quarta-feira, 27 de abril de 2011

Ivan em L.A. - dia 2

27 de abril. Segundo dia com meu amor longinho de mim. Não vou dizer "sem você" porque não estamos um sem o outro, pelo contrário.

Acabei de ver no site da American Airlines que vocês chegaram direitinho. Às 09:59, Terminal T4, portão 45, e estão pegando a bagagem na esteira 3. Tô te seguindo, não com os olhos, mas com o coração atento.

Vou sair agora, o friozinho continua, o dia tá cinza, mas gostoso, acabei de almoçar feijãozinho novo e quentinho com farofa e tomar um cafezinho bem forte. Agora vou encarar uma ida ao centro pra cuidar de burocracias dessa vida. Quanto mais coisa pra fazer, melhor, o tempo passa mais rápido.

Amanhã vou a São Paulo, mas hoje ainda tenho horas pela frente. O dia começou estranhíssimo, comigo sonhando sonhos apocalípticos muito, muito doidos. Foi assustador, mas curioso...

Estávamos em casa eu, minha irmã e mais algumas pessoas, amigas, entre elas a Luisa, dormindo aqui no quartinho que um dia foi do Matheus. Não havia presença masculina no sonho, engraçado, deve ser o fato de estar sem você... De repente começou a subir uma água pelo chão, como se fosse uma enchente que nós sabiámos que não ia parar de subir e subir, e também sabíamos que era sinal de que sim, o mundo estava meio que acabando, ou algo muito estranho e trágico estava acontecendo.

Minha única reação foi empilhar dois banquinhos ali fora pra tentar alcançar o telhado e, ali, começar uma tentativa de "bunker", mas no ponto mais alto que fosse possível. Corri pela casa, senti um desespero muto grande, a água ia subindo, eu abri os armários e peguei tudo o que havia de comida e coisas que nos poderiam ser úteis lá em cima, caso ficássemos ilhados ali... me lembro de sacos de pão de fôrma, me lembro de protetor solar (tinha uma sensação de que o sol seria mais forte que o normal depois daquela água toda, e teríamos problemas com as queimaduras), joguei também um tubo de pasta de dentes (quem precisaria de pasta de dentes numa situação dessas?), gritava pras meninas pegarem seus documentos e muitas outras coisas que agora já estão se esfumaçando na minha memória, mas me lembro de entrar correndo na casa, vasculhar tudo e ir atirando as coisas lá pra cima do telhado... Entrei no quarto pra chamar a Luisa, mas ela estava na cama, meio sonolenta e com um ar de resignação, julgando inútil todo o meu esforço e me pedindo, apenas com o olhar triste, que a deixasse ali, morrer em paz...

Saí lá fora outra vez, olhei para o céu escuro e agora com enormes flocos de neve, e vi aeronaves que eram uma mistura de helicópteros gigantes com zepelins, e eram claramente de empresas grandes e riquíssimas, me lembro de ter me dado conta instantaneamente de que boa parte do mundo já sabia da tragédia e que estes, que tinham condições de ao menos preparar uma tentativa de "auto-salvamento", já o haviam feito... e lá estavam eles, os donos do mundo, fugindo da enchente final com seus zepelins gigantes naquele céu escuro azulado com tristes e grossos flocos de neve do apocalipse... Eu ainda levantei os braços acenando por ajuda, em vão.

Meu último pensamento foi "preciso também de cobertores", corri pra dentro da casa e despertei, te procurando ao meu lado, na cama, pra contar o sonho bizarro. Eram 13horas. Dormi 10 horas seguidas e acordei inchada.

Agitada a primeira noite da incrível saga Julia-sem-Ivan, hein!


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