quinta-feira, 10 de abril de 2008

ERA SÓ O QUE ME FALTAVA

Tudo está indo muito bem. O adorável gurizinho não está aqui, eu consegui falar para o Terry algumas coisas que estavam engasgadas, resolvi trabalhar de acordo com o que eu ganho, dirigi o carrinho e ganhei confiança (e as chaves), coloquei em prática o plano de correr e comecei a ler dois livros. Nada mal para quem estava a beira de um surto psicótico. Pra ficar bom mesmo, só faltava começarem as aulas. FALTAVA.


Ontem de manhã recebo um carta do College me dando as boas-vindas e indicando as formas de pagamento da matrícula e do trimestre, assim como o valor. Ah, o valor! Eis que eu começo a achar que tem alguma coisa ali meio diferente... sim, havia. Os bonitos resolveram me cobrar o preço do curso "Overseas", ou seja, para alunos de fora da União Européia. Sim, eu sou brasileira, mas fiz questão de ir atrás da minha cidadania italiana JUSTAMENTE pra ter DIREITOS DE CIDADÃ aqui. Eu já sabia que não poderia pagar cursos como brasileira, porque são muito caros. Se eu imaginasse que o meu passaporte italiano não faria diferença, talvez eu não estivesse exatamente aqui.


O problema que rolou no meu caso foi que tanto o Terry como a Dagmar (a au-pair anterior) disseram que havia uma forma de tentar uma Bolsa de Estudos, e pagar bem menos ou até não pagar nada. Junto com a matrícula, então, eu preenchi o tal formulário da Bolsa, onde eles perguntavam em que país eu havia passado os últimos três anos. Como, pra mim, isso não faria diferença, já que eu sou considerada uma cidadã italiana, coloquei a verdade - mesmo porque, não imaginei que seria adequado mentir, já que eu não teria como provar residência em outro lugar. Beleza, pedi ajuda pro Terry pra responder cada item e, pra variar, ele estava sem paciência: respondeu algumas coisas, em outras não prestou muita atenção. Preenchi tudo direitinho, levei no College, e o resultado foi este: eu não apenas não tenho direito à Bolsa, como não tenho direito a pagar o preço de estudante da Uniao Européia. Tudo porque, pra eles, não importaria se eu tivesse nascido aqui na Inglaterra, o que vale é (além da cidadania, claro) ter morado em qualquer país da UE nos últimos 3 anos. Me ferrei.


E agora?

Na verdade ainda acho, sinceramente, que esse critério pode valer para a Bolsa, mas para fazer o curso normal, penso que eu tenho SIM o direito de pagar como italiana. Juntando o fato de eu ser taurina e brasileira (com muito orgulho, obrigada), não vou desistir tão fácil e lá vou eu ao College tentar reivindicar meus direitos. Pô, tentar não custa nada (só 5 pounds pelo ônibus...hihi).


Voltando ao dilema: o Terry teve um ataque histérico quando se deu conta do que estava acontecendo. Porque se eu não posso pagar o preço que eles estão pedindo, e ele não se propõe a pagar a diferença, isso significa que existe o risco de eu ir embora daqui, afinal o meu objetivo é ESTUDAR, ESTUDAR, ESTUDAR.


Ok, ele é chato, mas tem o raciocínio rápido. Se deu conta do problema e depois de ficar com um mau humor de cão, ser estúpido, eu dizer pra ele nunca mais falar comigo daquele jeito, a gente discutir a ponto de eu anunciar que ia embora, tudo se acalmou e ele ligou para todas as possibilidades de escolas de inglês e faculdades de Folkestone e Canterbury, na tentativa de achar alguma que oferecesse o mesmo curso que eu ia fazer no College.


