e se EU não pensar em mim, ninguém o fará. É verdade. Mas eu continuo com esse problema de pensar demais nos outros, de ter medo de decepcionar. De repente me sinto imersa num sentimento de "compaixão", quase pena por pensar em deixar o menininho triste, e o pai diante do trabalho de ter que, de novo, ir atrás de uma au pair. Como sou ridícula! Eu sei, eu sei!


O depois do depois

No próximo final de semana vou a Bournemouth, a cidade da Van e, seguindo o conselho do meu amor querido, vou RESPIRAR bem fundo. Se o ar me agradar, é pra lá que eu vou. Tá decidido. Vou trabalhar, vou atrás de quarto pra morar, vou estudar, vou comprar beringela a hora que eu bem entender. Pronto!

(Fácil assim...agora só falta enfrentar a fera.)

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Hein?

Estou ensaiando para escrever o post de hoje há horas, horas mesmo, não é no sentido figurado. Mas entrei numa piração de procurar alguma coisa que me interesse aqui em Folkestone, pela internet, que simplesmente me perdi no tempo, acho até que estou com o corpo meio doendo de ficar aqui sentada na frente do computador.


Eu ainda chego lá!

No fim acabei ficando mais tempo em sites de vegetarianismo, hare krishna, o Food For Life e coisas do tipo. A cada dia, ou melhor, a cada segundo que passa, aumenta a minha vontade de começar logo a fazer alguma coisa que preste pra esse mundo. Não se assustem se, de uma hora pra outra, eu avisá-los que estou indo pra Índia ou pra África ou voltando pro Brasil (mas lá pro Sertão) pra ajudar em alguma coisa. Só preciso clarear melhor as idéias pra saber "por onde começar", melhorar meu inglês e adiós, muchachos.


Entulho Inglês

Mas enfim, voltando ao meu post, só vim aqui dizer que eu fiquei cansada e com preguiça de escrever sobre o meu dia, o desdobramento do lance do curso e tudo mais. Amanhã é sábado, não tenho nada pra fazer, conto tudo direitinho depois.

E, pra isso aqui não ficar a coisa mais sem graça de todos os tempos, segue essa curiosa foto aí embaixo. É de um "montinho" de lixo que tem jogado aqui no jardim. Está lá desde o dia que eu cheguei, e lá continuará, assim como o buraco da possível piscina (que virou um lago cheio de brinquedos - abandonados - do Thomas, patos de verdade pela manhã e algum lixo que chega com o vento), assim como as toneladas de entulho de construção, mais brinquedos, milhares de cocôs da cachorrinha centenária e otras cositas más que se encontram jogadas lá fora.


Uma pena. A casa tinha tudo pra ser lindinha - e é, vocês viram nas fotos - mas o quintal está num estado de "abandono" que dá tristeza. O detalhe é que o Terry nunca pode descobrir esse blog porque, além de eu falar mal dele e do filho idolatrado, ele me proibiu de tirar fotos da parte feia do jardim. Eu ainda não fiz isso, esse curioso montinho de "lixo" foi a única, mas depois de contar esse detalhe, serei obrigada a ilustrá-lo.


Sobre a foto: sim, é uma impressora que está ali jogada ao relento (e põe relento nisso, com direito a tempestades de chuva, neve e tudo mais). Tirei a foto porque hoje fiz questão de perguntar ao Mr. Simpatia se não havia um lugar um pouco mais adequado para ela, ou se não tem MEEEESMOOO como consertá-la. Para a minha surpresa, a resposta foi algo como "ah, não sei se tem conserto, mas não estava mais funcionando, joguei fora".

Sem mais comentários.

Bom final de semana! =)


quinta-feira, 10 de abril de 2008

ERA SÓ O QUE ME FALTAVA

Tudo está indo muito bem. O adorável gurizinho não está aqui, eu consegui falar para o Terry algumas coisas que estavam engasgadas, resolvi trabalhar de acordo com o que eu ganho, dirigi o carrinho e ganhei confiança (e as chaves), coloquei em prática o plano de correr e comecei a ler dois livros. Nada mal para quem estava a beira de um surto psicótico. Pra ficar bom mesmo, só faltava começarem as aulas. FALTAVA.


Ontem de manhã recebo um carta do College me dando as boas-vindas e indicando as formas de pagamento da matrícula e do trimestre, assim como o valor. Ah, o valor! Eis que eu começo a achar que tem alguma coisa ali meio diferente... sim, havia. Os bonitos resolveram me cobrar o preço do curso "Overseas", ou seja, para alunos de fora da União Européia. Sim, eu sou brasileira, mas fiz questão de ir atrás da minha cidadania italiana JUSTAMENTE pra ter DIREITOS DE CIDADÃ aqui. Eu já sabia que não poderia pagar cursos como brasileira, porque são muito caros. Se eu imaginasse que o meu passaporte italiano não faria diferença, talvez eu não estivesse exatamente aqui.


O problema que rolou no meu caso foi que tanto o Terry como a Dagmar (a au-pair anterior) disseram que havia uma forma de tentar uma Bolsa de Estudos, e pagar bem menos ou até não pagar nada. Junto com a matrícula, então, eu preenchi o tal formulário da Bolsa, onde eles perguntavam em que país eu havia passado os últimos três anos. Como, pra mim, isso não faria diferença, já que eu sou considerada uma cidadã italiana, coloquei a verdade - mesmo porque, não imaginei que seria adequado mentir, já que eu não teria como provar residência em outro lugar. Beleza, pedi ajuda pro Terry pra responder cada item e, pra variar, ele estava sem paciência: respondeu algumas coisas, em outras não prestou muita atenção. Preenchi tudo direitinho, levei no College, e o resultado foi este: eu não apenas não tenho direito à Bolsa, como não tenho direito a pagar o preço de estudante da Uniao Européia. Tudo porque, pra eles, não importaria se eu tivesse nascido aqui na Inglaterra, o que vale é (além da cidadania, claro) ter morado em qualquer país da UE nos últimos 3 anos. Me ferrei.


E agora?

