segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

(Re)Comeco


Pronto, consegui. Levei super a serio aquele papo de ir ate o fundo do poco. Fui que fui mesmo. Me joguei de tal forma na balada e num ritmo de trampo insano que o unico resultado so poderia ser esse mesmo: ficar doente. Podre.
Agora, claro, to arrependida, sofrendo, choramingando de dor, preocupada com os dias de trampo perdidos, com a possibilidade de nao melhorar ate o reveillon, de nao ter forcas pra explorar Istanbul na viagem dos meus sonhos, de nao conseguir curtir o Rafa (que ta vindo de Barcelona pra passar uns dias comigo, e eu de cama) e tudo mais.





Mas eh BEM FEITO. Soh assim pra eu voltar pra minha fase zen. Ups and downs, again and again. Ha quem diga que nunca eh tarde pra mudar. Entao ta bom, la vou eu de novo. E essa coisa de Ano Novo de repente ajuda a dar um animozinho extra. O problema eh que a cada ano que passa eu estou menos e menos envolvida pelo "espirito", energia ou sei la, que costumava me causar uma certa emotividadezinha nessa epoca... Natal, especialmente, pra mim nao significa mais nada. Nadinha de nada. Sem familia por perto, entao.... acabou de vez qualquer simpatia que ainda houvesse restado. Mas tudo numa boa, nao to me sentindo como a crianca que descobre que Papai Noel nao existe. Foi um processo natural. Se a tal magia do Natal existe, pra mim ela ate deu uma rondada, mas agora correu pra beeeeem longe.


Mas.... independente de estar com a pior gripe da minha vida, cansada, estressada, tendo que resolver zilhoes de problemas praticos (como mudar de casa AGAIN) num curtissimo espaco de tempo e otras cositas mas, tenho motivos suficientes pra dizer que estou terminando meu ano com chave de ouro e, principalmente, comecando o novo do mesmo jeito: Valeria mudando pra Bournemouth e fazendo nosso sonho de infancia come true; Rafa-meu-irmao-meu-amor-meu-amigo vindo passar um tempo comigo; Van e Elo all the time, for everything, like a family e, NO CREO, Istanbul, Istabul, Istanbul!!!!!!! Ja aviso desde ja que o risco de eu resolver ficar por la existe, e nao eh pequeno. =))


domingo, 30 de novembro de 2008

Bitter.

Final de semana intenso de balada. Quinta, sexta, sábado. Se não estivesse tão frio, iria hoje de novo. Beberia de novo. Não há álcool suficiente no mundo pra encher o universo de coisas que eu quero afogar dentro de mim.
Sempre paro de beber. Sempre decido não beber nunca mais na vida. Mas realmente não ha nada melhor pra se fazer quando você está se sentindo um lixo e quer ficar pior. Adoro ir até o fundo do poço quando me sinto assim.
Sempre paro no meio do caminho das boas coisas, dos meus projetos e de tudo aquilo que exige disciplina e perseverança. Mas quando me sinto mal, ou sei que estou fazendo o que não vai ser bom pra mim, aí sim, vou até o fundo. Não paro até sentir o extremo da dor. O bom de estar na merda é se afundar nela.
E continuo teimando em ser assim. Insistente e conscientemente estúpida.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Carta, amor, o antes e o agora.

Carta escrita pra minha mãe há dois meses atrás, com alguns trechinhos suprimidos.

Algumas coisas mudam muito. Outras, simplesmente não se movem.

Bournemouth, 15 de Setembro de 2008.

Mamãe querida, meu amor...

Desculpe a demora em escrever, mas meus dias têm sido cada vez mais corridos, nem vai rolar de escrever esta carta à mão, pra você ter uma idéia...

Antes de mais nada quero que saiba que eu não posso dar a atenção que você merece e que eu gostaria, infelizmente não posso te ligar toda hora, nem mandar mensagem e tudo, mas POR FAVOR, querida, entenda que eu penso em vocé todos os dias, todos os minutos, minha familia amada é um pensamento constante na minha cabeça, e o amor por vocês é constante no meu coração, e o que há demais forte em mim.

(...)

Quanto à mim, meu amor, tudo vai bem... Não quero mais reclamar, não quero mais me desesperar, resolvi mudar a minha postura antes que a minha própria impressão sobre as coisas me afundasse num mar de negatividade... Nada pode ser tão ruim assim, eu PRECISO começar a enxergar as coisas por outro ângulo... estou aqui por escolha própria, estou aqui como resultado de um esforço (prático e emocional) de todos nós, estou realizando um sonho e não posso admitir que as dificuldades sejam tão maiores que as vantagens. Vou seguir em frente. Isso não significa ficar aqui em Bournemouth, necessariamente. Sequer significa ficar na Inglaterra. Mas a verdade (e acho que essa verdade, lá no fundo, te dói um pouco) é que não sinto que seja hora de voltar definitivamente para o Brasil. A minha vontade de ver vocês, de passar um tempo na NOSSA casa, sentir o seu cheirinho, curtir você, a Mari, o Theuso e o papai, e meus amigos, e a minha cidade, e o meu país, é simplesmente GIGANTESCA, monstruosa, maior que tudo. Devoradora do meu próprio coração. E, por isso, vou fazer de tudo para poder realizar esse desejo, ainda que isso vá contra a opinião de muita gente (que acha que eu deveria aguentar mais tempo por aqui, ja que é tão difícil sair da primeira vez). Exatamente, é difícil sair da PRIMEIRA VEZ. Sinto isso tão forte, essa sensação de estar mais solta, mais livre, de achar que viajar não é um bicho de sete cabeças, que não é tãããoooo difícil assim. E, por isso, não tenho o menor receio de ir visitar o Brasil. Mas sei que, dessa primeira vez, será mesmo uma visita. Não vou voltar sem o inglês fluente do jeito que eu quero. E não vou voltar sem ao menos ter alguma "dica" do que eu quero, profissionalmente falando. Me perdoe pelo chavão, mas estou mais perdida que cego em tiroteio. Nunca me senti tão sem foco. Sei que ele existe, mas simplesmente não consigo achá-lo. E sei que no Brasil eu tenho muito mais chances de me "encontrar", mas eu PRECISO ir atrás do maior objeitvo: atingir um DIFERENCIAL. Voltar com, pelo menos, um curso na minha área, algum novo conhecimento, um estágio que seja. Tudo bem que a minha falta de auto-confiança é tão grave que não me sinto muito capaz de conseguir as coisas, mal sinto que posso, mesmo, entrar em alguma universidade ou bom curso por aqui, mas é exatamente para quebrar esses paradigmas que eu preciso continuar. Lutar, sofrer, não importa. Mas eu preciso provar pra mim de que sou capaz de alguma coisa. Porque sinto que todas essas qualidades que as pessoas atribuem a mim são ilusórias, talvez eu mesma as tenha construído. Sou muito boa nisso, em "parecer boa". Mas na verdade, não sou. Na verdade tenho bloqueios e defeitos muito grandes e graves que fazem de mim uma pessoa sem iniciativa, preguiçosa, com medo e com falta de coragem para enfrentar as dificuldades, a concorrência, as batalhas todas. E eu não quero me deixar abater por essas fraquezas. Estou conhecendo meus limites, exatamente porque eu quero QUEBRÁ-LOS. Preciso ao menos tentar. Preciso conquistar ao menos alguma coisa útil que, na prática, vá ajudar na minha vida. Preciso conquistar alguma coisa a mais do que a simpatia das pessoas. Preciso conquistar mais do que amigos, que namorados. Agradeço a Deus INFINITAMENTE por ter me abençoado com estes presentes maravilhosos que são as pessoas que eu tenho na minha vida. Mas eu preciso dar um jeito de desenvolver meus outros potenciais. Preciso ser mais inteligente, preciso ser mais esforçada, preciso de um bom emprego. Preciso estudar mais, ler mais, preciso fazer qualquer coisa que me faça sentir um pouco melhor, porque não dá pra viver se sentindo assim, tão fracassada. Não que eu me sinta uma perdedora, uma pessoa sem qualidades. Não é isso, e nem quero que você pense uma coisa dessas porque sei que te machucaria. Mas me sinto como uma caixa fechada, cheia de energia lá dentro, de super-poderes, mas trancada. Então a minha luta será esta: quebrar essas correntes, tirar a poeira das minhas asas e VOAR. Se eu atingir só a mais baixinha das nuvens, já estarei feliz. Só quero sair do chão, só quero sair da mediocridade, da inércia. Não quero sentir o mundo me empurrando, e eu aqui parada. Quero, eu mesma, ajudar a empurrar o mundo, lá pra frente, com as minhas próprias mãos. E preciso começar com o MEU mundo. E é exatamente essa a dificuldade. Mas vamos lá. Vou continuar tentando, ainda que caia, tropece, levante e caia de novo.

Resumo da ópera: mesmo sabendo de tudo isso, ainda não sei por onde começar. Há dias em que penso em tentar morar um pouquinho em Londres, pra ver se aparece algo mais interessante do que aqui. Sinto falta de gente interessante. Muita falta. Mas Londres me dá preguiça só de pensar. Trânsito, chuva, distâncias enormes, violência, zilhões de pessoas. A mesma loucura e movimento que me atraem, me assustam. Também penso em tentar me centrar e equilibrar aqui em Bournemouth mesmo, onde o custo de vida é mais baixo, e me dedicar a fazer um curso na Universidade daqui, que é boa na minha área. Ou em ficar mais uns meses aqui para dar um "up" final no inglês e fazer esse mesmo processo de "aprender a língua e depois fazer um curso interessante", mas na Espanha (onde tem universidades conceituadíssimas na área de comunucação). E também penso, ainda, na minha trip pelo mundo, trabalhando um pouquinho e indo pra outro lugar, assim mesmo, sem grandes programações, deixando rolar. E penso no trabalho voluntário na África. E penso no "estaágio" espiritual na Índia. E, por último, penso em ir para o Brasil em breve, passar dois meses e me mandar para a Austrália. Continuar estudando inglês e batalhar uma especialização na minha área. A Austrália não tem construções antigas e monumentos em homenagem aos mortos na Guerra, mas tem ESTRUTURA. DINHEIRO. VISÃO. A economia aqui da Inglaterra também, por azar, entrou em recessão pela primeira vez em 60 anos. O valor da libra está caindo e não é mais um "negócio da China" você ganhar em pounds. Dá praticamente na mesma se eu for pra Austrália e ganhar em dólares australianos. E lá, quem diria que eu ligaria pra isso, tem o clima parecido com o nosso. Nunca imaginei, mas como é horrivel o frio, a chuva assim tooooda hora. Não é à toa que os índices de depressão na Inglaterra são dos mais altos do mundo. Aqui, no inverno, anoitece às 3 da tarde. Ou seja, quando você acorda pra ir trabalhar, tá escuro. Quando você sai do trabalho, já tá escuro de novo. E isso dura 3 meses. Como não se sentir amargurado???

Tá bom, eu sei que parece que estou tentando te convencer de que meu plano é realmente incrível, e no fundo é um pouco verdade, visto que eu não consigo dar um passo com paz no coração se eu não tiver a aprovação SINCERA de você e do papai, mas de qualquer forma o que quero é a sua opinião... Como amiga, como MÃE, como uma pessoa vivida e também como uma filha FIEL de Deus e que muitas vezes é verdadeiramente inspirada por Ele.

Bom, mas enquanto isso, minha vida segue aqui. Moro numa casa com mais 4 pessoas e o Rafa. São um casal de poloneses, da nossa idade, e mais duas irmãs, também polonesas. E o Rafa aqui comigo. Mas como ele está indo embora dia 14 de outubro, vou ter que me mudar DE NOVO. Acho que será a minha quinta casa. Haja paciência! Mas é que o quarto aqui é grande, e pra morar sozinha ficaria muito caro, eu não poderia pagar. E não quero dividir com mais ninguém. Ninguém MESMO. Quero curtir o banzo inicial de ficar sem ele, e depois dar rumo pra minha vida sozinha, começar de novo. Eu e a minha baguncinha, de mais ninguém. Eu e a minha insônia, e mais nada. Sim, sofro de insônia na Inglaterra. Têm melhorado nos últimos dias, mas ainda não tá 100%. Nunca imaginei que pudesse ser tao horrível não conseguir dormir....

(...)


O trabalho está indo também, eu quase tive um crise histérica de stress e frescura por não suportar mais ser faxineira, mas me deram 4 dias de folga em que eu me "internei" no quarto e descansei tudo o que estava precisando. Funcionou. Voltei renovada, e agora estou amando meus velhinhos de novo. Tá bom, tenho vontade de chorar e vomitar quando estou limpando as privadas, mas depois do banho passa a sensação de estar suja. Ai, Deus!