Eis que não rolou da forma que esperávamos: até achamos o tal curso, mas em NENHUMA escola eles tinham a opção de aulas todos os dias. No máximo, eu teria 2 aulas por semana, e o módulo que eu faria em 3 meses antes, agora demoraria o dobro. Pra mim não dá, honestly. Automaticamente fiquei imaginando o que eu ficaria fazendo em casa nos outros três dias da semana que eu teria livre. Quem respondeu "trabalhando" acertou em cheio, claro. Porque por mais eu possa ficar no meu quarto, ou sair, é óbvio que eu não faria isso todos os dias, e no fim o meu problema continuaria o mesmo de agora: tédio, excesso de trabalho e absoluta falta de contato com a civilização.


Falei isso pro Terry e, embora tenha ficado puto, ele sabe que eu tenho razão nos meus argumentos. Pra fazer curso de 2x por semana eu ficaria no Brasil indo no CCAA, sabe? Enfim, o dia foi tenso e ficamos ambos à procura de possibilidades de cursos. Acabamos agendando dois testes pra hoje de manhã, em escolas diferentes, mais baratas, que de repente me dariam a possibilidade de fazer 2 aulas em uma, e 3 na outra, algo do tipo.


Chegamos na escola hoje cedo, em Folkestone, e o que eu vejo é uma casa enorme com um cheiro estranhésimo de lugar mofado, quase às moscas. O senhor que nos atende é fofo e, embora ele falasse rápido, entendi praticamente tudo: se trata de um curso todo dado pelo computador, onde você tem a FAN-TÁS-TI-CA possibilidade de estudar sem sair de casa! Uhuu! Que maravilha! Era tudo o que eu queria!!! Não agüento mais essa vida agitada, tanta balada, trânsito, poluição, stress... quero mesmo é estudar em casa! Eba! Mas calma, eu também posso ir à escola, onde posso usar os computadores (jurássicos) à vontade, e de repente tomar chazinho com as minhas 4 colegas: senhorinhas lindas e fofas vindas, provavelmente, do Japão, Romênia, Croácia, talvez Bulgária e lugares do tipo.


Eu não podia acreditar naquilo, mas fiz o teste. No computador, claro. Resultado: "Uau, mas o seu inglês é muito bom para fazer o ESOL (English for Students of Other Languages)! Vamos aplicar outro teste - na verdade, para ingleses - e vamos ver como você se sai". Ok, honey, vamos ver. Fiz o teste. Resultado: me indicaram um curso de inglês para ingleses, tipo de aperfeiçoamento, mas nesse esquema de curso no computador: posso estudar na chuva, na rua, na fazenda ou numa casinha de sapê.


Não é por nada, mas isso tá me cheirando a malandragem, sabe. Pô, meu, como eu saio do Brasil pra vir estudar inglês aqui na Inglaterra, venho parar numa casa no campo, fico quase deprimida, o cara sabe disso, e me manda pra um curso pra auto-didata? Fala sério, só pode ser pegadinha. Ainda marcaram outro teste pra amanhã, e dessa vez eu vou sozinha pra procurar outras escolas.


Na volta, o Terry ainda me perguntou se eu queria MESMO ir na outra escola (convencional), já que vou perder dinheiro se fizer o ESOL, sendo que eu não preciso. Primeiro: não sei não se eu realmente não preciso, porque eu acho o meu inglês um lixo. Segundo: e quanto aos demais cursos da escola? Se meu inglês é muito avançado para o ESOL, certamente têm outras opções, certo? Não, deve estar errado, porque ele teve uma crise histérica, parou o carro no meio da rua e disse: "então tá, vamos lá e você vai ver, quer pagar mais de 200 pounds por semana? Quer? então vamos lá". Grrrrrrrrr, tá bom, docinho, deixa pra lá, eu A-DO-REI esse curso no computador com velhinhas da Europa Oriental. Não quero mesmo que ele fique fazendo as coisas pra mim. Eu queria é que ele pagasse uma parte do curso, e já que isso ele não pode fazer (porque é muito pobre, coitadinho), então deixa. Amanhã vou sozinha procurar outras opções. Se não achar, já decidi: vou ficar aqui até quando eu aguentar, vou sair pra correr de manhã, vou pegar o carro e ir à cidade, vou tentar arrumar freelas de babysitter aos finais de semana (porque eu não posso viajar sempre, então ao invés de ficar em casa marcando bobeira, nada melhor que tentar um dinheirinho). Enfim, vou levando do jeito que dá e economizando. Aí, quando eu não quiser mais ficar aqui mesmo, já tiver "algum" guardado, vou-me embora pra outro lugar e começo um curso decente. Vai ser mais ou menos isso.


