segunda-feira, 14 de julho de 2008

O bom filho a casa torna

Vem, inspiracao. Vem, inspiracao. Vem, inspiracao.

Eu soh consigo escrever quando to depre. Definitivamente. Deve ser a minha alma de artista. Hahaha. Por causa disso, portanto, to botando um ovo aqui ha dias pra tentar escrever um pouco, e simplesmente nao rola. Se formos analisar, ate que eh um bom sinal. As angustias estao menores, menos incomodas.

A chegada da Mayra mudou tudo. Mudou a cor do dia, mudou tudo. Conversamos ate tarde. Tomamos cafe da manha juntas (em pe, na cozinha, e correndo, mas juntas). Fazemos jantarzinho a noite. As vezes soh eu, as vezes soh ela, as vezes together. Mas comemos sentadinhas na sala, conversando. Falamos das expectativas. Fazemos planos. Pedimos a opiniao uma a outra sobre qual roupa vestir. Sofremos de cansaco. Uma chora, a outra da colo. Uma tem TPM, a outra faz um doce pra melhorar. E ela soh esta aqui ha duas semanas. Mal consigo lembrar como era morar aqui sozinha. Acho que eu dormia mais, mas sentia uma solidao dolorida e profunda.

Exatamente junto com a mudanca de rotina causada pela vinda da Ma, vieram outras tantas coisas, tao simples, mas tao boas! Visita de amigos queridos de Londres (de Atibaia, mais precisamente); momentos deliciosos com a Van (que sempre esteve aqui, mas nunca tao perto); baladas que eu, particularmente, nao gosto, mas que com companhias otimas acabaram sendo otimas; a MELHOR balada com as pessoas MAIS queridas (que foi o show do Fatboy em Londres); uma subita dedicacao a escola; alimentacao mais saudavel (ainda falta os exercicios!); alegria no final do dia, mesmo com o cansaco. Fase boa, enfim. Sabemos bem que aqui o que eh bom (e o que eh ruim tambem, eu acho) dura pouco. Mas nao to tao preocupada. Me sinto mais forte dessa vez, pra aguentar o tranco. E o tranco sempre vem.

(continua...)

16 de Julho de 2008.

A frustracao maior, dentre todas que eu tive ate agora, eh o fato de aqui de nada ser muito diferente de la. As vezes me pego lembrando das minhas expectativas antes de viajar, especialmente dos medos, e vejo quanto sofrimento foi a toa. Em nenhum momento, nestes 4 meses de Inglaterra, me senti realmente em outro pais. Talvez o problema seja dentro de mim - tenho serias indicacoes de que eh mesmo -, mas nao eh possivel que ninguem sinta essa decepcaozinha.

Perdoem-me a pieguice, mas realmente a globalizacao mudou tudo. Nada mais eh tao novo, tao diferente, tao exclusivo. Tudo eh uma mistura de tudo. Ta bom, eh interessante andar na rua e ouvir cinco linguas diferentes; olhar para qualquer lado e ver, na mesma direcao, uma loira platinada com uma saia de um palmo e oculos-escuros-gigantes-super-fashion-que-de-tao-fashion-viraram-carne-de-vaca; um ser androgino anorexico com roupas coladas no corpo, franja escondendo quase o rosto todo, olhos e unhas pintados de preto; mulheres cobertas dos pes a cabeca por burcas de todas as cores; um casal de velhinhos de 90 anos vestidos autenticamente como ciclistas profissionais e entrando num onibus, cada um segurando sua bicicleta dobravel e mais zilhoes de tipos - iguais e totalmente diferentes. Sim, eh gostoso de ver, eh ate colorido, mas quem disse que a gente nao tem isso em Sao Paulo, por exemplo? Gente de todo tipo, de toda cor, de toda nacionalidade?