(...)

Bom, minha princesa, o resumo emocional e prático é este, agora é 1:30 da matina e eu tenho que acordar muito, muito cedo. Vou mandar essa carta o quanto antes, pra evitar que os assuntos "caduquem".

Te amo mais que tudo na vida, maezinha, e não vejo a hora de te abraçar, te beijar, comer sua comidinha, deitar no seu colo, assistir novela contigo, chegar da balada e te contar os bafos às cinco da manhã, acordar falando "OI NECRA!", cheirar seu travesseiro beeeeeeem fundo só pra sentir o seu cheirinho, tomar chimarrão na grama do nosso jardim, ganhar seu beijo de boa noite, de bom dia, abrir os olhos na minha cama e saber que você ta na cozinha fazendo pãozinho de minuto, passar o domingo inteiro em casa comendo as suas invenções gastronômicas, e muuito, muitooooo mais coisas gostosas que eu sinto tanta, tanta, tanta falta que só de escrever essas palavras meus olhos se enchem de lágrimas, e meu coração de AMOR.

Minha linda, aguenta firme que eu não vou ficar longe pra sempre não, ta???? Só vou crescer mais um pouco e já volto!!!!

E mesmo longe, mesmo que eu va laaa pro outro lado do mundo, eu estou SEMPRE, SEMPRE, SEMPRE com você, meu coração batendo junto com o seu, e minha mão segurando a sua, com a alma e o pensamento unidos em AMOR INCONDICIONAL e ETERNO!!!!

SEJA FELIZ, MEU AMOR, QUE ISSO ME FARÁ SEMPRE FELIZ!!!!

AMOR, AMOR, AMOR,

Sua Julinha

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Botão do Foda-se


Que delícia. A mais indecisa das pessoas conseguiu tomar uma atitude.

Fui pro trampo (do asilo) na segunda-feira, já comecei a ter uma crise (interna) de saco cheio (na lua mesmo) de fazer faxina e aguentar certos seres de energia inferior, resolvi pedir demissão e pronto. Pedi.

Não que tenha sido a coisa mais fácil do mundo, deu um medinho ("tá com medinho?". Tô, caraio, e daí?), mas a vontade de dar uma sacudida na poeira foi muito maior. Que é isso, meu Deus, tô em outro país pra viver experiências e aprender coisas, posso saber o que é que eu to fazendo enfiada numa rotina que eu não gosto, num trabalho que não vai me acrescentar na-di-nha de nada? Tive esse estalo, bem lá no meio da minha primeira faxina do dia, e foi enough pra ter coragem.

Gente do céu, foi tipo fazer xixi depois de três horas apertada num ônibus sem banheiro. Alívio.

Agora o desafio tá lançado, tenho um mês pra arrumar outro trampo. E vou. Caso não role, o plano B entra em acão. Lets see.

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Hoje to in love com a Inglaterra. Sei lá, o dia amanheceu tão bright, minha casa tá tão limpinha, meus amigos são tão queridos, a única dúvida do momento é entre passar o reveillón em Londres ou em Edimburgo, enfim... mesmo que eu quisesse, não tenho do que reclamar. Ufa! Sorte de vocês (né, Rafa?).

AMO! AMO. A-MO!

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

O Bom Filho à Casa Torna - II

Voltei, e dessa vez tem que ser pra ficar.

Fiquei todo esse tempo me cobrando por ter largado o blog, mas re-al-men-te não sobra energia, nem tempo, e nem computador eu tinha.

Agora não tenho mais essa desculpa, investi os frutos desse ritmo louco de trabalho na minha primeira aquisição (material, evidentemente) desses tempos de Inglaterra: meu laptopzinho, fofo, ombro mais fiel das minha lamúrias e desabafos de toda natureza. :-)

Confesso que a preguiça arrasa com a minha vontade de escrever, mas o tempo está passando, a vida tá acontecendo, eu continuo morando fora do meu país e vivendo uma experiência única, e não posso deixar isso tudo passar em branco.

Antes de mais nada, então, diante dos longos dias de abandono, o "overview" se faz necessário. De novo.

Trabalho(s)

Estou com dois empregos agora e, por isso, sem tempo pra quase nada. Há dias em que faço mais de 12 horas, dividindo 6 no trampo da manhã e 6 no da noite... Parece muito, mas com um intervalinho no meio da tarde pra eu dormir ou fazer outras coisas até que não é tão foda de encarar. E não adianta: eu, como boa taurina, prefiro me jogar no trabalho do que ficar no perrengue. Cansei, definitivamente, de perrengue. Não que eu esteja com a intenção de fazer grana, de comprar altas coisas, ou de fazer uma super poupança pra investir em algo no Brasil. Nada disso, embora - claro - um dinheirinho seja sempre bem-vindo. Mas tô falando só sobre uma zona de conforto, de não ficar sempre no gargalo, de poder sair e pegar um taxi sozinha a hora que eu bem entender pra voltar pra casa, dar uma viajada eventualmente, essas coisas. E como aqui a vida não é das mais baratas, o jeito é trabalhar assim mesmo. Tudo bem que eu acho que não dá pra aguentar muito tempo nesse ritmo (pelo menos não é dos mais saudáveis), mas por enquanto eu to levando na boa, então "let it flow".

Continuo no "asilo", tive um problema sério lá e achei que tinha perdido o emprego, mas no fim as coisas mudaram de figura e eu acabei ficando. Depois conto direito a história, porque ela vem de um fato que gera um post exclusivo, mas enfim... continuo com meus velhinhos 6 dias por semana, todas as manhãs. Ficaria com eles por todos os meus dias aqui em Bournemouth, desde que eu não tivesse que limpar os apartamentos. Mas eu tenho. E não aguento mais. Simplesmente não suporto, tenho crises de querer largar tudo e sair correndo, não quero mais fazer limpeeeeeeezaaaaaaaaaaaaaaaaa!

O bom é que, quando eu tenho esses ataques, tomo vergonha na cara eu começo a procurar outros trampos. Passo a passo, sem tanta pressa. Se eu for pra qualquer restaurante, bar, café, qualquer coisa que eu não precise faxinar loucamente, já to achando liiiiindo. E isso é o que não falta aqui, eu é que tenho um problema ridículo de (falta de) auto-confiança e náo me achava capaz de trabalhar assim, tãããão diretamente com o público, porque não conseguiria entendê-los, e tal. Maior viagem. Comecei a trabalhar num bar/restaurante aqui na frente da minha casa e to simplesmente amando. Foi uma piração da minha cabeça mesmo, mas agora que eu quebrei o tabu vou conseguir sair do asilo very soon.

O trampo no restaurante tá sendo ótimo por várias razões, é exatamente em frente à minha casa; eu pratico inglês simplesmente all the time; um dos donos é praticamente um pai pra mim aqui (a outra dona é uma turca mal-humorada, mão de vaca e paranóica, mas o Majid compensa a imbecilidade dela); tenho organizado umas festas que estão dando suuuuper certo e isso me alivia um pouco da frustração de não fazer nada do que eu gosto, profissionalmente falando; eu economizo horrores com alimentação e como turkish food (que eu amo mais do que eu imaginava) a hora que eu quiser, e coisas desse tipo.

Casa

Ainda estou morando na mesma casa que eu morava com o Rafa, mas agora divido o quarto com uma loira bafônica linda! =) Anos depois de dividirmos o apê na São Gonçalo, quem diria, eu e Elô aqui de novo, juntinhas, dessa vez versão Europa. Tudo bem que eu to um pouquinho cansada de dividir quarto, casa e tudo, mas não há outra pessoa com quem eu admitisse dividir o teto neste momento (com exceção do Henrique, com quem eu dividiria até meio metro debaixo de uma ponte), que não ela. Já conhecemos direitinho os defeitos e virtudes de cada uma, manjamos o humor uma da outra na primeira olhada, fazemos comidinhas gostosas, choramos de soluçar com filmes românticos, nos cuidamos e nos puxamos a orelha quando é preciso (pra dar uns choques de realidade). Fiquei doente esses dias e, realmente, não sei como seria se ela não estivesse aqui. Eu estava a ponto de pegar um avião direto pro colo da minha mãe, pra sopinha e cuidados dela. Mas a Elô tava aqui e segurou muito, mas muito bem as pontas.

A gente queria continuar aqui na casa, mas tá ficando impraticável de caro, porque temos que pagar pelo gás, que é o que esquenta a água, o aquecedor, o fogão e tudo mais. Com o frio, gasta-se o dobro, mas a gente não tá podendo. Lá vou eu mudar de novo... haja paciência! Nessas horas dá vontade de aproveitar e mudar de país, ou de cidade no mínimo, mas enquanto minha cabeça estiver borbulhando de idéias ainda meio nebulosas, acho mais seguro ficar aqui paradinha.

Amigos

Gente boa (demais) ao meu lado nunca faltou, graças a Deus tenho esse presente na minha vida, os bons amigos... mas ultimamente tem rolado uma troca muito boa com a nossa "turma misturada". Suíços, franceses, venezuelanos, italianos, turcos e brasileiros, juntos todos os dias, dividindo jantares, cervejas, idéias e cultura. Nada de papos super intelectuais e inteligentes o tempo todo, mas a convivência tão intensa e mesmo as bobagens que a gente fala numa mesa de bar ou no fim da balada vão mostrando as nossas diferenças e semelhanças e isso é simplesmente apaixonante. É um jogo de descobrir coisas, dia a dia, e não tem como negar: é o que faz toda a saudade valer a pena.







Saudade

O sentimento muda, aperta, dá força ou tira o fôlego. Mas está presente todos os dias, todos os segundos, e não me deixa esquecer do Brasil nem por um momento. E isso, no aspecto racional da coisa, não é tão bom assim. Mas eu sou movida a emoção e essa, em especial, é o meu combustível pra organizar os planos, colocá-los em prática, e voltar logo pro meu ninho.

Amor, amor, amor.

sábado, 20 de setembro de 2008

Declaraçao de AMOR


Nao eh nem mais saudade o que eu sinto do meu pais. Eh PAIXAO.

Antes de vir, eu realmente acreditei que pudesse querer ficar por aqui. Que Brasil, de novo, talvez so para visitar, como acontece com tanta gente que vai, e nao volta.

Como pude estar tao errada? Como pude pensar tamanho absurdo?

Nao, nao esqueci o tamanho dos nossos problemas, proporcionais ao tanto de terra, de agua, de beleza e de gente que temos. Nao esqueci do transito na Berrini e da Marginal Pinheiros que me faziam chorar de desespero todos os dias as seis da tarde.

Nao esqueci o medo de passar debaixo do viaduto da Roberto Marinho sozinha, voltando pra casa. Nem o trem da CPTM absurdamente, desumanamente lotado, saindo de Osasco rumo a Jurubatuba. Hahaha. Tambem nao esqueci a corrupcao ridicula e descarada, a (nossa) falta de atitude, as favelas e esgotos a ceu aberto, a falta de educacao, o monte de erros do passado e do presente que temos pra consertar.

Mas Brasil, Brasil mesmo, nao tem nada igual. Nao tem nada melhor. Eu nunca vou abandonar meu pais. Nao ha gente como a nossa gente, nao ha musica como a nossa musica, nao ha festa e alegria como as nossas, nao ha clima, nao ha paixao pela vida como a nossa. Nao ha comida como a nossa, nao ha carnaval, nao ha samba, nao ha tanta poesia brotando de todos os cantos, como ha no Brasil.

O dia amanheceu lindo aqui no sul da Inglaterra, o sol ta brilhando e, ainda assim, nao da a mesma vontade de viver. A mesma graça.

Hoje eh sabado, passei a manha toda trabalhando, e meu coracao esta imerso numa mistura de saudade, orgulho, gratidao, felicidade e VIDA. Tudo porque sou brasileira.

Senti muito pelas pessoas que nao saberao o que eh a energia do nosso lugar. Senti pelas pessoas que nunca poderao estar la, e pelas que poderao, mas nao saberao entender e conhecer o que eh, de verdade, o Brasil e o brasileiro.

Somos VIDA. E a minha, hoje, se encheu de brilho soh de pensar nisso.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Breathing

Que essa montanha de pensamentos pare de me atropelar.

Que essa tempestade, ora de desejos ora de falta de energia, tambem pare.

Que as aguas se acalmem.

Que as nuvens flutuem pra qualquer lugar que nao seja o topo da minha cabeça.

Que o ceu se abra. Que o sol ilumine meu caminho.