Papo Cabeça (ou seria sem pé nem cabeça?)

Ontem à noite eu e o Terry começamos uma conversa complicada sobre a situação do Brasil. Eu comentei em algum momento que o nosso governo é e sempre foi corrupto, e ele insiste em discordar de mim. Ficamos mais de uma hora num papo que foi de política à pobreza, educação à controle de natalidade. Fiquei com raiva, no fim, porque não consegui colocar os meus argumentos da forma que eu gostaria. É muito difícil ter esse tipo de conversa quando você não domina a língua. É ótimo, na verdade, mas te deixa louco porque você quer falar, falar, falar, e não consegue.


Mas enfim, ele acha que não é possível que o governo seja tão corrupto assim porque, se fosse, a população teria reagido, feito alguma coisa. Eu disse que, de fato, o povo é passivo demais mesmo, mas que todo mundo sabe que o governo desvia dinheiro, que não usa tudo o que pagamos em impostos com a própria população, esse tipo de coisa. E ele disse: "imagina, você tá louca. E ninguém avisa a polícia? Porque aqui, se o povo descobre falcatruas no governo, a Justiça vai tirar essa pessoa do comando. Se não conseguir, as pessoas simplesmente não vão mais pagar impostos!". Ha ha ha. É mole? Achei uma idéia fantástica, mas pra mim isso é ficção.


Num outro momento estávamos discutindo o porquê de os pobres terem tantos e tantos filhos. Eu disse que eles não têm instrução, não têm noção mesmo, e que não é todo mundo que têm acesso à informação e, muito menos, a alternativas de métodos contraceptivos. O cara ficou louco. Ele citou que há zilhões de anos atrás os egípcios já inventavam formas de as mulheres não terem filhos "indesejados", que foram encontrados corpos femininos com um tipo de pedrinha que elas próprias colocavam dentro do útero para não engravidarem. Argumentou, também, que se um cachorro tem como alimentar seus filhotes, ele gera filhotes. Se não tem possibilidade de alimentá-los, ele simplesmente não os têm. Ou seja: instinto. "Quer dizer, então, que os pobres do Brasil não têm nem instinto de sobrevivência?". Complicado, viu...


Eu disse que, na minha singela opinião, um dos principais problemas é a falta de acesso à educação. Ele não se conformava. Ele simplesmente não acredita que não tenha escola pra todo mundo, e disse: "pergunte ao Thomas porquê ele vai à escola todos os dias. Você acha que ele vai responder que é porque eu mando? Não. Ele vai te responder que a Lei manda, que TODA CRIANÇA TEM A OBRIGAÇÃO DE IR À ESCOLA". Eu disse que sim, toda criança têm o DIREITO de ir à escola, mas que aqui (ops, aí) não tem escola pra todos e, muito menos, de qualidade. Ele não entende, gente, não entende! "Mas o governo é O-BRI-GA-DO a proporcionar educação pra todo mundo!". Sim, querido, a gente também acha, mas daí a sair fazendo escola e pagando professores, é outra história...


Enfim, não chegamos a conclusão nenhuma e no fim a conversa terminou num discurso - quase uma encenação dramática - completamente xenofóbico desse inglês doido. O cara é inteligente, e às vezes sou obrigada a concordar com ele em alguns pontos, mas não dá pra agüentar o horror, a repulsa, o ódio mortal que ele tem dos estrangeiros que vêm parar aqui na Inglaterra.


Simplesmente não se conforma dos iraquianos, iranianos, afegãos, indianos e todos mais, pararem aqui e não em outros países da Europa. Eu dise que, provavelmente, é porque aqui eles têm mais chances de emprego, aqui eles são "acolhidos", de certa forma. Sim, e é exatamente por isso que ele morre de ódio dessa tendência à caridade que os ingleses têm (segundo ele, porque eu ainda não vi). E tem ódio porque ele paga impostos e mais impostos para esse bando de refugiado se aproveitar dos benefícios.


