sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Desabafo


Eu nao sei se eu posso mais viver nesse mundo, na civilizaçao, eu nao sei.

Eu nao suporto as pessoas à minha volta. Acabo de começar um trabalho novo, é meu terceiro dia, e eu quero pular pela janela. Nao, nao tive NENHUM problema com as minhas funçoes até agora.

Mas logo que me apresentaram ao meu chefe, ele nao foi capaz de devolver meu sorriso. O aperto de mao dele era fraco, mole, quase tao flácido quanto a enorme barriga que lhe salta pra fora da calça. Pensei que ele poderia estar estressado aquele dia, mas hoje é o terceiro e, além de ele nao ter dirigjido a palavra a mim, o sorriso nunca apareceu, nem de longe, nem só com os olhos.

Aí o gordinho antipático me trouxe pra sala de trabalho, onde tem 4 mesas enormes, com cerca de 6 pessoas em cada, distribuídas 3 de cada lado da mesa com seus respectivos computadores.

Ele pediu atençao, deu uns recados pro pessoal, que me olhava como se eu fosse o ET de Varginha e, no final, mencionou rapidamente que eu era a nova menina que ia trabalhar no projeto de traduçao, mas que nao ia ficar muito tempo com eles. É que eu fui contratada pra ser comercial, mas como a pessoa que estava cuidando da traduçao do site (para portugues) tinha deixado o trabalho no meio do caminho, eles me colocaram à disposiçao desse departamento até que eu termine o tal projeto.

Logo em seguida, o amadinho do aperto de mao mole chamou uma menina e me levou com ela para uma sala de reuniao. Explicou que era pra ela me passar o trabalho, e me largou ali. Ela virou os olhinhos pra cima, obviamente sem precisar transformar sua expressao nas palavras "QUE SACO", e voltou pra sala. Me apontou, com a maior má vontade do mundo, um lugar pra eu sentar, e um computador. Sentei, ela voltou pra mesa dela, e eu fiquei ali, com uma cara de tonta, sem saber o que fazer. Depois de 10 minutos, tempo suficiente pra eu já estar quase me enfiando debaixo da mesa de tanto mal-estar, a queridinha veio até mim, abriu um programa, me explicou rapidamente o que eu tinha que fazer, e voltou pro lugar dela.

Com exceçao de um búlgaro que senta ao meu lado e que sorria o tempo todo e se esforçava ao máximo para interagir comigo (no segundo dia já chegou a me sufocar), e um inglês que ainda nao sabe falar espanhol e me acompanhou pra tomar um café, o restante nem sequer me dirigiu uma palavra, um olhar, nada.

Beleza. Eu to de TPM, e a vontade de sair correndo deve ser por isso.

O segundo dia já foi melhor, me sentei pra almoçar com todo mundo e me enfiei na conversa, com noçao, claro, mas sem assumir o papel de rejeitada recém-chegada. O búlgaro que me olha demasiado e o inglês que nao fala espanhol foram, de novo, os únicos que falaram comigo.

Mas hoje, o terceiro dia, já começou mal. O chefe rechonchudo da mao e barriga flácidas está mais antipático do que nunca. Além disso, ele tinha me dito, e a todos, no meio dos recados daquele momento em que me "apresentou", de que hoje entraríamos mais cedo, às 8 da manha (geralmente entramos às 9:30), para trabalharmos sem intervalo e sairmos às 15horas. Aqui na Espanha isso é normal às sextas-feiras. Chego eu, às 8 e pouquinho, quase vomitando meu pulmao pra fora, de tanto que corri, e dou de cara com a porta da empresa fechada. Toco o interfone uma vez, duas vezes, tres vezes, e nada. Olho as janelas lá em cima, tudo escuro. Me sinto uma completa idiota. Chego a pensar que era um trote para novatos. Vou ao bar da esquina, peço um suco de laranja, a vaca da mulher me cobra 2 euros por um copo que nao dava nem dois goles, tento ler umas linhas do meu livro, quase vomito de novo com a fumaça de cigarro dos indecentes que fumam na cara das pessoas dentro de um bar minúsculo às 8 da manha, saio do bar, e resolvo que prefiro esperar lá fora, no frio, do que me intoxicando ali a essa hora da manha.

Decido ligar para a central da empresa, que fica em outro prédio. Converso com a mulher do RH, que é uma querida (milagre), e conto o que aconteceu, que provavelmente eu estava enganada, mas que era muito estranho, porque eu tinha cer-te-za de ter entendido que entraríamos mais cedo. Sem desligar o telefone, ela também liga para o Jaime Palilo (acabo de me dar conta que meu chefe é a cara do gordinho do Carrossel), e de repente ele me aparece na porta do prédio, saindo por OUTRA porta, que eu NUNCA poderia imaginar que teria alguma conexao com a outra entrada. Me sinto com vergonha da minha idiotice e com um ódio mortal de ninguém ter tido o bom senso de me avisar que o prédio estaria fechado e eu teria que entrar pela puta que pariu.