Que as ideias se clareiem.

Que a fé volte pro meu coraçao. Mas que venha rapido.

Que eu consiga tomar decisoes.

Que eu retome as redeas.

Que a paz ache a entrada da minha alma, e nao encontre a saida.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

O futil e o Sublime.

A balada na Inglaterra eh engraçada demais. Soh aqui voce ve o Mario e o Luigi, o Homem-Aranha e a Mulher-Maravilha dançando horrores, sem estar num festa a fantasia. Soh aqui, tambem, voce ve meninas vestidas de calcinha, sutia e cinta liga sem estar num desfile, num puteiro ou entre quatro paredes. Aqui, seja a balada que for, seja numa segunda ou num sabado, personagens desse tipo povoam a balada alegremente sem o menor constrangimento.

E eles bebem muito. Dos 12 aos 60 anos, nao importa: ingles enche a lata. Mas bebe muito mesmo, mesmo, sem exagero algum. Nao ha quem acompanhe. Nao sei se eh na quantidade ou soh no efeito (desastroso), mas o fato eh que eles ficam muito bebados e, geralmente, muito chatos por causa disso. Dao trabalho, enchem o saco, arrumam briga, jogam toneladas de lixo (comida, geralmente) no chao. Alias, alem de beberem loucamente, eles tambem comem muito. Seja a hora que for, seja onde for: parques floridos e ensolarados, praia lotada ou nao, porta de balada: la estarao eles com seus kebabs, lanches e, PRINCIPALMENTE, suas caixinhas de chips nas maos. Chips sao as nossas tradicionais batatas-fritas. Eles comem isso o tempo todo, se lambuzam, nao estao nem ahi. Oooo, delicia!

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Mudando completamente de assunto, eu IMPLORO que assistam um filme, meio documentario na verdade, chamado BARAKA. Eu coloquei ele inteiro nos meus videos do youtube, mas dividido em 10 partes, o que eh meio chato de assistir. Entao sugiro (mais: realmente recomendo) que façam o download e assistam direto.

Nao da pra explicar. Queria que assistissem e tirassem as proprias conclusoes mas, basicamente, quem nao se sentir uma merda de uma formiga e, ao mesmo tempo, parte da maravilha absoluta que eh o universo, acho que nao pode se considerar humano. Nao entendo como o filme nao eh mais comentado, nao entendo como nao havia ouvido falar dele ate hoje. Assisti soh com ingleses ao meu lado e, na falta de palavras (em ingles) pra explicar o que eu estava sentindo, simplesmene chorei.

O video ahi embaixo eh soh um trailer que eu encontrei no youtube, mas que de repente ja da pra dar uma ideia. Por favor, facam isso por mim.

Saudades demais, me doendo de uma forma que nao da mais pra falar.

http://www.youtube.com/watch?v=dYZ8RWqqicQ

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

E sigo...

PRA COMECAR

Ja que nao rola vontade de falar da minha vida, porque a vida aqui nao muda muito depois dos primeiros meses de surpresas e descobertas, vou tentar voltar a falar um pouco da Inglaterra.

Soh nao sei se, no final da divagacao, eu vou ficar com mais vontade ainda de ir embora, ou se da pra fingir um animozinho com relacao a esse pais CHATO. Ta bom, pode ser que exista uma "crise dos 5 meses", pode ser que ja passe (e na verdade eu realmente acredito que passe), mas a verdade do momento eh que eu estou convencida de que nao gosto muito daqui.

Nao ha duvidas, a Inglaterra eh chata! Eh bonita pra visitar, tem paisagens incriveis, tem cidades dignas de serem conhecidas por todo mundo, carrega historias incriveis e pessoas com historias incriveis (me refiro aos velhinhos que passaram pela Grande Guerra e ainda estao aqui pra contar). Mas de resto, to be honest, eh um verdadeiro tedio.

O tempo eh realmente massacrante e falo isso em pleno verao, quando as pessoas estao incrivelmente alucinadas com uns raros dias de sol. Nao achei que o tempo fosse TAO capaz de deprimmir, ou de animar. A chuva e o cinza definitivamente geram sentimentos de tristeza, de aperto no peito, de saudade aguda a ponto de quase nos convencer a ir embora. Fico pensando no inverno, e confesso ter medo dele. Ou melhor, medo de mim passando por ele.

Alem disso, acho que o que mais incomoda sao os ingleses. Eu tento, tento, juro que tento. Mas em 5 meses nao consegui achar pessoas interessantes. Com rarissimas excecoes de amigos que eu faco questao de manter (um ou dois), os ingleses nao me atraem. Nao, nao to falando de homem (embora essa tambem seja uma verdade das mais absolutas). Estou falando de pessoas, de papos, de personalidades que me interessem. E quem conhece, sabe: pra me despertar empatia, basta ser humano. Pra eu querer conhecer, conversar, estar junto, gostar, as vezes bastam 5 minutos. Mas nao aqui. Eu ate tento, faco amigos na balada e saio depois, sobria, pra conhecer melhor e tentar acabar com o estigma, mas ate hoje nao deu certo. Nao ha no mundo povo mais sem graca. Nao to falando isso em tom de preconceito, de forma nenhuma, mas eh uma simples (e irritante) constatacao. Nao tenho paciencia pra ingles. Se bem que nao ando tendo paciencia pra turco, pra arabe, pra colombiano, coreano, chines e sequer pra brasileiro mala (que tem aos montes). Opa, sera que o problema eh comigo? Eu juro que eu queria colocar todo mundo durante um dia, soh um dia, tendo que assistir aula com a minha sala, andar na minha rua (praticamente um reduto ingles do oriente medio) e ir trabalhar la no asilo. Garanto que iriam me entender.

Mas ta bom, to soh desabafando, prometo que vou respirar fundo e passar pela crise e me focar no objetivo. Na verdade nao to pensando em desistir, longe disso. Soh queria mudar de pais (com acento agudo, deixemos claro, porque meu pai e minha mae eu nao mudaria por nada!). Nao sou obrigada a gostar daqui. Sou?

PS: acabamos de constatar o que ja sabiamos: eu realmente soh consigo parar pra escrever quando to na fossa. Ma nao eh nada grave, gente, prometo.


...OVERVIEW...

Tirando isso, ta tudo bem. Desculpa ser repetitiva, mas preciso falar que meus amigos sao a coisa mais deliciosa da minha vida. Nao sei o que seriam desses dias sem eles, especialmente a "familia" Van-Rafa-Mah.

Passei por um luto antecipado porque o Ra nao ta suportando toda essa chatice e vai voltar pro Brasa muito antes do esperado. Passei dias e dias sofrendo, com o coracao apertado soh de pensar na nossa vida sem ele aqui. Foi horrivel mas foi bom, porque fiquei tao triste que decidi encarar de uma vez essa dura realidade de viver fora: as pessoas vao e vem, todo o tempo.

Despedidas viram parte da rotina, e nao ha nada mais adequado pra se praticar "a arte do desapego". A gente vai morar em outro pais e pensa que vai ficar independente, aprender mais do que nunca a se virar sozinho e tudo mais. Soh que quanto mais perrengue, mas voce se apega a quem esta proximo. E quanto mais voce se apega, mais dificil eh a despedida. Pra pessoas assim como eu (90% emocao e 10% razao), entao, eh algo a ser trabalhado mesmo. Otherwise, vou viver dia a apos dia amargando ausencias antes mesmo delas acontecerem.

Depois de todo esse processo resolvi, enfim, aceitar e parar de sofrer. Aproveitar cada diazinho ao lado de cada pessoa especial que passar pela minha vida, e pronto. Quando a saudade bater, a gente sente e depois passa. Alias, se tem algo que somos obrigados a suportar, engolir com farinha mesmo, eh a saudade. Mas tem dia que ela quase vence. Tem dia que se rolasse um dinheirinho sobrando na conta, ele viraria uma passagem LONDRES-SAO PAULO e la eu estaria sem um aviso sequer. Mas nao sobra o tal dinheirinho, e acho que tudo deve ser meio pre-programado pra que as coisas acontecam no seu devido tempo.

E assim seguimos, todos nos, cada um com seus momentozinhos ruins e outros nem tanto, aguentando o tedio e as eventuais diversoes dessa terra chatinha, mas que ainda vai fazer falta um dia.


RAPIDINHAS SOBRE ESSA TERRA ESTRANHA

Ja falei que essa historia de pontualidade inglesa nao eh 100% verdade? Os onibus sao irritantemente desorganizados, nunca passam no horario e soh nao ficam muito cheios porque se tem 3 pessoas de peh o motorista ja ignora a galera que ta parada no bus stop e nao deixa mais ninguem entrar ate que os outros descam. Falando em motoristas, eh legal que aqui eles tem a maior moral. Se tem mulecada dentro do busao fazendo muita zona, nao eh raro os caras pararem o onibus ate alguem pedir desculpas ou descer. E, de maneira geral, mesmo adolescentezinho chato metido a malandro acaba respeitando os caras.


Falar que aqui nao tem transito tambem nao eh das maiores verdades. Estamos numa cidade relativamente pequena e ha tres ocasioes que o transito chega a te atrasar para compromissos ou te tirar realmente a paciencia: SOL (o mundo inteiro resolve ir pra praia ou mesmo sair na rua e vira um caos total); CHUVA (nao entendo porque, ja que nao temos enchentes, mas bastou chover pra se formarem filas inacreditaveis nas ruas); e HORA DO RUSH (sim, especialmente perto das seis da tarde, pode encostar a cabeca no vidro da janela e dar uma dormidinha, porque vai demorar pra chegar onde quer que voce esteja indo).


Os ingleses tem meio que um pessimismo acoplado na personalidade deles e que se manifesta quase involuntariamente. Exemplo? Voce encontra alguem e fala "Hello, Fulano! How are you???" (com o maior sorrisao brasileiro na cara). A resposta? Em pelo menos 80% dos casos, deve ser "not too bad, thank you..." (com uma cara de "eh, bom nao ta...").

Nao, gente, fala a verdade: falar que "nao ta taaaao mal" ao inves de "tudo bem" eh muito depressivo, na boa. Falar de vez em quando va la, mas pra eles essa resposta eh a normal, a de quando ta tudo bem mesmo, nada de especial. Sinceramente, acho de uma negatividade isso... porque, por acaso o estado normal das pessoas eh estar mal, eh isso que eles usam como base?

Ta, eu sei que eh soh uma expressao, mas eu acho que usa-la toda hora implica numa carga "nao tao boa"... (olha eu tentando ser zen depois de escrever linhas e linhas de lamurias).


Ha diversas maneiras de falar "sobremesa". Pode ser dessert, pode ser sweet, pode ser pudim e outras coisas mais. JA pedi pra me explicarem a diferenca (especialmente porque pudim, pra mim, era pudim mesmo, e nao eh), mas me falaram que nao tem uma diferenca propriamente, voce pode usar qualquer uma das palavras que pode servir pra designar uma torta, um bolo, um creme, ou qualquer outro doce que voce sirva depois do almoco ou jantar.


Eles estao tao acostumados a tomar cha (com leite, geralmente) o dia inteiro, que nao eh apenas pela tradicao e muito menos as cinco da tarde. Sao xicaras e xicaras durante o dia, milhares, e o curioso eh que pra eles, serve para matar a sede. Sim, tipo um copo de agua. Aquela mega xicara de cha com leite fervendo, e eles tomam dizendo: "aaaahhh, que delicia, nao estava aguentando de sede!".


Alias, falando nisso acho que nunca vi um ingles tomando agua, a nao ser as minhas velhinhas, um unico gole pra engolir comprimidos. Ah, e a maiora esmagadora das pessoas aqui toma agua da torneira. No comeco eu tentei resistir, mas a essa altura claro que eu ja desencanei e, pelo menos ate agora, nao me deu nem uma dorzinha de barriga.


Sim, eles comem batata todos os dias. Todos os dias. Arroz eh rarissimo, mas batata eh algo assim... obrigatorio no cardapio.


Muita gente, mas muita mesmo, fuma cigarro de enrolar. Acho que eh porque eh mais barato, mas a questao eh que pra onde quer que voce olhe na rua tem sempre alguem bolando um cigarro. E eu, caipirona de primeira viagem, demorei uns diazinhos pra me ligar de que nao tinham mudado a lei e legalizado a maconha... mas ate isso acontecer nao pude evitar o pensamento: "gente, mas quaaaantaaaa gente fumando maconha! Olha aquela senhora, que malandrona, fazendo o baseado direitinho!".
Haha, como sou ridicula!

domingo, 10 de agosto de 2008

Resuminho Informativo

O bloqueio pra escrever continua, mas nao da mais pra ficar sem dar sinais de vida.