Na verdade ainda acho, sinceramente, que esse critério pode valer para a Bolsa, mas para fazer o curso normal, penso que eu tenho SIM o direito de pagar como italiana. Juntando o fato de eu ser taurina e brasileira (com muito orgulho, obrigada), não vou desistir tão fácil e lá vou eu ao College tentar reivindicar meus direitos. Pô, tentar não custa nada (só 5 pounds pelo ônibus...hihi).


Voltando ao dilema: o Terry teve um ataque histérico quando se deu conta do que estava acontecendo. Porque se eu não posso pagar o preço que eles estão pedindo, e ele não se propõe a pagar a diferença, isso significa que existe o risco de eu ir embora daqui, afinal o meu objetivo é ESTUDAR, ESTUDAR, ESTUDAR.


Ok, ele é chato, mas tem o raciocínio rápido. Se deu conta do problema e depois de ficar com um mau humor de cão, ser estúpido, eu dizer pra ele nunca mais falar comigo daquele jeito, a gente discutir a ponto de eu anunciar que ia embora, tudo se acalmou e ele ligou para todas as possibilidades de escolas de inglês e faculdades de Folkestone e Canterbury, na tentativa de achar alguma que oferecesse o mesmo curso que eu ia fazer no College.


Eis que não rolou da forma que esperávamos: até achamos o tal curso, mas em NENHUMA escola eles tinham a opção de aulas todos os dias. No máximo, eu teria 2 aulas por semana, e o módulo que eu faria em 3 meses antes, agora demoraria o dobro. Pra mim não dá, honestly. Automaticamente fiquei imaginando o que eu ficaria fazendo em casa nos outros três dias da semana que eu teria livre. Quem respondeu "trabalhando" acertou em cheio, claro. Porque por mais eu possa ficar no meu quarto, ou sair, é óbvio que eu não faria isso todos os dias, e no fim o meu problema continuaria o mesmo de agora: tédio, excesso de trabalho e absoluta falta de contato com a civilização.


Falei isso pro Terry e, embora tenha ficado puto, ele sabe que eu tenho razão nos meus argumentos. Pra fazer curso de 2x por semana eu ficaria no Brasil indo no CCAA, sabe? Enfim, o dia foi tenso e ficamos ambos à procura de possibilidades de cursos. Acabamos agendando dois testes pra hoje de manhã, em escolas diferentes, mais baratas, que de repente me dariam a possibilidade de fazer 2 aulas em uma, e 3 na outra, algo do tipo.


Chegamos na escola hoje cedo, em Folkestone, e o que eu vejo é uma casa enorme com um cheiro estranhésimo de lugar mofado, quase às moscas. O senhor que nos atende é fofo e, embora ele falasse rápido, entendi praticamente tudo: se trata de um curso todo dado pelo computador, onde você tem a FAN-TÁS-TI-CA possibilidade de estudar sem sair de casa! Uhuu! Que maravilha! Era tudo o que eu queria!!! Não agüento mais essa vida agitada, tanta balada, trânsito, poluição, stress... quero mesmo é estudar em casa! Eba! Mas calma, eu também posso ir à escola, onde posso usar os computadores (jurássicos) à vontade, e de repente tomar chazinho com as minhas 4 colegas: senhorinhas lindas e fofas vindas, provavelmente, do Japão, Romênia, Croácia, talvez Bulgária e lugares do tipo.


Eu não podia acreditar naquilo, mas fiz o teste. No computador, claro. Resultado: "Uau, mas o seu inglês é muito bom para fazer o ESOL (English for Students of Other Languages)! Vamos aplicar outro teste - na verdade, para ingleses - e vamos ver como você se sai". Ok, honey, vamos ver. Fiz o teste. Resultado: me indicaram um curso de inglês para ingleses, tipo de aperfeiçoamento, mas nesse esquema de curso no computador: posso estudar na chuva, na rua, na fazenda ou numa casinha de sapê.


Não é por nada, mas isso tá me cheirando a malandragem, sabe. Pô, meu, como eu saio do Brasil pra vir estudar inglês aqui na Inglaterra, venho parar numa casa no campo, fico quase deprimida, o cara sabe disso, e me manda pra um curso pra auto-didata? Fala sério, só pode ser pegadinha. Ainda marcaram outro teste pra amanhã, e dessa vez eu vou sozinha pra procurar outras escolas.


Na volta, o Terry ainda me perguntou se eu queria MESMO ir na outra escola (convencional), já que vou perder dinheiro se fizer o ESOL, sendo que eu não preciso. Primeiro: não sei não se eu realmente não preciso, porque eu acho o meu inglês um lixo. Segundo: e quanto aos demais cursos da escola? Se meu inglês é muito avançado para o ESOL, certamente têm outras opções, certo? Não, deve estar errado, porque ele teve uma crise histérica, parou o carro no meio da rua e disse: "então tá, vamos lá e você vai ver, quer pagar mais de 200 pounds por semana? Quer? então vamos lá". Grrrrrrrrr, tá bom, docinho, deixa pra lá, eu A-DO-REI esse curso no computador com velhinhas da Europa Oriental. Não quero mesmo que ele fique fazendo as coisas pra mim. Eu queria é que ele pagasse uma parte do curso, e já que isso ele não pode fazer (porque é muito pobre, coitadinho), então deixa. Amanhã vou sozinha procurar outras opções. Se não achar, já decidi: vou ficar aqui até quando eu aguentar, vou sair pra correr de manhã, vou pegar o carro e ir à cidade, vou tentar arrumar freelas de babysitter aos finais de semana (porque eu não posso viajar sempre, então ao invés de ficar em casa marcando bobeira, nada melhor que tentar um dinheirinho). Enfim, vou levando do jeito que dá e economizando. Aí, quando eu não quiser mais ficar aqui mesmo, já tiver "algum" guardado, vou-me embora pra outro lugar e começo um curso decente. Vai ser mais ou menos isso.


Papo Cabeça (ou seria sem pé nem cabeça?)