Ainda subi as escadas tentando conversar, fazer algum comentário sobre o ocorrido e, novamente, o Jaiminho me ignora.

Aí tudo bem, já sao 11:42 da manha, eu tava trabalhando normalmente até agora, nao sem me lembrar a cada 5 minutos da hostilidade do ambiente, quando o loirinho polaco, ucraniano ou sei la o que, sentado bem na minha frente, começa a bufar.

Nao, nao dá. Eu tive que parar pra escrever, pra nao ter um colapso nervoso.

Eu nao SU-POR-TO gente bufando. Nao suportoooo, me revira o estomago. Tiiiive que escrever pra nao gritar "meu filhoooo, qual é seu probleeeeemaaa, porquê você nao fala, vai dar uma volta, chora, faz qualquer coisa no mundo, que nao seja bufar como um animal raivoso aqui na minha frente?????".

Pior é que era hora do café e estávamos praticamente só eu e ele na sala. Além de bufar a cada 30 segundos, ele estava dando porradas no teclado, batendo o pezinho freneticamente no chao, enfim, tendo uma crisesinha de nervos contida, mas infinitamente mais irritante do que um ataque súbito e violento de raiva.

Aï to aqui tentando me desestressar com meu textinho, quando chega a simpática do primeiro dia, a da viradinha dos olhos (que, aliás, descobri ser francesa), senta em seu lugar (exatamente em frente a mim), e adivinha o que ela faz, no exato segundo em que olha a tela do computador? Quem adivinhar ganha um prêmio!

Nao? Nada? Nenhuma sugestao?

Pois eu conto: ela, nao sem virar os olhos pra cima, tomou fôlego bem profundamente e soltou um:

PPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFF.

Sim, é isso mesmo que vocês entenderam: deu a maior bufada de todas as bufadas.

Melhor eu descer pra tomar um café.

5 comentários:

Rômulo disse...

ahahah!!! Ei Maria Júlia! Sai dessa, meo... ahahhah! Tô me divertindo muuuuito aqui com esse seu post! Já te falei que a gente vai montar um roteiro com esse blog aqui depois, né!?! By the way, o projeto que tinhamos conversado não virou oficialmente, mesmo, e eu até larguei a facul cara... ah! puta enrolação do caralh*!!! Mas tô de boa com isso acho que foi o mais decente da minha parte. Enfim, não deixe de postar aqui no blog. Eu adoro os seus textos e me sinto muito próximo, mesmo, de vc! Tô aqui, agora, imaginando as cenas que vc descreveu, principalmente a da porta... que comédia! Olha, torço sempre por vc, querida, e sinta sempre meu pensamento positivo para o seu sucesso!
Um super beijo e muito carinho!
ahahah e, por favor, tenha um surto aí pra destravar todo mundo ahaha! bjo bjo...

Ze Wilson disse...

Juju, trabalho é uma merda...se fosse divertido chamaria-se lazer!!!
Bjaum!

Laura Aidar disse...

hahahahahahahahahaha
aaaaah Juju!!...me desculpa rir da sua tragédia, mas é realmente muito engraçado!! eu nao acreidto que francesa peidou! hahaa...é fueda mesmo, né! Eu tava trampando de costureira explorada pra uma vizinha minha que só ficava falando do "marido" que na verdade é ex...
Vamos conversar minha amiga, sempre lembramos de vc, eu e a Lu..lembramos da sua risada e das suas pérolas! (maravilhosas!! rsrs)
Saiba que eu te amo muito mesmo e sempre entro aqui pra ver as novidades...nao pare!
.
beijos e abraços apertados

Unknown disse...

Minha querida, não desanime! E eu estava pensando que estas coisas só aconteciam comigo na França porque eu achava que era uma idiota... Mas já de cara deu para sacar que a moça dos olhos virados era uma francesa, elas são muito enjoadas! Cuidado, ela pode se transformar em poço e má vontade e grosserias, não deixa ela sentar em você!
Mas vá com vale que vale a pena! Depois eu te conto minha histórias, quem sabe trocando as situações de merda a gente não ri um pouco do que passou e do que está pr vir?!
Beijos amiga,
Estou sempre de olho em você!

Unknown disse...

Lugar pra trabalhar mesmo é a WEBTraffic e no Brasil!
Never give up! Keep walking!
Bjs,
Lucas Nunes.