A vida esta busy, a cabeca mais ainda, mas de uma forma boa, planos e planos.

O trabalho no asilo continua, e cada vez melhor. Me tiraram da cozinha, a partir de agora nada mais de lavar e carregar pilhas e pilhas de pratos e panelas. Melhor assim. Os outros trabalhos la dentro sao menos pesados, e assim posso conseguir mais horas fazendo care, que eh o que eu estou definitivamente amando.

Ta sendo maravilhoso pra praticar o ingles, ta sendo maravilhoso por tudo. To quase fazendo um tipo de curso aqui que te da qualificacao pra poder trabalhar com idosos, mas nao um trabalho de care disfarcado como este que eu faco. Eles nos contratam como cleaner pra pagarem menos, mas na verdade deveriamos ser registradas como "cuidadoras" (nao consigo lembrar a expressao certa em ingles agora), entao se eu tiver a qualificacao, posso ganhar pelo menos o dobro e continuar fazendo algo que esta sendo gratificante. Mas, como sempre, sao planos, e de planos eu estou lotada, imersa num mar deles!

A vida deu uma virada, mudamos de casa de novo, e agora pelo menos serao mais dois meses nesta aqui. Mudamos eu, Rafa e Mah pra um unico quarto, nao eh tao confortavel, mas com certeza confortante. Nao canso de agradecer a Deus pelos meus amigos. Simplesmente me surpreendo a cada dia, seja com os que estao longe, os novos, ou os de sempre: eh muito, muito, muito amor.

A parte que esta "emperrada" eh a escola. Simplesmente a paciencia acabou, o cansaco do trabalho me derruba, nao consigo me manter acordada, mudei de turma e nao ha forma de rolar uma simpatiazinha que seja por ninguem (e olha que isso eh algo absolutamente raro). Paguei o curso ate outubro e estou me obrigando, mas tenho faltado horrores e me sentido muito culpada. Nao que eu tenha aprendido o ingles que eu queria, longe disso, mas as aulas tem me parecido cada dia mais chatas, e chatas, e chatas.

Em compensacao, resolvi tomar jeito e entrar na academia, levar a serio (alias, to levando muito mais do que a escola), e isso tem me feito um bem sem tamanho. Deus me ajude a nao permitir que a minha indisciplina me faca desistir mais uma vez.

Por ultimo, soh tenho a dizer que nao quero por as ideias na mesa agora, tem muita coisa rolando aqui nessa cabeca confusa, feliz, cheia de esperanca de que tudo muda sempre pra melhor!

E se ja esta tudo bem, soh posso me sentir feliz e com a certeza de que ficara ainda melhor. Vamos em frente. Crescer doi mesmo, e assim sera sempre.

Soh desejo a todos nos muita força e muito amor!

As saudades continuam apertando, mudam de figura e me trazem todos os rostos bem a frente dos meus olhos, cada dia de uma coisa, cada dia de alguem, cada dia de um dia...

segunda-feira, 14 de julho de 2008

O bom filho a casa torna

Vem, inspiracao. Vem, inspiracao. Vem, inspiracao.

Eu soh consigo escrever quando to depre. Definitivamente. Deve ser a minha alma de artista. Hahaha. Por causa disso, portanto, to botando um ovo aqui ha dias pra tentar escrever um pouco, e simplesmente nao rola. Se formos analisar, ate que eh um bom sinal. As angustias estao menores, menos incomodas.

A chegada da Mayra mudou tudo. Mudou a cor do dia, mudou tudo. Conversamos ate tarde. Tomamos cafe da manha juntas (em pe, na cozinha, e correndo, mas juntas). Fazemos jantarzinho a noite. As vezes soh eu, as vezes soh ela, as vezes together. Mas comemos sentadinhas na sala, conversando. Falamos das expectativas. Fazemos planos. Pedimos a opiniao uma a outra sobre qual roupa vestir. Sofremos de cansaco. Uma chora, a outra da colo. Uma tem TPM, a outra faz um doce pra melhorar. E ela soh esta aqui ha duas semanas. Mal consigo lembrar como era morar aqui sozinha. Acho que eu dormia mais, mas sentia uma solidao dolorida e profunda.

Exatamente junto com a mudanca de rotina causada pela vinda da Ma, vieram outras tantas coisas, tao simples, mas tao boas! Visita de amigos queridos de Londres (de Atibaia, mais precisamente); momentos deliciosos com a Van (que sempre esteve aqui, mas nunca tao perto); baladas que eu, particularmente, nao gosto, mas que com companhias otimas acabaram sendo otimas; a MELHOR balada com as pessoas MAIS queridas (que foi o show do Fatboy em Londres); uma subita dedicacao a escola; alimentacao mais saudavel (ainda falta os exercicios!); alegria no final do dia, mesmo com o cansaco. Fase boa, enfim. Sabemos bem que aqui o que eh bom (e o que eh ruim tambem, eu acho) dura pouco. Mas nao to tao preocupada. Me sinto mais forte dessa vez, pra aguentar o tranco. E o tranco sempre vem.

(continua...)

16 de Julho de 2008.

A frustracao maior, dentre todas que eu tive ate agora, eh o fato de aqui de nada ser muito diferente de la. As vezes me pego lembrando das minhas expectativas antes de viajar, especialmente dos medos, e vejo quanto sofrimento foi a toa. Em nenhum momento, nestes 4 meses de Inglaterra, me senti realmente em outro pais. Talvez o problema seja dentro de mim - tenho serias indicacoes de que eh mesmo -, mas nao eh possivel que ninguem sinta essa decepcaozinha.

Perdoem-me a pieguice, mas realmente a globalizacao mudou tudo. Nada mais eh tao novo, tao diferente, tao exclusivo. Tudo eh uma mistura de tudo. Ta bom, eh interessante andar na rua e ouvir cinco linguas diferentes; olhar para qualquer lado e ver, na mesma direcao, uma loira platinada com uma saia de um palmo e oculos-escuros-gigantes-super-fashion-que-de-tao-fashion-viraram-carne-de-vaca; um ser androgino anorexico com roupas coladas no corpo, franja escondendo quase o rosto todo, olhos e unhas pintados de preto; mulheres cobertas dos pes a cabeca por burcas de todas as cores; um casal de velhinhos de 90 anos vestidos autenticamente como ciclistas profissionais e entrando num onibus, cada um segurando sua bicicleta dobravel e mais zilhoes de tipos - iguais e totalmente diferentes. Sim, eh gostoso de ver, eh ate colorido, mas quem disse que a gente nao tem isso em Sao Paulo, por exemplo? Gente de todo tipo, de toda cor, de toda nacionalidade?

Nao estou reclamando, e muito menos desdenhando a Inglaterra ou coisa que o valha. Soh estou aqui tentando descobrir o que, afinal, eu esperava encontrar. E ainda nao descobri. A sensacao eh de uma certa irritacao com quem imagina que vir pra ca eh algo assim, "incriiiiiivel". Talvez a irritacao seja comigo mesma, com as expectativas que eu criei antes de vir e que agora nem consigo mais lembrar quais eram (mas que sei que nao foram correspondidas a altura porque a unica coisa perceptivel eh essa frustracaozinha bem pequena, mas que fica viajando dentro de mim e me fazendo lembrar dela diariamente).

Nunca achei que nao iria ralar, que nao iria sofrer com o trabalho, que nao iria passar perrengue de grana. Isso definitivamente nao me surpreendeu. E embora eu reclame (do cansaco, da falta de grana, da dor nas costas e das maos horrorosas de pedreiro que eu adquiri com meu lovely emprego), encaro como algo quase indissociavel da experiencia de morar no exterior. Numa boa mesmo. Mas o tal sentimento de nao me sentir em um lugar novo eh exatamente relacionado a... sentimento. Estou ate hoje esperando sentir um "clique" e me dar conta, com uma certa emocao, de que estou em outro continente, beeem longe do meu pais. Deve ter dado algum problema na fiacao aqui dentro, porque se passaram 4 meses e o tal clique nao rolou.

Sera que eu se eu for viver com uma tribo aborigene ou com os monges no Tibet eu encontro o que estou procurando? Sera que o objetivo principal era mesmo aprender ingles ou no fundo eu queria mesmo era me sentir uma estranha num ambiente totalmente novo? Ah, acho que eu quero os dois, eh pedir demais?

Quero conhecer outra cultura, nao apenas leves diferencas entre um povo extrovertido e um contido; um que come, transforma e cria sabores por prazer e um que se contenta com refeicoes completamente insossas porque comem basicamente porque precisam do alimento pra sobreviver; entre um povo que bebe pra esquecer das mazelas da vida bandida que leva e um que bebe pra conseguir expressar os sentimentos e desejos porque eh reprimido quando sobrio.

Opa, perahi. Ate que nao eh tao desinteressante assim estar aqui... (mas juro que se tivesse menos brasileiros pelas ruas seria um pouco mais legal, desafiador. Ouvir portugues simplesmente todas as vezes que voce sai de casa eh algo assim... desanimador, eu diria).

Observacao sentimental sobre o trampo do asilo.

Ainda estou trabalhando naquela casa de repouso para velhinhos. Nao, na verdade nao eh uma casa, eh um condominio, cheio de otimos apartamentos habitados apenas por idosos. As vezes casais, mas geralmente velhinhos sozinhos. Nao apenas vivendo sozinhos, mas mergulhados numa profunda e triste solidao.

O ambiente eh dos melhores que trabalhei ate agora, a divisao do trabalho eh feita de forma tao organizada que eu nunca tenho que correr pra terminar em tempo, nunca tem algo realmente sujo a ponto de dar nojo, tudo corre na mais perfeita ordem. A realidade eh que, neste caso, o que faz a coisa funcionar eh o fato de ser um lugar para pessoas com boas condicoes financeiras.

Na Inglaterra essas casas para idosos sao a coisa mais comum do mundo, especialmente porque as familias nao costumam ficar com os velhinhos em casa, como no Brasil. Pra nos, sempre tem alguem que fica com a mae ou o pai em casa, cuidando, ate o fim da vida. Tudo bem que isso frequentemente da uma certa indisposicao entre os irmaos ou demais responsaveis pela pessoa, um jogo horrivel de empurra-empurra, mas no fim sempre tem alguem que cuida.

Aqui, da mesma forma que os pais praticamente expulsam os filhos de casa depois dos 18 anos (ou antes), ninguem fica cuidando de parente "veio". Mesmo que seja o pai ou a mae. Por isso, o servico de "care" (cuidar de idosos ou pessoas com deficiencia) eh muito, mas muito comum aqui (nao sei se na Europa toda ou soh na Inglaterra). O proprio governo tem agentes que vao visitar os velhinhos em casa para ver se ta tudo bem, fazer algo pra eles comerem, ajudar no banho, dar uma arrumada na casa, enfim, dar uma atencao mais do que basica e que os familiares geralmente nao dao. A Van, minha amiga, trabalha fazendo isso e ja pegou ate um senhor morto, em casa, abandonado. Se nao eh esse servico, o cara ia ficar la apodrecendo, porque ninguem da familia teve a bondade de ir visita-lo. Mas enfim, onde eu trabalho a coisa nao eh muito dramatica porque em questao de estrutura, os moradores tem do bom e do melhor. Eh como se fosse um hotel, refeicoes da melhor qualidade (vou falar disso em especial qualquer dia, nao consigo me conformar com a quantidade de comida jogada no lixo), tudo muito limpo, organizado, bem gostoso.

Ocorre que, alem de limpeza, nos fazemos um pouco de care tambem... nada que exija muita tecnica, porque nao tivemos treinamento e os velhinhos que moram la ainda sao capazes - teoricamente - de viver sozinhos. Vamos a casa deles, as vezes fazemos uma torradinha e um cha, as vezes arrumamos a cama, as vezes lavamos a louca, as vezes damos os remedios do dia, as vezes soh sentamos 15 minutos para conversar. Mas as vezes nao temos tempo pra conversar. E as vezes eles pedem pra gente ficar. As vezes eles convidam pra assistir televisao com eles. E TODAS AS VEZES que isso acontece meu coracao quase desaparece, de tao apertado. A cada dia que passa tenho saido de la diferente. Um dia com um no na garganta (isso quando nao choro dentro do elevador), um dia agradecendo a Deus pela minha vida e pela minha saude, um dia rindo sozinha me imaginando com 90 anos, um dia angustiada pensando na futura solidao que talvez nos aguarde, um dia com medo de quando a velhice chegar para os meus pais, um dia com medo de quando a velhice chegar para mim.