Ontem à noite eu e o Terry começamos uma conversa complicada sobre a situação do Brasil. Eu comentei em algum momento que o nosso governo é e sempre foi corrupto, e ele insiste em discordar de mim. Ficamos mais de uma hora num papo que foi de política à pobreza, educação à controle de natalidade. Fiquei com raiva, no fim, porque não consegui colocar os meus argumentos da forma que eu gostaria. É muito difícil ter esse tipo de conversa quando você não domina a língua. É ótimo, na verdade, mas te deixa louco porque você quer falar, falar, falar, e não consegue.


Mas enfim, ele acha que não é possível que o governo seja tão corrupto assim porque, se fosse, a população teria reagido, feito alguma coisa. Eu disse que, de fato, o povo é passivo demais mesmo, mas que todo mundo sabe que o governo desvia dinheiro, que não usa tudo o que pagamos em impostos com a própria população, esse tipo de coisa. E ele disse: "imagina, você tá louca. E ninguém avisa a polícia? Porque aqui, se o povo descobre falcatruas no governo, a Justiça vai tirar essa pessoa do comando. Se não conseguir, as pessoas simplesmente não vão mais pagar impostos!". Ha ha ha. É mole? Achei uma idéia fantástica, mas pra mim isso é ficção.


Num outro momento estávamos discutindo o porquê de os pobres terem tantos e tantos filhos. Eu disse que eles não têm instrução, não têm noção mesmo, e que não é todo mundo que têm acesso à informação e, muito menos, a alternativas de métodos contraceptivos. O cara ficou louco. Ele citou que há zilhões de anos atrás os egípcios já inventavam formas de as mulheres não terem filhos "indesejados", que foram encontrados corpos femininos com um tipo de pedrinha que elas próprias colocavam dentro do útero para não engravidarem. Argumentou, também, que se um cachorro tem como alimentar seus filhotes, ele gera filhotes. Se não tem possibilidade de alimentá-los, ele simplesmente não os têm. Ou seja: instinto. "Quer dizer, então, que os pobres do Brasil não têm nem instinto de sobrevivência?". Complicado, viu...


Eu disse que, na minha singela opinião, um dos principais problemas é a falta de acesso à educação. Ele não se conformava. Ele simplesmente não acredita que não tenha escola pra todo mundo, e disse: "pergunte ao Thomas porquê ele vai à escola todos os dias. Você acha que ele vai responder que é porque eu mando? Não. Ele vai te responder que a Lei manda, que TODA CRIANÇA TEM A OBRIGAÇÃO DE IR À ESCOLA". Eu disse que sim, toda criança têm o DIREITO de ir à escola, mas que aqui (ops, aí) não tem escola pra todos e, muito menos, de qualidade. Ele não entende, gente, não entende! "Mas o governo é O-BRI-GA-DO a proporcionar educação pra todo mundo!". Sim, querido, a gente também acha, mas daí a sair fazendo escola e pagando professores, é outra história...


Enfim, não chegamos a conclusão nenhuma e no fim a conversa terminou num discurso - quase uma encenação dramática - completamente xenofóbico desse inglês doido. O cara é inteligente, e às vezes sou obrigada a concordar com ele em alguns pontos, mas não dá pra agüentar o horror, a repulsa, o ódio mortal que ele tem dos estrangeiros que vêm parar aqui na Inglaterra.


Simplesmente não se conforma dos iraquianos, iranianos, afegãos, indianos e todos mais, pararem aqui e não em outros países da Europa. Eu dise que, provavelmente, é porque aqui eles têm mais chances de emprego, aqui eles são "acolhidos", de certa forma. Sim, e é exatamente por isso que ele morre de ódio dessa tendência à caridade que os ingleses têm (segundo ele, porque eu ainda não vi). E tem ódio porque ele paga impostos e mais impostos para esse bando de refugiado se aproveitar dos benefícios.


Bom, o buraco é mais, muito mais embaixo. Mas só pra dar uma idéia do teor das conversas...


Apelo

Por hoje é só. Façam o favor de falarem comigo, porque sinto que as minhas crises-quase-depressivas deram uma espantada geral nas pessoas... nada mais natural. Mas já to ótima, gente, podem voltar. Hihi!

Beijos, muito amor!

terça-feira, 8 de abril de 2008

Always getting better!

Depois da neve... o sol esta de volta! E, com ele, meu animo!


Ontem o dia foi bem entediante, embora tenha amanhecido absolutamente LINDO, com MUITA neve e MUITO sol. Lindo, lindo, lindo. Mas pra variar peguei muito pesado no trampo, fiquei cansada e entediada, e fui dormir as nove da noite. Voltei a ler a Insustentável Leveza do Ser, desde o início, numa tentativa de passar mais tempo no meu quarto, ficar menos no computador e ir me apegando ao único espaco que é, de fato, "meu".


A cama continua gelada, mas agora o Terry teve a excelente idéia de me dar uma bolsa de água quente, dessas bem antigas mesmo, que a gente usa pra cólica de vez em quando? Pois é, eu coloco água fervendo nela e corro pra cama... Fica quentinho tempo suficiente até eu pegar no sono, é fantastisco!


Pequenas novidades, grandes mudanças!

Hoje, pela primeira vez, meu dia saiu um pouco da rotina. E nem precisou muito! Primeiro porque eu ENROLEI no trabalho. Sim, enrolei mesmo, fiz bem menos do que podia, levantei um pouquinho mais tarde, fiquei em slow-motion. Foi ótimo, me sinto melhor.


Segundo porque, ENFIM, resolvi deixar de ser preguiçosa e fui correr. Meu deus, porquê eu nao fiz isso antes??? Aqui é o paraíso para fazer caminhadas, sao estradinhas de asfalto com muita, muita, muita natureza e animais silvestres pra você olhar e viajar à vontade enquanto quase tosse seu pulmao pra fora (por causa do ar seco e do frio, aliados a um sedentarismo básico). Mas foi demais. Vi porcos gigantes, morri de medo deles, mas eles que correram de mim. Vi ovelhas foférrimas que também correram de mim, mas eu nem ligo, porque ovelhas é o que eu mais vejo aqui - muito mais do que pessoas. Vi esquilos, aqueles esquilinhos de filme, lindos demais! Mas, adivinhem? Eles também correram de mim. Bando de bicho medroso, pô! Ah, e vi cavalos com cabelos (crinas, pêlos, sei lá) nas patas. Tudo super fofo, com cara de embalagem do chocolate Milka, sabe? Tá, nao vi nenhuma vaca e eu nem estava nos Alpes, mas o clima de fazenda, as montanhas verdinhas, os montinhos de neve que ainda nao derreteram e o céu absolutamente azul me lembraram um cenário desse tipo. Adorei!