Bom, o buraco é mais, muito mais embaixo. Mas só pra dar uma idéia do teor das conversas...


Apelo

Por hoje é só. Façam o favor de falarem comigo, porque sinto que as minhas crises-quase-depressivas deram uma espantada geral nas pessoas... nada mais natural. Mas já to ótima, gente, podem voltar. Hihi!

Beijos, muito amor!

9 comentários:

Anônimo disse...

juliaaaaaaaaaaa
meu, que cara idiota! na boa, como vc aguenta?????? ele acha que é caridoso...senhor de israel, põe a mãe ein...kkkk
quanto ao college acho até que pode ser uma boa isso juju, pq assim vc não fica presa aí e pode fugir das garras desse inglês maluco...kkkk
loveeeeeeeee you
Elo

Unknown disse...

Eita amor, querer experessar uma idéia e ser barrado exatamente pela falta do domínio da língua e uma das piores situações que se pode enfrentar ai fora..É uma sensação de impotencia absurda. Mas calma que logo mais vc estara dominando a lingua e dara uma aula sobre geopolitica brasileira para os ignorante gringos, que são muitos... Patience.
Te amo

Unknown disse...

Julinha querida........ concordo plenamente com o Henrique... daqui a pouquinho vc vai tá dando aula pra esses gringos bitolados sem noção nenhuma do que acontece no mundo!!!
quanto à escola, vai correndo atrás que vc consegue encontrar uma... boa, é claro!!!
bjão

barbarita disse...

Ju.... se te sobra tempo a melhor coisa que voce pode fazer eh conseguir outro empreguinho por ai... Sugiro que fique longe de mais criancas... procure outra coisa nem que for trabalhar no Mc Donalds... ai pelo menos voce vai conhecer mais gente (jovem mais nao tanto quanto do Thomas) e vai guardando um dinheirinho para vir visitar sua prima veia aqui em BCN, que ja esta fazendo calorzinho viu!!! (Eu falo de experiencia propria: a unica coisa que me ajudou a nao enlouquecer nos meus piores momentos foi trabalhar... ter que ir trabalhar, e nao ter escolha... assim a vida continua mesmo se voce sente que nao).

barbarita disse...

E by the way, da uma olhada no blog da minha boss... de onde vou trabalhar... ta legal e eh em ingles...: http://vonblum.blogspot.com/

Gotardello disse...

nossa, julia, nas suas conversas na internet você nunca percebeu que o maluco era tão idiota assim?

taí um cara que eu não gosto.

Anônimo disse...

Ahahah, minha lindaa!! Não sumi não,viu, é falta de tempo, porque aqui no trampo tá a maior correria e em casa, como vc bem sabe, não tem computador. As coisas estão acontecendo por aí, aida que pra vc pareça aos poucos: já tá de carro, correndo, discutindo com o cara...rsrsrrs. Bjs

Anônimo disse...

Ju do céu! Esse teu chefe é um retardado, hein? puta que pariu cara idiota!

Anônimo disse...

Será que vão me xingar muito se disser que concordo com ele em vááárias coisas dessas aí?

Julia.... sorry baby, tô trabalhando demais neste mês, e em casa estou sem net. Portanto, resta pouco tempo para passar por aqui. Mas tô aqui!!!

No sábado fui "despachar" a Ju Maian, lá em Brasília, para as Europa. Logo logo ela estará pertinho de você e viverão aventuras!!!

Amo você, amo a Jú, morro de saudades!!!

Boa sorte, baby.

Sinto que as coisas estão acontecendo. Até um "xilique" básico você já teve, ensaiando uma ameaça de ir embora!

Estão acontecendo, certeza!!!

"babysitter de final de semana TAMBÉM?"

Ah nãaaaaaaaaao, Júuuuuuuuuuu... faz isso nãaaaaaaaaao...

BEIJOS!