Nao estou reclamando, e muito menos desdenhando a Inglaterra ou coisa que o valha. Soh estou aqui tentando descobrir o que, afinal, eu esperava encontrar. E ainda nao descobri. A sensacao eh de uma certa irritacao com quem imagina que vir pra ca eh algo assim, "incriiiiiivel". Talvez a irritacao seja comigo mesma, com as expectativas que eu criei antes de vir e que agora nem consigo mais lembrar quais eram (mas que sei que nao foram correspondidas a altura porque a unica coisa perceptivel eh essa frustracaozinha bem pequena, mas que fica viajando dentro de mim e me fazendo lembrar dela diariamente).

Nunca achei que nao iria ralar, que nao iria sofrer com o trabalho, que nao iria passar perrengue de grana. Isso definitivamente nao me surpreendeu. E embora eu reclame (do cansaco, da falta de grana, da dor nas costas e das maos horrorosas de pedreiro que eu adquiri com meu lovely emprego), encaro como algo quase indissociavel da experiencia de morar no exterior. Numa boa mesmo. Mas o tal sentimento de nao me sentir em um lugar novo eh exatamente relacionado a... sentimento. Estou ate hoje esperando sentir um "clique" e me dar conta, com uma certa emocao, de que estou em outro continente, beeem longe do meu pais. Deve ter dado algum problema na fiacao aqui dentro, porque se passaram 4 meses e o tal clique nao rolou.

Sera que eu se eu for viver com uma tribo aborigene ou com os monges no Tibet eu encontro o que estou procurando? Sera que o objetivo principal era mesmo aprender ingles ou no fundo eu queria mesmo era me sentir uma estranha num ambiente totalmente novo? Ah, acho que eu quero os dois, eh pedir demais?

Quero conhecer outra cultura, nao apenas leves diferencas entre um povo extrovertido e um contido; um que come, transforma e cria sabores por prazer e um que se contenta com refeicoes completamente insossas porque comem basicamente porque precisam do alimento pra sobreviver; entre um povo que bebe pra esquecer das mazelas da vida bandida que leva e um que bebe pra conseguir expressar os sentimentos e desejos porque eh reprimido quando sobrio.

Opa, perahi. Ate que nao eh tao desinteressante assim estar aqui... (mas juro que se tivesse menos brasileiros pelas ruas seria um pouco mais legal, desafiador. Ouvir portugues simplesmente todas as vezes que voce sai de casa eh algo assim... desanimador, eu diria).

Observacao sentimental sobre o trampo do asilo.

Ainda estou trabalhando naquela casa de repouso para velhinhos. Nao, na verdade nao eh uma casa, eh um condominio, cheio de otimos apartamentos habitados apenas por idosos. As vezes casais, mas geralmente velhinhos sozinhos. Nao apenas vivendo sozinhos, mas mergulhados numa profunda e triste solidao.

O ambiente eh dos melhores que trabalhei ate agora, a divisao do trabalho eh feita de forma tao organizada que eu nunca tenho que correr pra terminar em tempo, nunca tem algo realmente sujo a ponto de dar nojo, tudo corre na mais perfeita ordem. A realidade eh que, neste caso, o que faz a coisa funcionar eh o fato de ser um lugar para pessoas com boas condicoes financeiras.

Na Inglaterra essas casas para idosos sao a coisa mais comum do mundo, especialmente porque as familias nao costumam ficar com os velhinhos em casa, como no Brasil. Pra nos, sempre tem alguem que fica com a mae ou o pai em casa, cuidando, ate o fim da vida. Tudo bem que isso frequentemente da uma certa indisposicao entre os irmaos ou demais responsaveis pela pessoa, um jogo horrivel de empurra-empurra, mas no fim sempre tem alguem que cuida.