E as coisas vao melhorando...

Chegando do meu primeiro dia de atividade física (além de varrer, passar, lavar e tudo mais), encontro o Terry quase na porta me esperando para eu dirigir o "meu" carrinho! Ai, que emoçao! Levando em consideraçao que eu estava com as pernas bambas de tanto correr e sou uma pessoa com sérios problemas de coordenaçao motora, calculei que havia grandes chances de a tentativa ser um desastre... mas a minha vontade de pegar o carro e ficar mais independente pra poder sair é tao grande, mas tao grande, que fui lépida e faceira entrando no carro e, PRONTO! Baixou o sangue de PANESSA em mim, e saí dirigindo lindamente pelas estradinhas como se tivesse nascido num volante do lado direito... hihi.


O Terry nao gosta de elogiar, mas foi obrigado. Disse que está tranquilo agora e que enquanto eu estiver aqui, o carro é meu. Inclusive se eu fizer qualquer barbeiragem, como quebrar o retrovisor e coisas do tipo, as despesas sao por minha conta. Mas beleza, nada mais normal. O importante é que agora eu posso dar uma saída, nem que seja pra ver mais campos e ovelhas! Mesmo com frio, mesmo com chuva, POSSO SAIR! Uhu!! Que felicidade! Juro que nao é materialismo, é ALÍVIO mesmo! Um passo muito bom pra quem estava quase sofrendo de claustrofobia...


Agenda Cultural

As programaçoes também estao começando a esquentar, mesmo que devagarinho... no final de semana do dia 19 vou comemorar o meu aniversário - que é dia 21 - com a Van, em Bornemouth. É longinho daqui, mas vou ver a minha amiga e ainda vai rolar festinha, entao ja será maravilhoso.


Uma amiga chegou em Londres ontem, outro chega na semana que vem, e outra em maio. Eba! Tá bom, eu disse que eu nao quero contato com brasileiros aqui, mas isso nao inclui os meus amigos de verdade...


E, por ultimo, a AMY venceu!!!! Ja arrumei companhia pra ir no show e estou animadissima, afinal, desde que eu saí do meu Brasilsao, nao cheguei nem perto de bafafás, né? E quem conhece, sabe: a-do-rooo!


Saudades loucas!


Beijos, beijos, beijos

Ps: NOTARAM ALGUMA COISA DE DIFERENTE NO POST?????? ACENTOS!!! SÓ NAO ACHEI O "TIL" AINDA... kkkkkkkk mas estou à procura! UFA!!!!!!!

domingo, 6 de abril de 2008

Snow Sunday


Vamos melhorar esse astral!

Dia lindo. Branco. Gelado. Mas lindo, de verdade. Uma vez minha irma me disse que a neve refletia algum tipo de azul, e hoje eu vi, deslumbrada, que isso eh bem verdade.


A noite esta caindo e esta tudo absolutamente coberto de uma grossa e fofa camada de branco. De um branco muito branco, mas que eh meio azul. Lindo!


O final de semana esta sendo dos mais lights, ontem foi dia de filme, hoje de ficar na frente do computador e olhar a paisagem da janela. Parece chato, mas nao foi. Aproveitei pra dormir ate a hora que eu quis, levantei, dormi de novo, tirei mais umas fotos com a camera que nao eh minha, e assim caminha a -minha- humanidade.


Nao resolvi nada, e nao vou ficar esquentando a cabeca. Deixa rolar...


Rock in Rio - Vote Agora!

Hoje me deu siricutico de querer ir no Rock in Rio em Madrid, que vai rolar no final de junho e inicio de julho. Alias, o siricutico foi TAO grande que eu pedi permissao pro Terry pra trocar dois dias da semana por algum final de semana qualquer. Por incrivel que pareca, ele topou! Ha grandes possibilidades de eu nao estar mais aqui em Julho mas, se estiver, pelo menos ja tenho a folga garantida...


Agora estou abrindo uma votacao porque tenho que decidir em qual dia eu vou, e nao ta facil. Vamos aos fatos:


27 de Junho

- NEIL YOUNG
- ALANIS MORISSETTE
- JACK JOHNSON

(Nao ligo pra Neil Young, mas Jack Johson eu amo e Alanis faz parte da minha vida!!!)


04 de Julho

- SHAKIRA
- AMY WINEHOUSE
- JAMIROQUAI

(Nao tenho problema nenhum em admitir que eu AMOOOOO a Shakira, to a-pai-xo-na-da pelo cd da trabaieira da Amy Winehouse - embora eu tenha medo que ela de um bolo no publico ou morra ate o dia do show, de tao louca -, e Jamiroquai eh bom demais!).


Tem outros dias tambem, mas num deles eh Ivete Sangalo (sim, no Rock in Rio) e ate Bob Dylan, mas o problema de nao ter grana pra ir em todos os dias eh esse, voce tem que escolher um e passar muita vontade dos outros!


E a minha duvida - cruel - sao por esses dois dias ali em cima. Alguem me ajudaaaaaaaaaaaaaaaa????


Vou na louca, nem sei de ninguem que vai ainda, mas acho que ate Julho eu arrumo companhia, ne? E se nao arrumar, pelo menos ja tenho onde ficar em Madrid, entao beleza. Vou gastar meu rico dinheirinho em alguma diversao, po. Sinceramente, eu mereco!