Mil coisas passam na cabeca, mas nao eh que seja ruim. Soh exige um certo equilibrio emocional, pra nao deixar esses pensamentos todos virarem tristeza. Mas no fim, de qualquer forma, eh muito bom. Bom pra dar valor pra vida, pra respeitar os outros e lembrar SEMPRE de que no fim nada importa, todo mundo vai envelhecer e precisar de alguem, bom pra exercitar a humildade, bom pra doar amor pra quem precisa (nem que seja 15 minutos).

Ja que eh pra encarar trabalhos dificeis, que sejam nobres pelo menos! =)

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Casa Velha, Bafao, Casa Nova

Tempo limitadissimo na internet. Vou tentar ser pratica.

Depois que eu me dei conta de que o grande lance de morar em outro pais eh justamente aprender a "furar" as ondas que aparecem, cada vez maiores e com intervalos mais curtos, tudo passou a ser mais facil de lidar.

A ultima foi a noticia completamente inesperada de que teriamos que sair da casa, todo mundo. Parece que houve um problema com o contrato ou algo do tipo, mas o fato eh que me avisaram com menos de uma semana de antecedencia. Claro que eu nao podia deixar de passar dois dias de desespero total, desanimo, preguica de ir atras de tudo (ainda mais sem internet, carro, tempo e dinheiro), mas depois - como nao havia mesmo outro jeito - respirei fundo e comecei o garimpo. Vi zilhoes de quartos, lugares bons e bizarros. No final das contas, exatamente na vespera de ser "despejada", fechei dois quartos pequenininhos numa casa de estudantes da universidade. Dois porque um eh pra Mayra, minha flor de salvacao que chega do Brasa na sexta, dia 27. Contrariando minha decisao de JAMAIS morar com brasileiros, nem pensei duas vezes pra decidir morar com ela, porque o que eu mais quero no mundo agora eh alguem que me conheca, alguem pra sentar no final do dia, tomar uma taca de vinho e conversar sobre tudo e sobre nada. Sera bom pra mim, e sera bom pra ela. Mal posso esperar pra chegar o final dessa semana. Simplesmente estou contando os minutos.


Babado Forte

Essa Inglaterra nos reserva cada coisa que soh rindo! Estava eu dormindo, plena segunda-feira (a passada, ou seja, na casa "velha" ainda), quando comeco a escutar voz de mulher... pensei "eh o arabe de novo com uma das mil namoradas"... um folgado, porque ele nao nos deixa receber amigos (meninos) em casa nem para o cha da tarde... Mas como ninguem mandou eu aceitar essa regra estupida antes de entrar na casa, nao posso reclamar. Mas de repente a voz parecia ser de mais de uma pessoa, e comecou a rolar uma batecao de porta e tudo mais, que resolvi olhar o que tava acontecendo.

Abro a porta do meu quarto e o que eu vejo? Uma guria de calcinha e sutia entrando no meu banheiro, me olhando com uma cara de "que foi? algum problema?" e outra, nos mesmos trajes, saindo do quarto da Lisa, a italiana. Depois de alguns segundos de total silencio pra tentar entender o que significava aquela cena, comecei a gritar pra todo mundo e pra ninguem "o que, afinal, era aquema merda rolando na 'minha' casa". O arabe fascista resolve, entao, abrir a porta do quarto dele, apenas com um toalha enrolada naquele corpo de barril, e dizer - cheio de sorrisos - que estava rolando uma "festinha". Ah, posso notar que tipo de festinha. Fiquei louca de raiva, nao por caretice, mas porque esse idiota nos proibe de receber amigos, eh cheio de regras imbecis, e se sente no direito de colocar 3 garotas de programa nuas pra andar pela casa em plena segunda-feira. Sim, 3. A essa altura uma terceira saiu do quarto, TOT-AL-MEN-TE sem roupa, parou na minha frente, perguntou se eu queria "participar", invadiu mais uma vez o quarto da Lisa, acendeu a luz na cara dela (que estava dormindo, como eu), desceu as escadas, andou livremente (alias, poe livre nisso, livre de tudo, inclusive de roupas) pela casa, sentou na nossa cozinha peladona e tudo mais. Eu e a Lisa nao conseguimos mais dormir, tivemos um acesso de riso e de odio, de indignacao, de tao bizarra que era a cena. Mais bizarro ainda foi entrar na cozinha e ver roupas e uma calcinha em condicoes impossiveis de se descrever aqui (pra nao fazer ninguem vomitar) bem em cima da mesa onde a gente costuma(va) comer. A essa altura uma das peladonas ja estava sentada`a mesa com a gente, fumando um cigarro, puxando papo, dizendo que era escocesa e tudo mais. Depois de rir bastante da situacao e de nao termos realmente o que fazer, resolvemos voltar para o nosso sono inocente. (Eh claro que, a essa altura, ja tinhamos planejado a nossa doce vinganca: fazer uma big festa de despedida e chamar quem a gente bem entendesse).

Ocorre que, antes de ir pro quarto, resolvo passar no banheiro e, enquanto tentava me concentrar e equilibrar pra nao encostar em nada - naquela posicao ingrata que nos, mulheres, temos que nos submeter pra fazer xixi na balada e em banheiros publicos em geral -, olho pro lixo e vejo um barbeador eletrico la dentro. Achei estranho e fui olhar mais de perto, ate perceber que, alem disso, tinha uma carteira e varios documentos jogados. Pronto, os burros dos caras, ainda por cima, foram roubados pelas meninas. Sahi correndo pra avisa-los e, em um minuto, o barraco estava armado. Nao sei como elas conseguiram ser tao rapidas, mas quando vi tinha uma deitada na minha cama, mexendo nas minhas coisas, perguntando com cara de sede quem era o cara da foto (o meu amor, no caso... quer morrer essa idiota, neh?), a outra fugindo pela porta dos fundos, a outra parada na minha frente com uma cara de sonsa dizendo "nao acredito que voce roubou os meninos, que feio! Voce ta com ciume da gente, eh isso?". Aaaafffff. Posso? Posso com isso?

No fim das contas elas conseguiram a facanha de colocar ate o laptop de um deles dentro do meu quarto, nao sei como. Levaram dinheiro, cartoes e celular (soh deles, pelo menos), porque os caras sao tao primarios que sequer deram uma revistada nas bitches antes de elas sairem pela porta. Acabamos a noite rindo horrores, mas eu e a Lisa deixamos bem claro que nao havia mais porra de regra nenhuma, e que eles iam ver o que era festa de verdade. Pena que tudo isso aconteceu na ultima semana porque, do contrario, as coisas iriam mudar naquela casa.


A Primeira - e ultima - Festa

Eu acabei nao organizando coisa nenhuma porque meus amigos todos trabalham a noite e nao poderiam ir, entao deixei soh pra curtir a despedida que a Lisa organizou (ela volta pra Italia hoje). A ideia era ser um jantarzinho e depois um esquenta pra irmos pra balada. Mas o que rolou foi uma bagunca das boas.

No comando da cozinha, soh italianos da gema. Nao preciso nem falar o nivel da pasta que saiu, ne? Depois da comilanca comecou a chegar gente sem parar, garrafas de tequila, vodka, vinho, caixas e caixas de cerveja, gente de todo canto do mundo, milhoes de linguas diferentes, de caras diferentes, enfim... uma festa mesmo. Com direito ate a bebado caindo na agua (de um laguinho que tem no jardim). Do jeitinho que a gente queria.

Tomei meu primeiro porre da Inglaterra, inclusive, mas nada muito grave, tudo absolutamente sob controle. Ate fui pra balada depois, mas apenas pra, MAIS UMA VEZ, ter certeza absoluta de que eu definitivamente nao gosto dos clubs daqui. Nao gosto da musica, nao gosto do ambiente, nao gosto. Fico automaticamente de bode. Fiquei meia hora, peguei um taxi e voltei pra casa. Dormi gostoso, acordei de ressaca, e foi isso. Mas valeu a pena.


A Casa Numero 3.

Vamos contar em quantos lugares eu vou morar ate o final da minha jornada. Mudei para a terceira este final de semana.

Aluguei dois quartos, um pra mim e um pra Mah, ambos minusculos mas bem pintadinhos, ate que fofos. A casa eh tipo uma republica, parece que moram 3 ou 4 pessoas, ingleses e escoceses, que estudam na Universidade de Bournemouth. Ja sabemos que soh vamos ficar la ate o final de Agosto, porque depois disso os quartos ja estao alugados pra outras pessoas. Mas tudo bem, primeiro porque o lugar nao eh muito pratico, meio longe de tudo, e as areas "comuns" da casa (especialmente a cozinha) sao muito sujas pro meu gosto. Alem disso, acho que moro com fantasmas. Mudei pra la na sexta, hoje eh segunda e eu nao vi nem sombra de nenhum morador. Durante a noite escuto um casal no quarto ao lado, mas eles fazem questao de soh andar pela casa quando eu ja estou deitada, com a luz apagada e tal. Nao sei explicar, mas eh horrivel essa coisa de nao saber quem mora na mesma casa que voce, me sinto meio "invasora", deslocada... minhas coisas estao numa caixa abandonada no meio da cozinha porque nao ha espaco nos armarios, e ninguem se habilitou a me ajudar, a providenciar um espacinho ou qualquer coisa do tipo.

Mais do que nunca, portanto, quero que a Ma chegue logo. Nao quero morar mais com fascistas, nem com fantasmas. Teremos dois meses pra procurar um lugar legal onde, espero, a gente possa ficar um tempo razoavel. Mas nao estou achando nada ruim, pelo contrario. Estou mais tranquila do que nunca. Nao sei a razao, talvez a minha bipolaridade or something, mas a depre de duas semanas atras deu lugar a uma super forca e vontade de lutar, de passar pelas dificuldades, de ir ate o fim. Vamos ver ate quando isso vai durar!


New Moment, New Job

A minha saga em busca de trabalhos nao tao massacrantes continua. Dessa vez arrumei um trabalho de "faz-tudo" numa especie de hotel/moradia de velhinhos ricos. Sim, eh tipo um condominio, varios flats onde os idosos moram e recebem alguns cuidados especiais.

Eu faco de tudo: ajudo na cozinha, sirvo chazinho, limpo apartamentos e areas comuns, visito os moradores e converso um pouquinho, faco a cama, preparo uma torradinha, lavo o rostinho deles, essas coisas. O trabalho nao eh pesado, mas eu sou doida e peguei 14 horas apenas no sabado. Loucura. Quase morri de cansaco, me sentia drogada, bebada de sono. Mas preciso de mais horas, o perrengue continua, entao vamos que vamos. As coisas vao se ajeitando com o tempo, eu sei.

E, pra terminar, soh quero repetir que eu descobri o obvio do obvio, mas me sinto como se tivesse descoberto a America: a tal experiencia a que todo mundo se refere quando se fala em viajar para o exterior, nao tem "quase" nada a ver com o fato de se conhecer novas culturas, novas linguas e tudo mais. Para isso voce pode estudar, pode viajar nas ferias. O grande lance eh, realmente, superar os seus limites. Que piegas, que horror, mas nao ha nada mais verdadeiro. O que te faz mais forte aqui nao eh nada alem de uma coisa muito simples: voce continuar seguindo o seu objetivo mesmo quando parece que tudo esta contra voce. Eh voce superar as suas frescuras, as suas fraquezas, os seus medos. Me sinto um bebezinho desprotegido, juro, quero colo e seguranca, mas nao vou desistir antes de aprender a andar sozinha.

Morro de saudades, mas soh volto quando eu definitivamente largar as fraldas.

Amor, amor, e amor. Muita saudade, muita saudade e muita saudade.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Montanha Russa

Parei para ler o ultimo post e me dei conta de que soh escrevi o que tem rolado de ruim na minha vida aqui. Ta, realmente eu nao tava conseguindo ver o lado bom em nada (atitude que eu, particularmente, detesto), mas nao dava pra continuar do jeito que estava: ou eu comeco a agradecer pela minha vida todo dia de manha e procuro ver o aspecto positivo das coisas, ou eu vou virar uma chata reclamona depressiva. Deus me livre!

Entao, depois de chorar aos solucos pro meu pai, pro Henrique, e sozinha; depois de desabafar pra meio mundo o quanto eu estou sofrendo de saudades; depois de querer largar o aspirador de po e sair correndo pra nunca mais ter que trabalhar de cleaner - e desistir da ideia porque eu preciso loucamente do meu salariozinho; depois de quase me jogar da ponte por descobrir que eu engordei 5 kilos: enfim, depois de me afundar na lama, resolvi lavar a alma.

