A exatos 2 meses da minha partida rumo a uma aventura - com objetivos não tão aventureiros assim - pela Europa, começo aqui os registros de tudo o que envolve a empreitada.
Ainda não sei a quem escrever, e sequer decidi se vou “abrir ao público” estes escritos que, muitas vezes, podem deixar descobertas as minhas inseguranças, paranóias delirantes (típicas dessa taurina movida a emoção), crises de pânico, de ciúme, de fraqueza. Já sei de antemão que partindo dessa experiência específica, surgirão aqui relatos diversos que irão de praticidades e amenidades em geral (dicas úteis pra quem vai viajar, algo batido nesse universo virtual, mas que acaba sendo inevitável quando você decide escrever sobre tudo o que envolve o tal projeto) a desabafos emocionados ligados às crises da saudade, às novas descobertas, às paisagens estonteantes, aos desafios que a situação de estar sozinha pela primeira vez num outro país envolvem, enfim... uma miscelânea de informações e devaneios está por vir, e de certa forma estou feliz por isso. Independente do que eu vá encontrar pela frente, o novo estará quase sempre presente, e seja qual for meu estado de espírito, este é um combustível suficientemente capaz de gerar inspiração para eu preencher esse tão esperado “Diário de Bordo”. Que, aliás, está começando 60 dias antes de eu alçar o primeiro vôo.
A ansiedade já atingiu um grau tão intenso que o ato de escrever sobre ela talvez dê um certo alívio, pelo menos na dor de estômago ou na insônia. Há cerca de um mês todas as preocupações (referentes não apenas à viagem, mas a todas às mudanças e acontecimentos recentes da minha vida) desembocaram num surto de pânico or something que fez a minha terapeuta me encaminhar pra uma psiquiatra, a fim de avaliar a necessidade de entrar com uma medicação leve pra conter a crise. Fui à consulta, nem sabia direito como agir (afinal, psiquiatra quer ouvir você falar de sintomas físicos ou das pirações emocionais?), mas no fim o diagnóstico foi de um início de depressão (nada severo nem grave, mas que requer cuidados) e a recomendação foi a de tomar uma dose mínima de Paroxetina, que não é nenhum tarja preta, mas que basicamente serve pra refazer o processo de transmissão de serotonina entre os neurônios.... Mais ou menos assim: a carga de stress violenta pela qual eu estava passando fez com que essa transmissão da serotonina (que gera a nossa sensação de bem-estar) não funcionasse muito bem entre os neurônios... aí eu comecei a me sentir irremediavelmente triste, sem vontade de fazer nada, com uma agressividade quase incontrolável (se alguém me esbarrasse na rua ou viesse me dar bom dia no trabalho, a minha vontade era de responder com um murro muitíssimo bem dado exatamente no meio da cara da pessoa... cômico, se não fosse trágico), enfim... péssima. Comecei a tomar o remedinho e depois de 4 dias com uma dor de cabeça terrível, eis que tudo pareceu melhorar. Exatamente como a médica disse, as coisas tornaram-se mais claras, aquela tristeza profunda sumiu e deu lugar a algo como “normalidade”... nada de alegrias extasiantes, nada de serenidade que beira a apatia... apenas normalidade mesmo, ou seja: a tristeza até aparece de vez em quando, mas não parece mais que vai me matar, me sufocar ou me impedir de tomar decisões e coisas do tipo.
Depois de retomar o controle, então, não tinha mais como fugir: os preparativos para a viagem tinham que começar. Comecei a escrever no primeiro papel que aparecia o que quer que eu lembrasse com relação às providências a serem tomadas. A minha falta de organização já começou a mostrar suas conseqüências de ineficiência a partir daí: uma bagunça de anotações que só piorava a bagunça da minha própria cabeça. Mesmo assim, fui fazendo as coisas conforme eram possíveis: fechei contas no banco; comecei a fazer uma pasta-arquivo com todos os meus documentos que eu vou precisar pra viagem e os que eu vou ter que guardar aqui no Brasil; agendei médicos pra fazer um super check-up antes de ir; conversei com os meus chefes pra acertar a data que eu sairia da empresa (esse episódio merece uma atenção especial, depois eu conto como eu quase tive uma síncope nervosa de medo e como tudo rolou de forma surpreendentemente mais leve do que eu imaginei); comprei coisinhas de manicure pra aprender a fazer minha mão e meu pé sozinha, já que lá será tudo by myself; comecei a pensar (só pensar) na festinha de despedida dos meus amigos lindos; fui atrás de tirar o Cartão Cidadão pra poder sacar o Seguro-Desemprego e pagar as últimas continhas e ir embora totalmente livre de dívidas; comecei meus apelos por doações de roupas de frio e/ou qualquer acessório que seja útil pra mim lá fora e eu não tenho (e não tenho dinheiro pra comprar)...
Ai, tem mais um monte de coisa, mas começou a me dar desespero só de lembrar, então por hoje é o suficiente. Ainda tenho muito o que falar neste momento de “preparação”... porque no caso de eu publicar essas “viagens sobre a viagem”, tenho que pelo menos deixar as pessoas um pouco mais por dentro dos detalhes... preciso explicar pra onde exatamente eu estou indo, onde eu vou ficar, o que eu vou fazer, como eu tomei essa decisão e coisas do tipo.
Por último, preciso registrar aqui que de todas, todas as causas do meu medo da viagem, a maior delas é deixar aqui o meu amor, meu anjo, meu namorado lindo que eu amo de uma forma tão profunda e certa que parece que eu estou deixando uma parte – muito importante – de mim. Tenho muito o que falar sobre isso. Há zilhões de coisas passando na minha cabeça, a maioria ainda meio negativa, mas eu tomei a decisão de mudar isso com urgência. Onde já se viu, meu Deus, estou indo realizar um grande sonho e fazer algo que só vai me acrescentar, e parece mais que eu estou dando passos rumo ao matadouro. Chega, chega, chega. Agora o olhar é de expectativa, de borboletas no estômago (bem coloridas e alegres, e não mariposas cinzas), de muita CONFIANÇA EM DEUS e em mim. Tudo dará certo.