Planos de Domingo por agua abaixo (ou melhor: neve abaixo)

E eh isso, hoje tinha planejado correr, ir ate a city, comprar uma camera e ter aulas de direcao... mas nao deu pra fazer NADA: a city e a corrida nao rolaram por causa da neve, e o carro simplesmente ta com serios problemas - obvio - porque ficou mais de 6 meses sem uso... Oh, God! O carrinho seria taaaaaaaaaaao bom pra eu ficar um pouco mais independente... mas ok, ok, esta tudo na mais perfeita ordem... (OOOHHHMMMMM)


Fomos, eu e o Terry, ao supermercado hoje e ele RE-AL-MEN-TE nao me deixa comprar as minhas coisas... eu queria uma berinjela, soh uma berinjela, e ele soh sabe falar: "this is shit! this is shit!", pra tudo! E nao me deixou comprar a berinjela. Mas pelo menos eu insisti como uma crianca pelo espinafre e por uma pizza vegetariana... ahi meu almoco foi divino... pizza de vegetables de-li-ci-o-sa (congelada, claaaaro) e uma salada de tomate e espinafre, huuummm! Muito bom!


E uma nova semana comeca...

Por hoje eh soh, to com fome de novo, quero ver se eu assisto a mais um filminho, e eh isso. Quero levantar o astral desse barraco, vamos esquecer os dias ruins, e bola pra frente!


Ahhhhhhh! Hoje conversei com o Terry sobre as coisas insuportaveis que o Tom tem dito pra mim, e foi otimo. Nao sei se vai adiantar, mas eu me senti muito melhor e com um pouco mais de determinacao pra continuar o desafio.


Amanha comeca minha semana sem Thomas, vamos ver como sera!


Beijos branquinhos de neve, e cheinhos de amor!

sábado, 5 de abril de 2008

A casa

Da pra compreender o desespero, ne?





Ate gringo metido a besta sabe admitir quem eh o MELHOR...




A famosa louca: dessa bacia, as coisas vao direto para o escorredor. Nada de enxaguar. Urgh!







Fim de Semana Light

Sabado, 20:43.


Acabo de acordar de um sono gostoso, depois de assistir dois filmes e meio enquanto estava sozinha em casa... ai, que paz! Resolvi nao ir pra lugar nehum neste fim de semana porque ainda estou ruim da garganta, tomando antibiotico e tal, achei melhor poupar saude e dinheiro pra nao entrar em mais uma furada.


Andei falando bastante com umas pessoas, o Rique, meu pai, a Van (que esta aqui pronta pra me acolher a qualquer momento) e, colocando tudo na balanca, decidi esperar mais uma semana porque a escola vai me ligar pra fazer a entrevista e este sera o momento de decidir se fico os primeiros 3 meses, ou se me mando daqui JA.


Ir ou ficar, eis a questao

Confesso que quando esta tudo mais ou menos em paz, como eu hoje, eu me sinto dividida, fico pensando se nao devo dar mais um tempo pras coisas se acomodarem, e tal. Por outro lado, quando eu tenho que ouvir de um fedelho de 5 anos que eu nao sei nada sobre a Inglaterra e que se eu continuar fazendo tudo errado ele vai me mandar embora de volta pro meu pais (ai, querido, bem que voce podia fazer isso mesmo! Pentelho!), sinceramente me pergunto ate que ponto eu tenho que suportar.


Na real ja estou achando que eu nao tenho as manhas de ser au pair mesmo, que eu me deixo abater pelas coisas que uma crianca fala, e isso eh bem verdade... Mas o problema eh que ta juntando tudo, ahi eh que o bixo pega. Tem a questao, tambem, do PAVOR que eu estou de ter que falar pro Terry que eu nao me adaptei e quero sair... esses dias ele foi marcar o medico pra mim e estava escrevendo uma carta pra confirmar que eu sou au pair da familia, na qual que ele colocou que eu vou ficar aqui pelos proximos 2 anos. Depois de ler a carta pra mim, perguntou: "eh isso mesmo, ne?". Ahi eu disse "olha, honestamente, eu nao posso ga-ran-tir que vou ficar aqui por 2 anos, entende? Eh muito tempo, eu confesso que ja estou sofrendo de home sick desde ja, e tal...".


Ahi o cara ficou puto, disse que se eu nao fosse ficar era pra falar logo, porque ele ia comecar a procurar outra menina, e tudo mais. Ao inves de eu aproveitar a deixa e dizer: "ah, quer saber? Procura mesmo, entao, porque eu to com serias dificuldades de adaptacao e bla bla bla". Mas nao... eu fiquei travada com a cara feia e disse que eu ia tentar, mesmo, de verdade, ficar pelo menos 1 ano. E que ele nao precisa ficar apavorado porque eu nao vou sair de um dia pro outro pela porta deixando eles sem ninguem... Que quando eu for sair, obviamente vou esperar a proxima menina chegar, vou ensina-la a rotina do quartel, ops, da casa, e coisas do tipo. Ahi beleza, ele ficou com aquela cara de quem comeu e nao gostou, e eu fiquei tensa em dobro sofrendo por antecipacao pela hora que eu vou avisar sobre a minha saida... Coisa que, pelo jeito, nao vai demorar muito... Ai ai ai...


Ferias da Torrada

A novidade do dia eh que o Thomas foi pra casa da mae dele na Belgica, e eu vou ficar uma semana inteira trabalhando exclusivamente de housekeeper. No fundo acho que nem vou achar tao ruim, porque vou arrumar o PLAYROOM uma vez soh e ele vai ficar bonitinho pelos proximos 7 dias.


Por fim, vou colocar mais umas fotos pra compensar a falta de assunto e de historias mirabolantes. (As fotos sao as do post de cima, porque deu um erro aqui e eu nao consegui inserir neste).


Momento Cinema

Ah, os filmes do dia foram "Um Bom Ano", com o Russel Crowe, muuuuuuuuuuito bom, envolvente, leve, gostoso, me fez rir, me deu vontade de tomar vinho e de ir pra Franca. O outro foi "Alexandre" (com o Collin Farrell) que, comparado a "Troia" e ate com "300", acaba perdendo. Producao muito boa, mas o ator eh meio fraco, nao sei... nao me convenceu muito.


Mas estou feliz por estar acompanhando super bem os filmes, alguns ateh sem a legenda em ingles. Amanha tem mais sessao cinema.