Nao que eu tenha, efetivamente, conseguido. Mas ja me sinto muito, muito melhor. Basicamente resolvi atacar em duas frentes: ser racional (nao perder tempo reclamando de coisas que, por enquanto, nao ha como mudar) e ser mais firme com a minha feh (lembrar no que eu realmente acredito, no meu guia, naquele que nunca me abandona). Ate que tem dado resultado.

Penso que a escola que eu tenho que limpar todos os dias eh bem melhor que o Casino - afinal, nao tem nenhuma louca me perseguindo, e eu nao limpo banheiros vomitados (embora os pirralhos as vezes sejam mais vandalos que bebados). Tambem nao tenho que trabalhar sabados e domingos de manha cedo. Olha quanta coisa boa! Hein?

Aceitei o fato de que eu soh vou conseguir mudar a minha realidade (com relacao a emprego) quando eu estiver confiante no meu ingles. Ate la, haja cremes para as maos (que ja estao comecando a ficar calejadas). E eu que trate de trabalhar com amor, com um sorriso no rosto. Parece idiota, mas a "enxada" fica mais leve, acredite.

Parei definitivamente de comer comida congelada. Comprei legumes, verduras, frutas, granola, mel e... duas garrafas de vinho (porque eu nao sou de ferro, ne!). Demoro mais tempo na cozinha, mas nao me sinto culpada depois de comer. Ainda preciso comecar a correr ou ir pra academia, mas calma, nao posso exigir tantas mudancas de uma soh vez. :-p

Decidi comprar o laptop de uma vez por todas, ainda que custe o Rock in Rio em Madrid. Vai doer na alma de nao ir, mas ter um computador em casa vai me abrir possibilidades importantissimas. Freelas, basicamente. Alem de alimentar o blog, escrever e-mails decentes, procurar emprego por agencias, otimizar a comunicacao com o Brasa, enfim. So vantagens. Especialmente por poder fazer textos na hora que rola a inspiracao. Porque do jeito que esta, nao ha quem aguente: computador da escola (sempre com problemas, cadeira desconfortavel, tempo limitado), lan house (o velho problema da grana) ou laptop da Lisa, housemate italiana. Ta decidido o proximo investimento, pronto. Talvez semana que vem ja role. Tomara.

Ontem foi Dia dos Namorados no Brasil e, ainda que seja uma data comercial e todo mundo saiba disso, ela acaba inspirando os apaixonados. E inspirou o meu amor, e acabou rolando um dia cheio de surpresas gostosas, conversas gostosas, forca (com cedilha...rs) mutua pra seguir em frente. Engracado como a coisa da distancia pode ser relativa. Engracado como o amor eh mesmo um combustivel, como eh capaz de nos fazer sentir vivos. Como traz felicidade, como inunda o espirito de paz. Nao sei explicar, mas as vezes parece que eu soh tenho amor dentro de mim. (Ate demais, na verdade, deveria rolar uma divisao mais democratica entre a emocao e a razao aqui dentro).

Eh isso. A saudade continua apertando, os babacas continuam existindo, a falta de referencia continua me angustiando, o trabalho nao muito agradavel continua sendo necessario... mas agora vamos tentar olhar pelo outro lado e ver no que da.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Mais um Pouquinho de Escocia

Pra dar um tempo no muro de lamentacoes, deixa soh eu terminar algumas consideracoes sobre a Escocia.

Na verdade eu tinha voltado de la animada pra falar de cada detalhe, de cada pedacinho de historia que voce sente e ve a cada passo, a cada centimetro da calcada.

Mas o tempo passou, a euforia tambem, a internet continua sendo coisa rara, e perdi o tesao.

Pra nao "perder a viagem", no entanto, vou dividir com voces algumas coisinhas:

- O que pode ser entediante para alguns, eh absolutamente extasiante pra mim. Em Edinburgh eh tudo tao antigo que a maior parte das calcadas e muros tem partes verdes, de limo mesmo. Claro que a umidade ajuda, mas a ideia de que o tempo eh que agiu ali me emociona. Os portoes das casas ainda tem um "acessorio", como se fosse uma flor feita de metal, com um furo no meio, que servia para as pessoas apagarem as tochas que eles usavam para iluminar as ruas. Sim, os portoes sao os mesmos de seculos e seculos atras. As construcoes goticas e medievais, especialmente por serem geralmente rodeadas de muito, muito verde, dao um clima de misterio, nao sei explicar... parece que a qualquer momento vai aparecer um duende ou uma bruxa perseguida pela inquisicao... Ta bom, eu sou ridicula, mas eu juro que eh muito emocionante, muito lindo.


- Os escoceses sao muito patriotas, amam sua historia, tem orgulho demais do seu maior heroi (William Wallace, o Mel Gibson em Coracao Valente, que morreu pela independencia da Escocia), e sao muito, muito simpaticos. Num primeiro momento tive a impressao de que eles sao muito mais bonitos que os ingleses, e mais limpinhos tambem. Nao quero ser preconceituosa e chata, mas que os britanicos tem os habitos de higiene bem diferentes dos nossos, nao ha como negar. Me desculpem o senso-comum, mas eh a pura verdade. E eu estava encantada com aquele povo, todos TAO lindos, bem arrumados, sem exageros de maquiagem, alguns homens de kilt (ai, que charme, especialmente quando eu penso no Anthony Kieds usando um), enfim, estilosos sem parecerem enlatados.



Ocorre que, em uma das noites, resolvi sair pra balada com o pessoal do hostel (meus companheiros de viagem falaram, falaram, mas nao conseguiram colocar o pe na rua a noite um diazinho sequer). Fomos para um club, bem estilinho Augusta, ou seja, pequeno, escuro, inferninho. A mistura de som poderia ter sido a primeira informacao do ambiente, mas... o cheiro saiu na frente. Isso mesmo: o cheiro, ou melhor, o terrivel cheiro. Gente do ceu. Sera que as pessoas nao tomam banho antes de ir pra balada? Nao passam um perfuminho? Nao, acho que nao. E estava quente, ou seja, nada de desculpas de que no inverno se toma menos banho. Definitivamente, eu nunca teria coragem de trocar grandes intimidades com britanicos, escoceses e afins. Hihihi.

Alem disso, nao existe educacao, ou bom-senso sequer. Na pista de danca, nao importa o tamanho que ela seja, voce simplesmente eh atropelado, massacrado por meninos e meninas, bebados ou nao (geralmente sim, e bastante). Eles simplesmente nao se importam com as pessoas ao redor. Saem dancando, pulando, se jogando, caindo. Sim, caindo, especialmente as meninas, que ficam ensandecidas e taradas. Depois brasileira que leva a fama, nao entendo. Aqui (tanto na Esocia como na Inglaterra), a mulherada nao tem o menor pudor. Nao to julgando, mas as cenas que se veem nessa terra de doido seriam consideradas altamente indecentes no Brasil.

PARENTESES: aproveitando o tema, estou pra falar ha tempos da televisao inglesa. Ainda tenho que observar melhor, mas de antemao nao posso deixar de comentar que eles nao tem nem 10% da limitacao que a gente tem no Brasil. No Big Brother daqui, por exemplo, aparecem cenas de sexo, a mulherada fica pelada, totalmente pelada (uma louca arrancou a roupa, bebada, dentro da sala cheia de gente, e ficou la deitadona no sofa, tentando conversar, to-tal-men-te nua). As campanhas contra a violencia (tem rolado uma onda de assassinatos com facas em Londres) usam imagens fortes, chocantes mesmo, de acidentes, assassinatos, pessoas dilaceradas. Nunca vi uma coisa dessas. Mudou totalmente meu conceito, eu realmente imaginei que eles fossem muito mais pudicos nesse sentido. Beijos gays, por exemplo, tambem eh algo normal na televisao aberta. No Brasil, onde somos considerados pervertidos e anti-eticos, a caretice eh infinitamente maior. Agora, se isso influencia as criancas, se eh positivo ou negativo, a gente discute num outro momento.






Fim do parenteses e do post, que meu tempinho na internet esta acabando. O proximo plano eh comprar um laptop, pra acabar com essa chatice de nao poder escrever direito. Se quiserem fazer doacoes, estou aceitando. =)

Beijos com uma saudade que me faz pensar em voltar simplesmente todos os dias.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Escocia, deprezinha, planos e perrengues

Nem sei por onde comecar.

Pra variar, a tecnologia conspirou contra mim e eu perdi mais de 100 fotos da minha viagem pra Escocia no ultimo final de semana. Eu ja estava deprimida porque ainda nao comprei uma camera, e resolvi usar meu celular pra pelo menos ter um registro da trip - que foi simplesmente maravilhosa. Ocorre que, por motivos que nao vem ao caso (e que eu nao quero lembrar pra nao ter um treco de tanta raiva), eu acabei perdendo todas, todas as fotos, com excecao de umas poucas que eu ja tinha colocado no orkut. Perdi as fotos de um tour que a gente fez pelo countryside, com as paisagens mais lindas que eu ja vi por aqui. Perdi fotos de antes da trip, da visita brasileira e confortante da minha amiga Morena, dos meus amigos brazucas e gringos, de tudo. E olha que eu estava orgulhosa da capacidade da camerazinha do meu celular. Tinham lindas fotos.

Saco. Eu sei que parece uma bobagem, mas o lance eh muito mais emocional do que material. Eu venho de uma semana marcada por uma onda de azar e de acontecimentos chatos. De uma falta de grana preocupante e de um desanimo profundo. De um conflito constante entre o "voltar logo" ou "ser persistente". O aguentar e o desistir. A viagem, portanto, tinha sido um balsamo pro meu coracaozinho aflito. E poe aflito nisso. Nao sei o que eh paz ha uns bons dias. Soh tenho sentido medo, raiva, preocupacao. Mas passa, eu sei que passa.


A Tempestade


A falta de grana ja estava me atormentando desde o inicio, mas eu achei que em um mes as coisas iriam se estabilizar. Eu realmente nao gasto com praticamente nada "extra", mal saio (nunca fui a uma balada propriamente, por exemplo), nao tenho comido fora, nada. Mas o problema eh que eu estava trabalhando poucas horas. Com o passaporte italiano eu tenho o direito de trabalhar full-time, mas por causa da escola eu estava soh com 20 horas semanais. Isso nao eh suficiente pra quem nao tem nada guardado. E eu nao tenho.

A coisa desandou de vez quando uma debil mental de uma brasileira que trabalhava comigo no Casino resolveu dar um ataque de furia pra cima de mim. Pleno feriado de chuva e frio, oito da manha, la vou eu alegre e contente trabalhar. Chego falando oi pras meninas e, especificamente pra ela, foi um "bom dia, flor!" com um sorriso no rosto. Ja notei ali mesmo que a menina estava de mau humor, mas nao me afetou. Segundos depois ela inicia uma discussao completamente sem fundamento, gritando e me atacando, ate dizer de uma vez que me odeia, que nao me suporta, que queria "meter a mao na minha cara". Siiiiiiim, bem fina, desse jeito! Uma lady.

Eu nao acreditava no que estava acontecendo e, quanto mais eu falava que ela nao estava bem da cabeca, que deveria procurar ajuda, mais ela babava de odio. Resultado: eu estava ouvindo aquelas ofensas paralisada, chocada, sem entender nada. Nao tive reacao ate ela ameacar partir pra agressao fisica. Ahi eu nao aguentei, disse que nao discuto com gente desse nivel (ah, convenhamos que eu nunca briguei nem no Brasil, ate parece que iria participar de um barraco desses com uma louca, dentro do trabalho), caminhei ate a entrada do Casino, chamei o supervisor, entreguei minhas lindas luvinhas na mao dele e disse: "estou deixando o trabalho porque esta moca comecou uma briga sem motivo, me ameacou de agressao fisica e eu nao me misuro com esse tipo de individuo". E fui embora. Claro que eu fui chorando pra casa, me sentindo humilhada, tentando entender como alguem pode odiar outra pessoa assim, de graca; como voce pode oferecer um sorriso e ganhar um tapa na cara, mas enfim... Ha coisas que a gente nao entende mesmo.

No dia seguinte escrevi uma carta para o gerente do Casino, detalhando tudo o que houve e deixando claro que eu havia deixado o trabalho sem cumprir aviso previo porque eu nao me submeteria a ficar no mesmo ambiente que uma pessoa descontrolada daquelas. Ele acabou me chamando pra conversar, disse que essa menina ja fez isso antes, que quando ela se sente ameacada por alguem ela faz a vida da pessoa virar um inferno mesmo, e tal. Ah, me poupe, me poupe! Ate parece MESMO que eu vou disputar com alguem um trabalho desse. Desculpem-me a falta de humildade, mas definitivamente eu nao preciso disso. Tenho outras alternativas, tenho formacao, tenho carater e tenho capacidade, acima de tudo. Entao pronto, resolvido. Parto pra outra e fim de papo.