Aqui, da mesma forma que os pais praticamente expulsam os filhos de casa depois dos 18 anos (ou antes), ninguem fica cuidando de parente "veio". Mesmo que seja o pai ou a mae. Por isso, o servico de "care" (cuidar de idosos ou pessoas com deficiencia) eh muito, mas muito comum aqui (nao sei se na Europa toda ou soh na Inglaterra). O proprio governo tem agentes que vao visitar os velhinhos em casa para ver se ta tudo bem, fazer algo pra eles comerem, ajudar no banho, dar uma arrumada na casa, enfim, dar uma atencao mais do que basica e que os familiares geralmente nao dao. A Van, minha amiga, trabalha fazendo isso e ja pegou ate um senhor morto, em casa, abandonado. Se nao eh esse servico, o cara ia ficar la apodrecendo, porque ninguem da familia teve a bondade de ir visita-lo. Mas enfim, onde eu trabalho a coisa nao eh muito dramatica porque em questao de estrutura, os moradores tem do bom e do melhor. Eh como se fosse um hotel, refeicoes da melhor qualidade (vou falar disso em especial qualquer dia, nao consigo me conformar com a quantidade de comida jogada no lixo), tudo muito limpo, organizado, bem gostoso.

Ocorre que, alem de limpeza, nos fazemos um pouco de care tambem... nada que exija muita tecnica, porque nao tivemos treinamento e os velhinhos que moram la ainda sao capazes - teoricamente - de viver sozinhos. Vamos a casa deles, as vezes fazemos uma torradinha e um cha, as vezes arrumamos a cama, as vezes lavamos a louca, as vezes damos os remedios do dia, as vezes soh sentamos 15 minutos para conversar. Mas as vezes nao temos tempo pra conversar. E as vezes eles pedem pra gente ficar. As vezes eles convidam pra assistir televisao com eles. E TODAS AS VEZES que isso acontece meu coracao quase desaparece, de tao apertado. A cada dia que passa tenho saido de la diferente. Um dia com um no na garganta (isso quando nao choro dentro do elevador), um dia agradecendo a Deus pela minha vida e pela minha saude, um dia rindo sozinha me imaginando com 90 anos, um dia angustiada pensando na futura solidao que talvez nos aguarde, um dia com medo de quando a velhice chegar para os meus pais, um dia com medo de quando a velhice chegar para mim.

Mil coisas passam na cabeca, mas nao eh que seja ruim. Soh exige um certo equilibrio emocional, pra nao deixar esses pensamentos todos virarem tristeza. Mas no fim, de qualquer forma, eh muito bom. Bom pra dar valor pra vida, pra respeitar os outros e lembrar SEMPRE de que no fim nada importa, todo mundo vai envelhecer e precisar de alguem, bom pra exercitar a humildade, bom pra doar amor pra quem precisa (nem que seja 15 minutos).

Ja que eh pra encarar trabalhos dificeis, que sejam nobres pelo menos! =)

6 comentários:

Anônimo disse...

Que coisa boa de se ouvir, minha amada!! Te amo tanto..

eagora disse...

te amo...

e só...

Renato Barone disse...

feliz por vc!....
bjs

Má / Sóc's disse...

Nossa Júúúú........ reclamou da inspiração, mas ela veio que veio!!!!!!!
Fofa d+!!!!!!!
Só pra te contar:
eu, sua irmã, a Tada e a Iza saímos esses dias....... fomos tomar umas brejas..... por o papo em dia!!!!! Falamos de vc tb (só coisa boa)!!!! Foi só risada...... muito gostoso relembrar os velhos tempos!!!
Marcamos um churrascão em botuca, na casa da sua irmã, com toda a galerinha que a gente andava junto!!! Vai ser uma delícia!!!!
depois contamos tuuuuuuuudo pra vc.....
bjão e manda notícias sempre!!!!!

Mari disse...

Não acredito que já fazem mais de 4 meses que eu fui com vc comprar alicate.... nossa, o tempo voa mesmo, e vc aí falando dos velhinhos, me faz lembrar mais ainda que o tempo voa... e que temos que aproveitar.
To feliz de ver que tá tudo bem por aí, que seus dias estão coloridos, que vc está vencendo as batalhas, crescendo e amadurecendo!
Mas volta antes de ficar velhinha tá?
To morrendo de saudade!
Bjs, Mari Mazzei

Anônimo disse...

nossa, que delicia de post novo!
Flor, espero de coração que vc encontre sua razão de estar aí.
Amo-te
Ai credo, minha viagem não cega nuncaaaaa! eheheh
beijooos