Beijos cheeeeeios de saudade!

quinta-feira, 3 de abril de 2008

SOL, FLORES, VERDE E AZUL

Sorriso pra voces nao ficarem tao preocupados...




Elas apareceram de uma dia para o outro! =)




Essa pose estranha eh pq eu nao conseguia achar o timer da camera... hihi.


O dia esta colorido. Me sinto melhor. Estou doente, com a garganta inflamada e uma dor de cabeca que nao passa, mas estou mais animada hoje. Ate pedi a camera do Terry pra mostrar esse dia lindo pra voces.


Fui a cidade hoje, soh pra passear, foi a melhor coisa que eu fiz. Fui ao college e vi mais pessoas, foi gostoso.


Depois conto mais, to usando o computador escondido enquanto o Tom ta no futebol.


Obrigada pela forca, amores meus.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

A TORRADA MALDITA - O RETORNO

O desanimo tem tomado conta, por isso quero evitar escrever um pouco...


Ha tambem muitos conselhos, de varios lados, para eu dar um tempo nessa comunicacao diaria com o Brasil, porque isso pode estar atrapalhando um pouco a minha fase de adaptacao inicial...


Mas ahi eu penso: ja estou aqui em imersao integral, no meio de campos e fazendas, sem contato com qualquer pessoa que nao sejao menino e o pai, nao seria instrospeccao demais ficar ainda mais isolada?


Nao sei, meus dias tem sido de trabalho e pensamentos, pensamentos, pensamentos. Ou melhor: trabalho, trabalho, trabalho. E alguns pensamentos confusos.


Nao sei se devo esperar mais pra sair daqui, se devo sair correndo e manda-los a merda na proxima histeria, se devo ser forte e aguentar a barra, ou corajosa e sair pra dar a cara pro mundo.


Estou confusa e, infelizmente, meio triste. O que era meu objetivo, meu sonho, tao forte e tao claro, agora parece um enorme vazio, uma decepcao estranha e sem efeitos.


Quero sentir alguma certeza, algum desejo muito forte, qualquer coisa que me de uma ideia do que fazer. Fico pensando que eu estou em outro pais, que deveria estar conhecendo gente, cultura, paisagens, museus, que seja. Mas nao estou conhecendo nada. Por outro lado, insisti que vir para o meio do nada seria uma experiencia interessante de AUTO-conhecimento, e de contato mais exclusivo com o ingles. Mas nem isso esta funcionando!


Tenho passado tanta raiva aqui que a minha cabeca voa cada vez mais longe. Quando percebo estou falando com eles em portugues, ou seja, a comunicacao esta regredindo, ao inves de melhorar. Isso me preocupa e me angustia.


Enfim, aqueles problemas que voces ja conhecem... de excesso de grosseria e, principalmente, da falta de limites... Nunca em toda a minha vida conheci uma crianca tao mimada. O titulo do post de hoje eh soh pra registrar que eles tiveram a capacidade de me fazer sentir vontade de chorar logo 07h30 da manha porque eu nao cortei a FUCKING torrada em quadradinhos. Ate eu lembrar que square era quadrado, ja estava no terceiro pao, e quase tendo uma crise nervosa de tanta pressao em cima de mim.


Ah, eu tambem tive que aguentar comentarios acidos sobre o fato de eu demorar horas pra passar roupa, e de nao fazer com perfeicao as golas e punhos das camisas deles. Sim, DELES.


Ahi eu me pergunto: sera que a minha licao nessa etapa de vida eh aprender a me impor, aprender a nao me afetar pelo que vem de fora ou aprender a passar roupa? Porque, convenhamos, algum motivo muito nobre deve haver para eu ter vindo parar aqui. Definitivamente.

terça-feira, 1 de abril de 2008

Welcome to London

Post corrido, soh para nao esquecer o final de semana.


Sao 09:30 da manha, o vento e a chuva estao quase derrubando a casa e eu fiquei sozinha aqui. Deveria estar passando roupa, tem uma pilha la na sala, mas como nao escrevi ontem, estou fazendo essa traquinagem (nossa, de onde eu tirei essa palavra?) de usar o computador no horario de trabalho.


Mas eh por um motivo nobre, afinal a minha primeira visita a Londres nao poderia passar em branco.


No sabado o dia foi muito gostoso, acordei com o Thomas na minha cama, uma fofura. O clima estava muito mais light em casa, tudo bem gostoso. Fomos para Folkestone pra comprar uma roupa de Power Ranger pro Thomas, um celular pra mim, comer no Mac Donalds e de lah eu jah iria pra Londres.


Tudo correu super bem, consegui comprar um celular que manda mensagens super baratas pro Brasil; comi mais um Mc Fish; compramos a tal roupa do Power Ranger super rapido (o que eu amei, porque nao suporto ficar dentro de loja), e pronto: fui para a Bus Station rumo a minha primeira tripzinha aqui nessas terras.


O onibus demorou horrores e ainda pegamos um acidente na estrada - com uma ferrari, detalhe - e demorei mais de duas horas pra chegar la. De carro eh aproximadamente uma hora.


Ainda de dentro do onibus eu ja tive certeza: tenho que morar em Londres!
Ferrou. Me apaixonei instantaneamente pela cidade. Nao tenho palavras, eh absolutamente linda. Linda e louca. Assim que eu gosto.


Chegamos por um lugar que provavelmente era uma zona mais afastada, e por isso soh conseguia ver imigrantes pela rua, e o comercio eh algo absurdo: sao zilhoes de portas, uma ao lado da outra, com tudo o que se pode imaginar, especialmente restaurantes. Tailandes, libanes, mexicano, chines e mais 390 opcoes.


Tem tambem umas vendinhas, uns mini-mercadinhos que parecem mais uma banca misturada com quitanda, que geralmente sao de indianos e tem aos montes. Foi uma dessas que me salvou horas mais tarde.