Mas os dias que se seguiram a este episodio foram cheios de pedrinhas no caminho. Minha energia baixou de uma forma que eu nao consegui dissolver o noh na garganta ate hoje. Juntando a isso a falta de grana, a corrida atras de outro trabalho, a saudade de casa e tudo mais... pronto: dias desanimadores, um quase desespero.


O primeiro passo foi mudar a escola para o periodo da manha. Assim, posso arrumar um unico trabalho full-time depois do meio-dia, melhor que ficar pulando em 3 empregos. Arrumei alguns freelas durante a semana, mas varios nao deram certo por motivos ridiculos, como uma misteriosa tinta azul que manchou a unica camisa branca que eu tinha pra trabalhar de garconete, um transito inexplicavel em plena Bournemouth bem na hora de sair de casa, enfim... coisas e coisinhas para atrapalharem uma pessoa ja bem atrapalhadinha da cabeca.

(continua...)

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Ggggrrrrrrrrrrrrr

Revolta to-tal.

Tava terminando o post mais inspirado dos ultimos tempos, fruto da minha propria falta de inspiracao, quando algum fucking pau no computador me faz perder tudo.

Sobrou apenas uma letra M na tela. O que sera?

Deve ser de "va a MERDA".

Nossa, que vontade de chorar. Soh porque eu tava deprimida de saudade; soh porque eu decidi falar da rua, do poder que a cor das flores tem em te fazer sorrir quando voce ta quase pensando em pegar o aviao e voltar; soh porque eu falei da saudade do Henrique (que esta me consumindo nessa luta de paz e tormento dentro de mim); soh porque eu falei da adoracao dos ingleses por bananas (e da incrivel dificuldade que eles tem em jogar as cascas no lixo); soh porque eu desabafei que os bombadinhos ouvindo trance no ultimo volume dentro do carro tambem aqui ficam desfilando pelas ruas achando que estao arrasando; soh porque eu contei que telefone publico na inglaterra manda SMS pra qualquer celular; soh porque eu disse que a library me encantou mais que a praia, que eu quero morar dentro dela e engolir todos os livros (mas que, mesmo assim, o computador com internet me seduz mais rapido e la fico eu gastando meus preciosos minutos de tempo livre)... soh por causa disso, esse computador resolveu engolir as minhas palavras soh pra ele.

Tambem nao falo mais. Eu bem que tinha decidido mesmo, enquanto andava de volta pra casa, que deveria ficar num momento (longo) de silencio. Silencio total. Quem mandou ser teimosa?

Saco, viu. A tecnologia as vezes me irrita.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

O agora, o depois

Meus bons amigos, onde estão?

Notícias de todos quero saber...

Cada um fez sua vida de forma diferente

Às vezes me pergunto: Malditos ou inocentes?


Meus bons amigos, onde estão?

Notícias de todos quero saber...

Sobre nossos ombros aprendemos a carregar

toda a vontade que faz vingar

no bem que fez prá mim

assim, assim, me fez feliz, assim



O amor sem fim

Não esconde o medo

De ser completo e imperfeito

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Amores meus... que vontade de saber de todos, de cada um de forma especial e unica, assim como sao voces pra mim. Que vontade de mandar cartas detalhadas, enormes, dividir tudo. Que vontade de ter noticias, de participar, de estar presente. Que vontade de estar junto. Que vontade de matar a saudade. Que vontade de nao perde-los nunca mais de vista!

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*
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Por aqui tudo bem, tudo otimo... As vezes sinto um vazio, alguma coisa que ainda precisa ser preenchida e eu nao consigo saber o que eh, parece que falta algum ponto importante no meio dessa mudanca toda. Pode ser a minha espiritualidade, mas nao sei como resgata-la. Ou melhor, ate sei, mas continuo sofrendo de um problema agudo chamado indisciplina. Quando eu resolver me dedicar efetivamente a descobrir o meu papel nesse mundo baguncado, acho que estara tudo certo, tudo encaminhado. Mas as respostas nao irao bater a minha porta. E eu quero muito saber.
*
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Estou comecando a me encher de limpar o cassino, mas nao ha nada que eu possa fazer alem do que ja tenho feito: procurar outros empregos. Faco isso todos os dias, de todas as formas. Me cadastro em sites, entrego CV de porta em porta, falo com todo mundo, respondo a anuncios e tudo mais. Recebo ligacoes direto, com todo tipo de trabalho: ja tive ate que recusar um muito bom em uma grande companhia, por ser em outra cidade. Eles queriam alguem que tivesse portugues fluente e experiencia com customer service. Seria otimo, mas nao to a fim MESMO de mudar de cidade agora, ainda mais depois de pagar 6 meses de escola. O outro problema eh ser chamada por telefone para alguma entrevista. Voce ja eh recusado antes mesmo de comecar, porque ainda que o seu ingles esteja ficando cada dia melhor, nao pense que falar no telefone eh a mesma coisa. Especialmente o ingles britanico. Sometimes you just can't understand, really. It's horrible.

Eh engracado como minha auto-confianca aqui tem sido voluvel. Ha dias em que me sinto a pessoa mais capaz do planeta, faco zilhoes de contatos, saio conversando com todo mundo com um ingles bem razoavel e tal. De repente, sem nenhum motivo muito visivel, me sinto o coco do cavalo do bandido, uma caipirona com um ingles trash, meio fora do lugar, nao sei explicar. Talvez seja normal nesta situacao de estar fora do seu pais, mas quero aprender a controlar mais esses altos e baixos, porque nao eh saudavel, nao eh legal.

*
*
*

Essa semana tem uma coisa/pensamento/sentimento muito presente na minha vida, nas minhas trips particulares:

- Nao to sabendo lidar com o tempo, ou melhor, com a nocao que eu tenho do tempo, e o que eu espero dele. Meus planos enquanto estiver fora do Brasil tem crescido cada vez mais dentro do meu coracao e da minha cabeca, mas nao sei como organiza-los. Quero viajar muito, quero fazer coisas, nao quero passar 1 ano fora de casa APENAS estudando. Ta bom, eu vou aprender ingles, sempre foi o objetivo number ONE, mas eu PRECISO fazer mais. Eu preciso conhecer lugares e culturas. Preciso ir pra India ou pra Africa, e de preferencia para os dois. Preciso passar um tempo na Espanha, preciso conhecer a Grecia, preciso pisar no Oriente. Preciso aprender a aceitar habitos diferentes com amor no coracao, e nao com indignacao. Preciso fazer pelo menos uma crianca-sem-comida-sem-infancia-e-quase-sem-vida mais feliz. Preciso ir pra Australia. Preciso aprender mais uma lingua alem do ingles. Preciso ir ate para os Estados Unidos, para me sentir confortavel com as diferencas do ingles. Ah, tambem preciso estudar mais. Sei que parece impossivel, que eh querer abracar o mundo, que eh utopico, piracao, viagem. Mas nao eh! Nao tem que ser. Depois que voce sai do Brasil, tudo fica mais facil. Muito, muito, muito mais facil. Se voce nao tem que voltar pra faculdade, nao tem filhos, nao eh casado, nao deixou um emprego brilhante, entao... tem tudo nas maos. E eu tenho. Mas nao eh tao simples assim... (e olha que nao estou falando de dinheiro).

Tenho um dilema com relacao a minha carreira, ao que fazer dela, ou como comeca-la do zero quando eu voltar. Obviamente, quanto mais eu demorar pra fazer isso, menor serao minhas chances, especialmente por estar usando infinitamente mais a forca dos meus bracos do que do meu cerebro. Alem disso, nao sei muito bem o que eu quero, nunca soube com exatidao. Sei que eu quero milhoes de coisas, mas nao sei o que eu quero fazer pra sempre (alem de ser feliz). O que adianta eu voltar pro Brasil e entrar - de novo - no primeiro emprego que me aparecer, sem saber se aquilo realmente me interessa? Mas sera que essa viagem vai me dar alguma certeza? Penso que sim mas, ate agora, soh tenho certeza de que nao quero limpar banheiros por muito tempo (conclusao muito dificil, esta).

O outro ponto eh o AMOR. Como tomar a decisao de passar muito mais tempo longe, se tem alguem me esperando, alguem com quem eu quero passar a vida toda? Por mais forte que seja, ninguem esta disposto (e nem merece) ficar nessa espera angustiante por anos a fio. Mas como decidir entre desejos tao profundos? Como saber do que abrir mao? Como nao correr o risco de jogar em cima de alguem uma futura frustracao, sem ter que desistir dela?

Bom, soh to aqui ha 2 meses. Respire ate 10 que passa, Julia.

sábado, 10 de maio de 2008

Vencendo o Cansaco

Nao quero abandonar meu espacinho de devaneios, nao quero!!! Mas ta tao dificil suportar o cansaco fisico, que nos unicos momentozinhos que eu tenho livre, nao me sinto com forcas pra escrever!

E ta tudo tao gostoso.... Mais uma vez, preciso dizer que o clima de verao inundou a existencia das pessoas... parece que os ingleses passam o ano num casulo, apenas esperando pelo sol. Quando ele sai, todo mundo se liberta junto.

A praia eh o lugar mais democratico que eu ja vi: todas as nacionalidades, todas as linguas se misturando, figuras de todos os tipos. Todos. As inglesas se destacam: a maioria esbanjando uma beleza artificial, que nao deixa de ser beleza. Muita maquiagem e cabelos de chapinha em pleno sol do meio dia, e isso nao me agrada, mas o conjunto que se forma acaba sendo gostoso de ver.

Os ingleses me dao nos nervos. Preciso com urgencia conhecer algum legal, porque todos me parecem absolutamente bobos. Ou sao de alguma tribo descendente dos EMOS, sempre de preto e com a franja cobrindo os olhos, alem das calcas extremamente justas (o que te da uma certa dificuldade em descobrir o sexo do individuo), ou sao branquelos bombados de academia, sempre falando alto coisas absolutamente idiotas. Tem tambem os mais riporongos, que exageram um pouco no estilo "peh-sujo" de ser (e olha que eu gosto, hein) e ficam parecendo meio esquizofrenicos no fim.

Mas eu simplesmente AMO essa diversidade doida que a gente ve ainda mais clara nas areias (cheias de pedra) da praia. E nos gramados dos parques (que sao muitos, e lindos. Totalmente coloridos de gente, e de flores). Me sinto feliz. Sinto um desejo muto grande de conhecer o mundo. O mundo inteiro.

O cansaco dos trabalhos ta se acumulando e eu comeco a ficar preocupada com a minha alimentacao... comer salada eh algo muito, muito raro, frutas eu nao vejo ha mais de um mes, e de resto eh tudo congelado, estranho. To com um desejo louco de arroz, feijao, farofa, abobrinha refogada, suco de maracuja feito na hora, arroz doce, melancia gelada, salada de alface, rucula e agriao e temperada com muito limao. Ai, ai. Vou dormir que eu to com fome.

Dia 30 vou pra Escocia com os meus queridos companheiros de aventura, e mais uns colmbianos que eu nao conheco ainda. Claro, soh eu de mulher, pra variar. Mas nao tenho culpa, eu sempre fui meio moleque mesmo... to adorando, to feliz, mas confesso que sinto falta das minhas garotas queridas, que eu nao posso nem comecar a citar nomes pra nao dormir aqui em cima do computador.... mas elas sabem quem sao. Todas elas. Meus amores, minhas queridas de quem eu sinto uma saudade louca, profunda, e as vezes me pego rindo sozinha pensando nos comentarios que sairiam em cada situacao.

Nao importa o quanto eu esteja longe, e nao importa o tempo que eu fique aqui. Meu coracao sente voces todos mais e mais forte aqui comigo, todos os dias. E, ao mesmo tempo que me da vontade de chorar, me faz sorrir. De pura felicidade.

Sou a pessoa mais feliz do mundo!

quarta-feira, 7 de maio de 2008

A Paz...

... invadiu o meu coracao

De repente, me encheu de paz

Como se o vento de um tufão

Arrancasse meus pés do chão

Onde eu já não me enterro mais...

A angustia vai e vem, mas eh pura saudade.... nada preocupante, acho que nada mais que o normal.

Tudo caminhando bem: a escola ajuda muito (no ingles e na convivencia com as pessoas), o(s) trabalho(s) esta(o) massacrante(s) mas eh necessario, os amigos se tornando cada vez mais amigos. E o coracao cada vez mais alegre.