Bom, cheguei na Victoria Station e fui atras de informacoes sobre como pegar um onibus para a Oxford Circus, que eh onde o Igor (meu amigo querido de Atibaia) trabalha. No posto de informacoes da estacao encontrei um casal de cariocas e foi super estranho ouvir portugues assim, de repente, mas muito gostoso. Olhei pra eles e disse: "ai, que alivio!". Super fofos os dois, estavam la todos animados decidindo o roteiro turistico deles... como eh bom ter dinheiro.. ha ha ha.


Consegui me virar rapido e cheguei no ponto do onibus, enorme, mas bem organizado. La voce tem que comprar a passagem numa maquina no proprio ponto, que soh aceita moedas. Por sorte eu tinha, mas achei um saco, imagina se nao tivesse? A pessoa tem que se atrasar pra sair a atras de trocar o dinheiro por moedas... Nada pratico.


Comprei o ticket na tal maquina e fiquei esperando o bus. Nisso eu ouco, pelo alto falante, alguma coisa relacionada ao meu onibus, mas nao entendi o que era. Ahi olhei para um menino ao lado com aquela cara de "o que ele falou?", e o guri, que na verdade era quase uma guria, jah saiu falando que tava tudo bem, que soh estavam avisando que o bus chegaria em 3 minutos. Adorei isso. E nao tem erro: 3 minutos, la estava ele.


Fui sentar com o menino, dei horrooooores de risada com ele, imaginem alguem com-ple-ta-men-te louco, cheio de tiques, absolutamente afetado, mas um fofo. Fomos batendo papo, ele ficou de me avisar qual era o ponto que eu tinha que descer, e nisso para um cara na nossa frente, em peh. O menino nao encasqueta com o cara e comeca a falar que ele tava me paquerando? Se fosse soh isso tudo bem, mas nao satisfeito em ficar cochichando no meu ouvido e olhando pro homem, ainda puxou papo e ficou falando: "olha, ela vai descer na Oxford Circus, viu?". Nao sabia onde enfiar a minha cara, e o pior eh que o cara comecou a conversar e eu nao entendia uma soh palavra do que ele dizia...


Ri um monte, mas nao pude deixar de observar as coisas a minha volta:

1) em Londres a lingua que voce menos escuta eh ingles, e nao eh exagero. Pense em todas as nacionalidades juntas num onibus soh. Eh assim.

2) os onibus sao mais sujos que os de Sao Paulo. Sao novos, de dois andares, lindos. Mas tem muito lixo no chao, ateh sanduiche do Mc Donalds e afins.

3) nao da pra aguentar o tanto que Londres eh linda. Eu olhava pela janela e queria chorar.


Ok, na hora de descer dei dois beijinhos no meu novo amigo, que durante o caminho jah tinha me contado a vida inteira, inclusive que o namorado dele mora com um brasileiro de seios enooormes, e fui para a porta.


Soh para ilustrar o momento, eu tava olhando pra fora com uma cara de boba tao grande que um cara me perguntou: "voce esta bem?". E eu respondi que, sim, estava otima, obrigada. E ele disse: "eh que voce ta com uma cara de perdida"... Ha ha ha. Nao, moco, nao eh isso nao. Soh estou curtindo a paisagem.


Desci do bus, achei tudo lindo, eu estava no centro da cidade e achei tudo um bafo, fui pedindo mais informacoes pras pessoas e achei o bar do Igor super rapido. Eh tipo um pub, mas bem grande, e estava cheio. Adorei logo de cara.


Dei um longo abraco no meu amigo, tirei um pouco do tanto de roupa, e ele me serviu uma pint de uma cerveja italiana la... era uma das mais baratas, e mesmo assim era cara. Peguei soh porque eu ia passar a noite ali e pelo menos tinha que fingir que estava consumindo alguma coisa, neh?


Bom, pra resumir: fiz amizade com um pessoal de Cambridge, meeega fofos, um casal tinha acabado de ficar noivo aqui no Brasil, foram pra Amazonia e coisas do tipo, e o cara tinha aprendido um portugues incrivel e duas semanas, impressionante... Fiquei feliz porque mesmo com musica alta (estava rolando um blues ao vivo incriiiivel) eu consegui entender e me comunicar.


Fiquei com esse pessoal a noite inteira, ateh o Igor me chamar pra comer durante o break dele. Sahimos, olhamos em volta, e o unico lugar perto que estava aberto era... adivinhem... sim, o Mac Donalds! EU nao sei como eu tive coragem, no fundo eu sabia que nao deveria fazer aquilo, mas estava com fome, e cometi o absurdo de comer essa porcaria pela segunda vez no MESMO dia. Comi, achei o lanche frio e o lugar sujo (ah, tem isso: aqui os Mac Donalds sao lotados, os lixos transbordando, um horror), mas comi.


Voltamos para o bar e a minha noite do terror comecou. Fiquei com uma enxaqueca trash, trash, trash, tava vendo estrelinha e o som do bar cada vez mais alto: no andar de cima, a banda de blues. No andar de baixo, uma festa de aniversario (a fantasia), com pessoas esquisiterrimas cantando no karaoke. Ou melhor, berrando.

Ah, detalhe interessante: brasileiro tem fama de fazer putaria, mas nao chegamos nem perto das inglesas alcoolizadas. Elas ficam muito locas MESMO, quase arrancam a roupa, se pegam com todos os amigos, abrem as pernas em pleno bar lotado, isso quando nao dao uma transadinha ali mesmo. Metade disso eu vi, metade os brasileiros que trabalham no bar me contaram. E olha que esse pub eh pra um pessoal mais velho, super tranquilo e tal. Imaginem os inferninhos "a la Augusta", como sao...


Bom, tentei dar uma dormida no sofa porque ja tava um clima de fim de festa, mas eu realmente tava tendo um treco de tanta dor. Pedi remedio pra dor de cabeca pro gerente do bar e tomei dois de uma vez. Fui piorando, piorando, ateh que chegou a hora de ir embora. Ufa! Ateh iamos a uma festa num pico de um indiano, mas o horario mudou e adiantou uma hora, tipo horario de verao, por isso estava muito tarde e decidimos ir pra casa. Gracas a Deus, porque eu sentia que ia desmaiar no meio da festa.


Entramos no onibus e estava absolutamente lotado. Eram 4 da manha e as pessoas todas estavam voltando da balada, todo mundo de onibus, nao se via um carro na rua. Muita gente bonita, tipos super interessantes, mas eu soh consegui pensar que o onibus estava abafado e eu estava comecando a enxergar tudo preto.


Comecei a tirar um pouco de roupa, casaco, cachecol, mas nada adiantava e a pressao caindo, caindo, caindo... ateh que o Igor viu que a situacao chegou no limite e falou: desce do onibus pra tomar um ar. Desci no mesmo momento. Dei tres passos e falei pra ele (ou tentei falar): "vai pra la, vai pra la". Era um pedido pra ele sair de perto de mim, porque eu logo vi o que ia acontecer: BATIZEI A CALCADA DE LONDRES, mais especificamente em frente a uma Delegacia, com um vomito de uma pseudo-vegetariana-completamente-intoxicada-de-Mc-Donalds.


Cara, eu passei muito mal. Mas MUITO mal, achei que ia morrer, desmaiar, ter um treco qualquer.
O Igor (um anjo) correu comprar uma coca-cola nessas quitandas-bancas-mercadinhos que ficam abertas a noite toda, e eu fui melhorando aos poucos, embora a pressao ainda estivesse baixa e eu tremesse mais que massageador eletrico.


Pegamos o proximo onibus e fomos pra casa dele, demorou um pouco, eu soh conseguia pensar em chegar. Tinha combinado de encontrar a Van no dia seguinte as 9 da manha, nao sabia como eu ia conseguir essa proeza, mas ver a minha amiga era tudo o que eu mais queria.


Dormi bem bem, acordei meio zonza e com dor de cabeca ainda, peguei meu celular e vi que a Van tinha mandado mensagem de que tinha perdido o onibus por causa da mudanca de horario, e que nao poderia mais ir. Nos falamos por telefone e ela estava arrasada, porque alem de ter perdido a passagem, foi uma puta frustracao, a gente tinha feito varios planos, e tal. Uma merda.


Mas como nao ia mais ve-la e ainda nao conseguia parar em peh, voltei a dormir. Acordei duas da tarde (COM SOL!!!) e jah tive que me programar pra ir embora, porque a essa altura eu havia desoberto que pra conseguir chegar em casa eu teria que pegar o onibus das 16hs.


O Igor me garantiu que nao tinha transito, que eu iria chegar rapidinho a estacao e tal... e la fui eu... novamente deslumbrada com a cidade, especialmente com sol e ceu azul. Estava quase quentinho, bom demais!


Eu nao acreditava que eu tinha ido a Londres e nao visitado lugar algum, mas tudo bem, fica pra proxima, vou ficar tempo suficiente por aqui...


No meio desses pensamentos (e uma chata de uma brasileira falando 1 hora no telefone no branco logo atras de mim), me dei conta de que eu ia me atrasar para o onibus. Cheguei na estacao a tempo de pegar o das 16h30, mas me mandaram comprar o ticket no caixa e, ao chegar la, simplesmente me deparei com uma fila quilometrica, indecente.


Fiquei desesperada, pedi pra uma mulher guardar o lugar pra mim e fui correndo ate o motorista explicar que nao daria tempo de eu comprar la, mas que eu estava com o dinheiro na mao, se eu poderia pagar direto pra ele e tal. Pela primeira vez dei de cara com alguem que definitivamente nao foi legal comigo. O cara foi horrivel, cruel, grosso, mau educado. Fechou a porta do onibus na minha cara e disse pra eu pegar o proximo. Fiquei com a cara na porta e comecei a chorar como uma crianca. Tava mal ainda, tava chateada por nao ter visto a Van, tava com medo de comer as coisas por achar que eu estava doente, tava preocupada em nao ter como vir pra casa quando chegasse em Canterbury, e esse imbecil me faz isso. Beleza.


Voltei - chorando ainda- para a fila, liguei pra Van, que ficou na Internet vendo todas as possibilidades de onibus, e descobrimos que pegando em Londres o das 17hs, ainda daria tempo de eu ir embora pra casa. Mas era a ultima, ultima chance. Apenas as 17hs em ponto eu consegui chegar ate o guiche. Pedi correndo, implorando, o ticket para o onibus, e amulher disse: "nao posso te vender esse, o onibus esta saindo, voce tem que pegar o proximo". Ahi eu nao chorava mais como uma crianca. Chorava como um bebe. Mais especificamente como um bebe com colica. kkk


Nao teve jeito. Tive que comprar o das 17h30. Fiquei desolada, nao tinha MESMO como voltar pra casa.
Mandei uma mensagem pro Terry explicando que eu ia ter que ir de taxi de Canterbury para casa, e ele me respondeu que sairia muito caro, mas eu disse que nao havia outro jeito, que eu tinha perdido 3 onibus por causa de uma fila completamente indecente. Ele nem respondeu mais.


Cheguei em Canterbury e a estacao estava deserta. Ainda encontrei um motorista indiano pra saber se havia alguma possiblidade, bem no fundo do tunel, e nao havia. Chorei, chorei, pensei em ficar num hotelzinho ateo dia seguinte, mas o onibus de manha nao chegaria a tempo de eu fazer o cafe do Thomas. Ok, taxi mesmo.


Quando o cara me falou o preco eu comecei a chorar de novo e mal conseguia explicar meu endereco. Eh, definitivamente eu tava na pior TPM da minha vida.


Depois de nos perdermos, termos que recorrer ao GPS, ficarmos sem sinal de celular no meio dessas estradinhas sinuosas, cheguei em casa. Nunca imaginei que ficaria tao feliz em estar aqui.


Entrei na sala e estava tudo quentinho, com lareira, chazinho... Home, swwet home!


Resumo da opera: TRABALHEI UMA SEMANA INTEIRINHA PRA GASTAR MEU SALARIO COM UM TAXI. Ou melhor: trabalhei uma semana exclusivamente pra dar uma vomitadinha em Londres.


Pois eh... Quem falou que a vida eh facil???