O tempo influencia mesmo no nosso estado de espirito. O Sol esta brilhando, ja nao consigo colocar casaco; dormi na grama de um parque pra sentir o calor na pele (e, talvez pela primeira vez, me senti mesmo numa cidade da Europa) e acordei com o cara cortando grama em cima de mim; estou empolgada com a viagem pra Espanha (consegui companheiros de trip mais do que especiais pra me aguentarem no show da Shakira); falei com a minha mae no telefone por mais de uma hora seguida enquanto trabalhava e tomei bronca do chefe; quase mudei pra casa de um amigo querido de quem eu nao consigo mais ficar longe mas com quem eu nao posso mais conversar tanto em portugues porque isso atrapalha nosso improvement; brigo horrores com o Henrique pelo telefone mas no final tudo acaba bem porque acreditamos no poder desse amor doido e lindo; nao emagreci ainda por alguma praga, ja que nao como e nao durmo direito ha semanas; vou sair amanha e me permitir tomar mais uma pint pra ver se meu figado aceita; acabei de sair da aula e estou indo curtir a praia e, por isso, nao vou ficar aqui nessa sala escura wasting my time.

Ta tudo muito bem, ta tudo muito bom.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Saudade. Felicidade. Um pouco de dor.

Meu coração transbordando de coisas, e ninguém pra eu falar. Ninguém pra dividir. Ninguém pra abraçar. Minha vida mudando, minha alma se enchendo de coisas, minha cabeça criando, meus olhos observando o tempo todo, e nenhum abraço.
Nenhum abraço.
Nenhum abraço.

Sinto saudade, mas não pra voltar.

Estou feliz, mas quero companhias de alma, de estado de espírito, alguém pra compartilhar a maravilha que é viver.

Não estou sozinha, mas está faltando alguma coisa.

E essa falta está me apertando o peito.

quarta-feira, 30 de abril de 2008

Quem disse que ia ser fácil?

A falta de comunicação com o lado de lá (para vocês, o lado daí), está me angustiando.



Sinto vontade de dividir tudo: cada esquina, cada pessoa na rua, cada novo amigo, cada conversa, cada olhar, cada dificuldade. E quanta dificuldade!



Estou feliz, me sinto completamente ambientada na cidade - e não mais aquele "monte de nada" -, sinto as coisas caminhando e fluindo, de forma extremamente lenta, mas na direção certa.



Sinto paz em seguir uma rotina que está começando a se desenhar e que, mesmo sendo rotina, não deixa de ser nova a cada dia. Continuo sem aquela sensação de euforia que eu sempre idealizei quando me via nesta situação, mas agora penso que esse equilíbrio é o que vale mais, que é o caminho do meio que vai me levar mais longe. Calma, paciência, e coração aberto pra encontrar a felicidade nas coisas simples. E assim têm sido.



A casa



Meu quarto, minha caixinha de sapato particular, meu mundinho azul. Tão pequeno, e tão aconchegante. Me sinto bem lá. E me sinto aquecida! Quanta diferença! Durmo bem, os sonhos malucos com todas as pessoas que eu convivo ou convivi há anos no Brasil pararam por completo, a insônia também. Thanks God. Se existe algo que me dá verdadeiro desespero nessa vida é querer e não conseguir dormir. Essa fase, parece, passou.



Os meninos são demais. São alegres. São queridos. São engraçados. São generosos. São gentis. São homens, claro. Gritam assitindo futebol, tentam me enganar dizendo que as meninas que eu vejo passando eventualmente no corredor são suas irmãs, não são tão caprichosos quanto a casa arrumadinha do começo demonstrou. Mas me respeitam. Me fazem rir. Têm paciência comigo. Cozinham bem. Me ajudam. Se preocupam comigo, um em especial. Ganhei ótimos companheiros de casa, e ganhei um grande amigo. Faisal, o árabe. Cara de árabe (sem tirar, nem pôr), algumas idéias radicais inerentes à sua cultura e religião, uma boa dose de machismo (ao criar a principal regra de que não é permitido nenhum homem na casa, com exceção dos moradores. Mulheres, porém, têm carta branca para ir e vir). Mas, acima de tudo, um coração enorme. Dá os melhores conselhos, não me deixa pegar trezentos trabalhos ao mesmo tempo pra eu não morrer de cansaço, aguenta o meu inglês tosco horas a fio todas as noites, me deixa assistir filmes no quarto dele e comer metade da bacia de chocolates que têm lá, faz um pratinho de hommus e pão sírio todas as noites pra eu comer no jantar, me empresta o varal (cada um tem o seu, menos eu) pra eu pendurar as minhas roupas molhadas quando ele mais precisa lavar as dele para ir viajar no final de semana, perde horas preciosas de sono pra responder às minhas perguntas sobre a cultura árabe, o casamento com mais de uma mulher, o não poder beber álcool e tudo mais.



Viver aqui, mesmo que não se faça nada de extraordinário, é aprender. É se surpreender. Parênteses: outro dia, numa mesa de pub com brasileiros, turcos, bolivianos, colombianos, cazaquistaneses (ou cazaquis... ai, não lembro!), coreanos, libaneses e afins, chegamos à conclusão de que jamais se deve fazer gestos, ainda que positivos, pra qualquer pessoa quando se está em outro país. O que pra um significava um jóia, era um belíssimo fuck you pra outros. Na Inglaterra, por exemplo, nunca peça 2 cervejas num bar mostrando os dois dedos porque o barman não está te ouvindo bem. Da mesma forma, ainda que a sua intenção seja dizer algo como "estou em paz" e mostrar os tais dois dedinhos, pronto. Você acaba de ofender profundamente o inglesão. Por causa de algo interessantíssimo referente à Guerra dos Britânicos contra os Franceses, esse gesto significa o mesmo que um sonoro fuck you (again), e realmente é capaz de ofender quem quer que seja. Pô, ainda bem que me avisaram, como eu ia saber? Fim do parênteses.



Voltando aos meninos, com exceção do árabe, o contato com os demais é sempre na hora do dinner (cada dia é um morador o responsável por comprar e fazer a comida, e depois lavar a louça). Pouco tempo, mas o suficiente pra notar que um é o tímido (se não está calado, está morrendo de rir), o outro é o easy-going (quando não está no quarto ouvindo reggaes africanos, está na cozinha pegando alguma coisa pra comer, com os olhos pequenininhos e um sorrisão estampado no rosto) e o outro é o engraçadão, namoradeiro e conversador. Adoro todos. Mas quando eles se empolgam muito nas conversas (geralmente piadas masculinas que se repetem em todos os homens de todas as nacionalidades, e sempre sem a menor graça para o gênero oposto), perco totalmente a capacidade de compreender tamanha mistura de sotaques (fortíssimos) e gírias. Mesmo assim, fico ali olhando, rindo sem saber muito bem porquê, achando tudo aquilo muito, muito gostoso.



A casa, enfim, é alegre. E isso faz toda a diferença.





O(s) Trabalho(s)



De job fixo mesmo, por enquanto só o Cassino. Aos que perderam o rumo da história, atenção: ser cleaner de um cassino não te dá a menor possibilidade de entender o que quer que seja sobre jogatina, e muito menos ver a cor daquela dinheirama toda. Ser cleaner na Inglaterra é ser praticamente nada, e eu não estou sendo dramática (não tanto, vai).



No começo achei tranqüilo, são só 3 horas por dia, das oito às 11 da manhã, e divido o trabalho com mais duas meninas, brasileiras as well. Um belo dia, no entanto, elas resolveram que cada uma ficaria com uma área fixa para limpar, ou seja, todos os dias, repetidamente, cada uma só faria a sua parte, e pronto. Parece bom, porque você vai se acostumar com as coisas, pegar prática, começar a otimizar o tempo, e tal. Mas é claro que a BIXETE aqui ficou com a pior parte, né. A mais demorada, a que tem que deixar todas as máquinas de jogo brilhando, a que tem que sair lá na frente, independente do frio que esteja, e recolher os cigarros do chão e do cinzeiro (que sempre trava, você faz força pra desemperrar e, de repente, o negócio sai voando e você toma uma delicioso e perfumado banho de cinzas). Isso sem falar nos banheiros principais do cassino, ou seja, os mais utilizados. Ai, que saudade de ficar sentada 8 horas na frente do computador na minha amada (e não menos perfumada) Berrini...



Logo no primeiro dia, toda contente e munida do meu super-hoover (aspirador de pó), o gerente já me chamou e disse: "querida, você não precisa limpar TANTO assim, só onde dá pra ver". Sim, o ditado "pra inglês ver" é o mais adequado que existe. Ingleses não sabem fazer limpeza. Mais: não fazem muita questão. Inglês come mal, toma pouco banho MESMO, e não liga de viver em lugares não muito limpos (pra não pegar pesado). Não gosto dessa coisa de generalizar, mas a cada dia que passa vejo que esta é uma verdade irrefutável. Ah, sim: TODO inglês TÊM que fazer um comentário sobre o clima. Todos os dias, incansavelmente. Seja alguém puxando papo pela primeira vez, seja a pessoa que você vê todos os dias, necessariamente, em algum momento da conversa, ela vai lançar um "acho que vai chover de novo", "tempo bom, hein?" ou, ainda, "aproveite o sunny day hoje porque já vi que vai chover o final de semana todo". Meu sorriso já está ficando amarelo, porque nem tenho mais o que responder pra esse tipo de coisa. Mas rio por dentro, de certa forma, por não encontrar exceções à regra.



Voltando: eu estava começando a me sentir uma fraca e fresca por estar achando horrível o trabalho, por ter vontade de vomitar todas as vezes que eu limpo um vaso sanitário, por querer chorar ao ser ignorada até pelas recepcionistas (porque elas acham que são muuuuuuuuuuuuuito melhores que você), por ficar com dor no corpo de tanto carregar balde e hoover pra cima e pra baixo, por ficar com a mão completamente destruída de alergia até do talco das luvas que você usa pra trabalhar. Entrei no conflito de não saber até que ponto eu devo agüentar, ou se devo mesmo acreditar mais no meu potencial e procurar um trabalho melhor.



Os dias foram passando, eu fui escutando mais e mais elogios ao meu inglês (que é horrível, mas comparado ao das milhares de brasileiras que estão aqui há meses ou anos e AINDA não conseguem se comunicar, até que tá bom), me irritando cada vez mais com o trabalho e especialmente com a minha dificuldade de limpar as coisas correndo (nunca consigo terminar tudo na hora, mas é por perfeccionismo, não por lerdeza), e resolvi dar um passo pra sair da situação de desconforto.



Passei tardes pegando applicantion forms em lojas, restaurantes, lanchonetes. Não há nada mais chato no mundo do que preencher essas fichas, ainda mais aqui, que os caras perguntam até as notas que você tirou no colegial. Mas fui pegando todos, perguntando de porta em porta se tinha alguma vaga dispon;ivel, até que, na minha rua, entrei num restaurante italiano, já desesperada com a falta de dinheiro.



Parênteses again: Eu tinha me prevenido com um certo dinheirinho pra trazer, mas paguei 1 mês de aluguel, mais um depósito de duas semanas - que eles só devolvem quando você sair -, e mais 6 meses de escola. Me deu um estalo de que se eu não começasse a estudar imediatamente, iria perder o foco, entrar na paranóia delirante de trabalhar o tempo todo pra juuntar dinheiro, e aí dei uma pesquisada e me matriculei logo na escola da qual eu recebi as melhores referências. Doeu no bolso, mas foi um alívio pro meu coraçãozinho que andava há tanto tempo cheio de frustrações e medos. Foi um presente de aniversário que eu resolvi me dar, e fiquei muito feliz. O resultado, porém, foi um pouquinho dramático: não tinha mais dinheiro nem pra comprar os livros, nem pra fazer supermercado, pegar ônibus e tudo mais. Mas quem já viveu anos em república, trampando na balada pra pagar o aluguel e, não se abala com esse tipo de perrengue.

Fim do parênteses e do post, porque tive que interromper os devaneios ontem pra ir embora, e agora perdi o fio da meada. Tô sensível hoje (não confundam isso com tristeza) e com vontade de chorar, de andar lá fora, de olhar o meu novo mundo, não de escrever. Tô muito cansada também, e talvez a falta de sono seja a responsável por esse estado esquisito de aperto no peito que eu fiquei de repente...

Amanhã eu volto, e a mil pra contar o monte de coisas simples, mas maravilhosamente simples, que têm cruzado meu caminho, dia após dia.